sábado, 31 de dezembro de 2011

Trinta de dezembro

A estrela mais alta do céu escuro,
um vaga-lume de esperança a vigiar-me
tal qual um olho do tempo
que registra cada momento que deixo passar na contramão.
E seguir uma estrada é não trilhar uma rota
é transformar uma chance remota em certeza
deixar o caminho brilhar com as luzes acesas
do coração.

Vinte e nove de dezembro

A estrela mais alta do céu escuro,
um vaga-lume de esperança a vigiar-me
tal qual um olho do tempo
que registra cada momento que deixo passar na contramão.
E seguir uma estrada é não trilhar uma rota
é transformar uma chance remota em certeza
deixar o caminho brilhar com as luzes acesas
do coração.

Vinte e oito de dezembro

De repente, os repentes se escondem
se transformam num agora que corre dentro de mim
e não é de sangue, nem de água
é chuva doce na janela.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vinte e sete de dezembro

A cor do dia estampou o sonho de quem dormia
e, ao acordar,
palavras dançavam no vai e vem do dia
na lua e no sol que surgia
dando um ao outro o seu lugar.
Avisto de perto um horizonte incandescente
que clama para eu ir em frente lhe encontrar
o futuro, que avisto sorridente,
deu-me de presente o prazer de recordar.

Vinte e seis de dezembro

No fim, restou-me apenas uma certeza
que brotava em mim como um botão de rosa:
- Amar rejuvenesce.

Vinte e cinco de dezembro

O meu amor se multiplica no berço da vida
o mundo balança e balança nós dois
e eu, aqui, do meu modo, meio sem jeito
dou o meu jeito de não deixar para depois.
Sinto que o tempo me faz mais jovem
dentro das horas eu vejo o quanto cresci
e o quanto deixei ruir.
Mas não me importa o cheiro que fica
a vida bonita se transfigura
a gente retrata do alto da nossa loucura
um mundo de cor e de luz.
E é assim que eu vejo o tempo
o tempero da vida que está para nascer
deixar para trás é ganhar e perder
e perder é ganhar mais de si.

Vinte e quatro de dezembro

Algumas certezas são poucas
meras incertezas perdidas
que não sabem muito da morte
e tampouco sabem da vida.
E há algo em que não se entende,
que não se sabe, mas se sente
dentro das noites e dos dias
Tu, menino luz,
ao nascer,
nos conduz,
estrela guia.

Vinte e três de dezembro

Anuncia, o céu, pela estrela mais bela
que a mãe de toda Terra carregava a paz consigo
e não tinha medo, apenas a inocente certeza
de que daria luz ao maior amigo.
E nascia dentro do mundo,
mas era coisa divina.
era fruto da força de uma mulher
e da bondade de uma menina.
E do Pai,
do filho
do ser que em nós habita
e que chamamos para uma eterna visita
particular.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Vinte e dois de dezembro

Não deixes morrer aquilo que teu corpo ainda abriga
aquilo que, à sua alma, ainda pertence
pois se já se desfez a noite
resplandecera o brilho do sol nascente.
E você verá - quão lindo é viver e deixar existir
porque muros foram feitos para ruir e reconstruir
sempre por nossas mãos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Vinte e um de dezembro

Um chance,
um grito que ecoa no espaço, no caminho
que faz-me escorregar nas incertezas do que já não sinto
e se sinto, e se já não sei,
Palavras cortantes
perdidas no tempo, no instante
distante demais da minha concepção.
Destinos opostos, um balançar de ombros
retiro dos escombros
minha solidão.

Vinte de dezembro

Enquanto meus pés corriam pela areia fria
meus olhos repousavam nas asas do céu
que se batiam para um novo fim de dia.
Da janela, via-me nas nuvens mais distantes
suspirando a todo instante
pela vida.
E guardo-me,
resguardo-me
doando-me à mim.

Dezenove de dezembro

Vou te deixando ir aos poucos,
como um pássaro no fim do verão
que busca um caminho longe desta minha prisão
dos meus olhos em chama, da minha voz que te chama
do meu peito que clama perdão.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Dezoito de dezembro

Se me permite uma palavra
dou-te o silêncio
e se me queres bem, fujo de ti
Sou menina que tem medo de escuro
flor que brotou na beirada do muro
sem percebê-lo ruir.

Dezessete de dezembro

Tenho um sonho
e ele navega num barco lento à vela
riscando o horizonte de futuro
vejo-o zarpar dentro de mim.
E tenho uma meta
perder-me enquanto respiro
sou apenas o que é o destino
um passo em falso no ar.

Dezesseis de dezembro

Calei-me, embora gritasse
bati asas, embora deitasse no chão
mantive segredo, embora morresse de medo
que ouvisses o meu coração.

Quinze de dezembro

Queria uma resposta doce,
um carinho ameno
uma capa, um casulo para proteger-me do sereno
das noites frias em teu peito.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Quatorze de dezembro

Deixa a primavera ruir,
deixa ver o primeiro ganho,
a primeira gota de orvalho
se extinguir
doce dança do verão que vem.
Meu amor bate na porta, e meu peito parece não abrir
Ai daquele que não se ferir
a vida é dor.

Treze de dezembro

Enquanto te faltam palavras,
sobram-me lágrimas
- fiéis testemunhas do meu discurso silencioso.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Doze de dezembro

Rios doces de sonhos sonhados
enfim revelados num sono velado
tua boca retrai o que teu peito invoca
tua vida, remota, clama pela minha.
Não deixes que acabe o dia
sem sentir o toque do vento
sem olhar e lembrar o que lembro
o que só espero esquecer.
Não há vida em que a sua na minha esbarre
não quero mais um detalhe
de mero prazer.

Onze de dezembro

O porquê de todas as coisas mora em seus olhos
e eu me reviro, na esperança de encontrar-te em dias melhores.
- Sirvo o sol na bandeja ao nascer do dia
faço tua lua dormir em meu corpo.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dez de dezembro

Acorda tarde, mal lembra o nome
dos lábios que ontem só quis beijar
entregou-se ao acaso de alguém
e não sabe quem
te cuidará.

Nove de dezembro

Na verdade, fico tonta só de pensar
que fui covarde, agora é tarde
para tentar.
Solidão, abraça e vem,
sem você sei ser alguém
me dê a mão, me diga "olá"
entregue a alma para eu guardar
dentro de mim.
Não sei aonde foi,
e se é que vai voltar
não vale nada a despedida
te amo hoje, estás de partida
para, em mim, se eternizar.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Oito de dezembro

Cantar é entoar a alma,
é dançar no espaço,
é ser e não ser o que não é.

Sete de dezembro

Vi meus sonhos a esbarrarem nos teus e não pedir licença.
Deste-me brecha para adentrar teu peito,
não tenha o desrespeito de me despejar.

Seis de dezembro

Tua vida é mera farsa
e tuas máscaras estão expostas para quem as quiser olhar
dói-te ser de verdade,
sentir o vento da tarde a te acarinhar.
Perdeu todo seu tempo à reclamar das flores
e a transitar pela gente e não reparar
Ah, o que seria de nós sem o perfume e toque
sem ter a quem amar?

Cinco de dezembro

Se desespera por lembrar
que teu esquecimento é pedra de gelo
que derrete-se, aos poucos,
no calor do tempo.
Escondeu centenas de lembranças embaixo do tapete
e teu amor, hoje, cheira à poeira
não há beijos na lareira, só teu passado de enfeite
a fitar meus olhos quando me deito
E, não por despeito,
nego-te até o fim.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Quatro de dezembro

Sinto o gosto do fim a recostar em minha boca,
a nuca fria, mãos trêmulas
os olhos dispersos já não vêem um palmo à frente
Tentei segurar-te pelas mãos,
te levei para dentro de mim
escondi-te dos meus medos
pus teu sono a olhar e velar.
Mas teus passos corriam depressa
não posso te segurar,
sei que já não me interessa
sair do lugar.

Três de dezembro

Teu comportamento oscila
tal qual o movimento das marés...
por que te martirizas, menina
por ser quem tu és?

domingo, 4 de dezembro de 2011

Dois de dezembro

Vou te contar,
os meus olhos sorriem
ao desembarcar nos lábios teus
que nenhum adeus pode fazer ruir
já não te verei partir
dos sonhos meus.

Primeiro de dezembro

Perdi um bocado de tempo contando meus passos
olhando retratos que finquei na parede
Com a luz acesa, não o vejo ao lado
só sinto um pedaço do que jamais foi...
O gosto amargo dá lugar ao insípido,
a esse nada sem fim que é a perda
um buraco escuro que jamais foi cavado
que não se sabe, ser raso, ou já não ter fim.
E lá se vai,
mais uma nota
mais uma folha em branco que eu ainda teimo em apagar
E lá se desmonta um quebra-cabeças
a ausência, às avessas
de reencontrar.

Trinta de novembro

Eu te daria mil vidas,
todos os meus séculos
a minha vã e eterna existência,
se tu me pedisses para ficar um minuto mais
junto da tua presença
e, quietos,
calados, os peitos disparam
com um flecha acesa
um amor sem represa
do tempo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vinte e nove de novembro

Como vou te lembrar,
se fizestes questão de apagar as palavras
que, ainda suaves,
cantavam dentro de mim a sua existência?
Qual o preço desta penitência
em te amar por quem tu não és
de te ver ao revés
de ser tua e não ser?
Meus olhos, perdidos vão pelo espaço,
do inteiro que fui, só restou-me um pedaço
chamado querer.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Vinte e oito de novembro

Vejo se pôr, o tempo,
que sereno e brando eleva suas mãos aos céus
num gesto fiel de despedida
de renascimento.
Embora eu não reconheça a dor das velhas feridas
ainda guardo a marca do que me invadiu
o sabor discreto que em mim habita
do amor que se perdeu, ruiu.
Nada mais nos importa nessa avenida
nessa estrada torta de desilusão
vejo teu nome a se apagar de minha vida
deixo um risco por cima da ingratidão.

Vinte e sete de novembro

O que será de mim quando sentir teu rio passar dentro de casa
levando embora as coisas as quais temi perder
e se já não sou teu alicerce, porque não procura esquecer?
O amor perdido é frio doce de inverno
e somos todos pagãos de um pecado eterno
de amar demais e, talvez,
jamais viver.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Vinte e seis de novembro

Uma tarde laranja e remota
ao avistar o céu de nuvens brandas
vejo o alçar da gaivota
- uma esperança que dança no vento.

Vinte e cinco de novembro

O quanto será que suporto
enquanto estas ondas teimam
em atingir as minhas pedras?
O quanto será que tolero
o frio gelado do inverno
em minhas mãos?

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vinte e quatro de novembro

Ser poeta de uma palavra só...
uma ingratidão dos livros
é provar que sonhar é maior
do que saber estar vivo.

Vinte e três de novembro

Foi bom te ver crescer, espelho meu
reflexo do que sou em sua mais pura essência
tuas mãos, buscam as minhas nas mais duras dores
e no melhor dos amores, avisto-te ao longe,
Teus olhos, guiaram os meus até onde eu estive
e sei que deste-me asas para que eu fosse livre
mas me vê ao sol nascer
e à noite que vive.

Vinte e dois de novembro

Quando uma canção sai das beiradas dos lábios
e a lágrima escorre da beirada dos olhos
sei que começa um novo dia
que vejo acordar mais um novo sonho...
Não vivo na busca de nada
ao lado de mim, uma calçada,
abriga um homem que chora no chão
tamanha sensibilidade que em mim habita
ensinou-me a nunca dizer não.

Vinte e um de novembro

Tenho um sonho que no peito lateja
que avista o horizonte azul e clama por asas
o dia, mistura de cores,
refaz os amores, reergue as casas
Sei que construo o meu ninho
por baixo de riso e de dor
por entre os meus sonhos, trilho o caminho
que me leva, sozinho, ao mais puro amor.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vinte de novembro

Tenho a sincera impressão de estar sendo demais,
de que a minha intensidade tem provocado abalos no chão
provocando meu próprio desequilíbrio ao caminhar,
ando pé com pé com a solidão
deixo meu destino seguir na contramão
até encontrar o meu lugar.

Dezenove de novembro

Não sei em qual olhar o seu se perdeu,
se repousou numa folha seca do chão, como um pingo de chuva
como quem descansa de uma grande queda,

não busco encontrar teu rastro por onde piso,
um dia sonhei-te eterno,
mas amanheci em mim mesma
vi que não me restou, ao menos, a certeza do que sai de minha voz

vou colhendo os frutos apodrecidos no chão,
tuas gotas caídas, meu sonho em vão
um eterno recomeço dentro de nós.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dezoito de novembro

Enquanto dois caminhos se igualam,
parecem ter pés ao lado de pés, seguindo o mesmo ritmo,
num passo incansável de ansiedade,
em ver os dias passarem como os pássaros no céu...
A gente se esconde em nossa casca, nossa casa
fazendo morada nos nossos desejos,
mergulhando em beijos,
saciando a fome e a sede com palavras doces.

Dezessete de novembro

Lágrimas são estrelas despencadas,
voz contida que escapole da garganta
num adeus tão sonoro
quanto à noite.

E quando já não há boa noite,
estrelas se penduram no céu da boca,
e a boca se fecha ao coração.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Dezesseis de novembro

Descubro, ao olhar para mim,
que meus pedaços coloridos enfeitam o céu
como um mosaico de sentimentos floridos
estampados num vasto vestido...
A primavera sorri.

- Ao longe,
por perto,
estou por todas as partes,
no céu encoberto
no vermelho de Marte
na cor do oceano desbotada nas nuvens...

E chove,
e eu me espalho,
o mundo vira colcha de retalhos
que costuro só.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Quinze de novembro

Deixe-me só esta noite,
há estrelas querendo me contar segredos
e eu, com meus olhos fixados no vazio brilhante
dispo-me de meus medos.
Como é bom ter mãe tão bela a olhar-me do céu
serena e fria, alva e constante
um olho sempre vivo à espiar-me.

Quatorze de novembro

Um disfarce bem montado,
olhos que fogem dos olhos,
retinas perdidas em mentiras corriqueiras,
e por pura besteira,
dois corpos partidos.

Treze de novembro

Se já não somos dois iguais nesta soma,
perdidos nas diferenças cruéis dos números que,
inúteis bailarinos no tempo,
dançam esta valsa de rotina sob o calendário
Já não adianta esquentar a comida fria e exposta,
ou sanar as dores que já desatinaram aflitas
só nos resta reescrever esta história,
refazendo a trajetória de nossas vidas.

Doze de novembro

Não te lembras do tempo
de quando andava com os ombros contra ao vento
brincando de correr atrás das borboletas,
que, incessantemente, fugiam dos teus olhos?

Dos olhos doces dos tão pequenos corações de prata,
todos adormecidos nas calçadas
buscando abrigo no sereno leve das manhãs?

Em que porta-retratos deixei-me aos poucos
rasguei o véu da inocência branca,
que me fazia pomba no ar?

Ah, hoje moro numa casa de madeira chamada lembrança,
pois a única coisa que me restou de criança
é saber sonhar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Onze de novembro

Você está comigo,
sinto na pele, no cheiro do rosto
no toque suave na borda das orelhas,
suaves borboletas a acariciar-me enquanto durmo,
E não há vida longe do teu mundo
longe dos teus sorrisos,
onde costumo repousar meus olhos
enquanto te vejo livre, preso à mim.
Viro uma curva adiante,
dou passos a um futuro distante
caminho no contrário do fim.

Dez de novembro

Permita-me uma última palavra,
um último som de um violão desafinado...
Meu doce pesadelo de hoje,
fora meu maior amor do passado.

Nove de novembro

Em algum momento
deparei-me com aquela imagem no espelho
imóvel, mas como se quisesse me dizer
as palavras que escondi por toda a vida,
Cresci junto aos dias,
minha pele entristecida, parecia saber o que se passava no tempo
a chuva que caía, o frio vento
a voz que emudecia por não mais saber viver.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Oito de novembro

Não digas mais que já não vem
se o sol se põe enquanto você conversa com as nuvens
você faz o dia mover-se, e espero ter-te
de novo.

Sete de novembro

Se já não há sorriso nos lábios,
eu desenho um guarda-chuva ao céu
esperando que caia os pingos de esperança,
E se eu ainda fosse criança
tomaria banho na chuva gelada,
deitaria-me no vento, sem pressa de nada,
a vigiar o tempo que dança.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Seis de novembro

Deixei-te descansar,
andorinha no vento,
página fria de calendário no tempo,
esperança morna, que não finda.

Cinco de novembro

O perfeito perde a cor,
desbota na parede,
descasca.
Ah, pequenos reparos,
incertezas já tão certas
de consequências.

Quatro de novembro

Vi dois barcos a perderem-se no horizonte
a curvar-se em minhas vistas, banhando-se no infinito
vi o que há de mais bonito, a namorar o sol,
que se punha aos poucos
como se espreguiçasse.
No mar dos teus olhos, vi-me chegar depressa
carregando comigo a alma leve que abriga
este meu corpo pesado do cansaço da vida
da oscilação das marés.
E por ser quem tu és, deste jeito,
mergulho em cada palavra
faço de tuas profundezas, a minha morada
encontro-me naufragada no teu peito.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Três de novembro

Enquanto o dia amanhece,
vejo-te pleno:
vagalume na escuridão dos meus olhos.

Dois de novembro

Não há motivo maior que o que sinto
de não poder te deixar ir embora com o vento forte
tu, que foste minha sorte, ou a falta dela
eu que, ainda valente, chorava de medo...
Amei-te em voz alta, gritei sem segredo
escancarei para o mundo as borboletas ingênuas que alimentei
e dentro de mim, floresceu um jardim
as margaridas mais belas não sabem que as arranquei.
E quando o perfume cessa, ora por acaso da vida
ora por dor que o atinge,
me vejo no ponto em que estive
só, com as estrelas.
E pela beleza que um dia tive,
teus olhos a despencarem dos meus
já não existe o dia, o sol que nos ardia
restou-me a companhia deste breu.

Primeiro de novembro

Ela tinha o sorriso fácil
um rosto branco, alegremente triste
uma voz feroz e baixa,
que, calada, me contava os segredos do mundo.
Em seu vestido, flores de cor púrpura
contraste perfeito com tua cor dos olhos
que, fechados, guiavam-me nos caminhos do tempo
Mas perdia em algum vento,
me sobrara esta vã memória
 - criança que chora em lamento.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Trinta e um de outubro

Quão bela tu és,
com teu vasto sorriso,
teus peitos, vestidos,
tua nudez de alma leve e escorregadia

tu que fazes nascer meu dia
escancaras tua alegria sobre minha sombra cinza
e não há escuridão onde habita tua face,
onde repousam teus olhos, não há neblina.

Era somente menina,
e eu, velho poeta,
desaprendi a escrever.

Trinta de outubro

Se há uma voz que nos cala,
ouça bem o que ela nos diz
e se já não o faço feliz
tampe bem os ouvidos,

meu riso escurecido pelo tempo
não te quer mais chorando
porque o amor que fora belo
hoje é tão pouco amor que tive

e se há de ser sozinho
leve a sensação de ser teu próprio caminho
e não esqueça-te de ser livre.

Vinte e nove de outubro

Já não há mais volta à minha volta
- pipas no céu, meninos de pés no chão
vento encobrindo as nuvens
gente dispersando a solidão...

Mas que belo dia de ausência.

Vinte e oito de outubro

Não olhe com teus olhos aflitos
observando as palavras frias as quais recito
meu poema pobre por tanto te amar,

não me obrigue a tirar a roupa
a esconder o sol para te ver voar

já não era hora de deixar morrer
um amor, que jaz ao chão, terminantemente inacabado

com o gosto de comida azeda,
com a boca seca...
envenenado.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Vinte e sete de outubro

Acabou,
- Como já era de se esperar
o teu espetáculo teve fim,
E na hora em que as cortinas resolveram se fechar,
não houve aplausos dentro de mim.

Vinte e seis de outubro

Já não consigo deixar-me ir embora
sem olhar para trás,
sem contar as minuciosas horas
que parecem recordar-me do que já não é mais.

Vinte e cinco de outubro

Teus olhos sorriam para mim,
imenso céu a se abrir
- sol quente, nuvens dispersas
após a chuva de outrora, que teimava em cair -
Aprendera a florir na dor.

Vinte e quatro de outubro

Tente não lamentar com os golpes,
mas rir das quedas,
embrenhar-se no chão
amando toda sua lama,

e embora haja tristeza hoje para o jantar
não te despeça mais cedo
não vá para a cama carregando o medo
de sonhar

e o teu segredo
infinito poço de incertezas
escondeu-te a beleza
de chorar

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Vinte e três de outubro

De fato, o sol não tem brilhado sobre o meu telhado,
Ah, mas que dia de chuva que não quer passar,
e seja em teus olhos, ou em meu corpo molhado
ainda me dói o pecado
de, ainda assim, te amar.

domingo, 23 de outubro de 2011

Vinte e dois de outubro

A saudade mora ao lado das estrelas
e é meu destino tê-las
é lá que dormem meus sonhos.

Vinte e um de outubro


Simples, sublime e doce como o vento,
O primeiro sonho que eu tenho ao acordar.
Leve e livre como o tempo,
Que por nós passa devagar.

De risos, beijos e palavras é feito o meu amor
Das tão curtas madrugadas dantes.
E toda certeza que o azul do céu deixou,
Não se compara à beleza de cada instante.

Porque ao seu lado eu descobri o bom do mundo.
O bom da vida.
O vôo livre.

Porque dentre tantos olhos
Há dois portos seguros,
Onde há a paz
Que eu nunca tive.

E dentro de um homem há um universo de mim.
Que vivo vivendo e lembrando
E trazendo pra si o que te deixa feliz,
E os sonhos que ando sonhando.

Que seja sempre,
 Sempre
E sempre.

E que no fim
Haja apenas uma vela pequena,
Dois pares de olhos
E a beleza que há em tudo.

E que não haja fim,
Nem que esse seja somente o começo
De um novo segundo.

Pois ao seu lado,
O tempo se mostra indiferente.
Porque é por dentro da gente,
Que se esconde o mundo.

Vinte de outubro

Se te perguntares um dia
onde foi parar o universo em constância:
- toda a paz dos minutos
o vento a bater nas janelas,
as crianças sorrindo e cantando um futuro distante
a lua e o sol a cantar nos instantes
adormecendo o dia e acordando as noites -
Entenda que, aos poucos, inverteu-se o mundo
tudo saiu de órbita, foi planar no acaso
e não é por descaso que deixo o vento bater na porta
que observo a flor que se entorta
sem me importar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Dezenove de outubro

Pois bem,
não há mais cor no velho vestido
calor no cobertor
a suavidade dos beijos que havia
deram lugar a agonia
desta singela amarga dor
Não vale a pena, meu bem
apagar as labaredas do fogo que nos restou
se na madrugada, a luz não está mais acesa,
as velas não estão mais na mesa
a velar o nosso amor.
Então, por qual motivo,
ainda guardo o velho vestido?
Por que passo as noites a sonhar
embaixo do cobertor frio?
É o acaso que me conta esta história
de guardar-te na memória
nesta infinitude de vazio.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Dezoito de outubro

Já não sei por quantas estradas deixei
os sorrisos, pedaços de mim, pelo chão
se já não sei de onde parti
para onde irei, e se é que vivi
já não busco respostas vazias para dentro de mim.
É que o tempo tratou de mudar o meu coração
que, sozinho, hoje toca a melodia de uma velha canção
que só eu sei.

Dezessete de outubro

O café está frio,
a mesa, posta,
formigas comem o que sobrou do pão.
Teu carro partiu há meia hora
não sobrou nem uma mera resposta
para acalmar meu coração.

Dezesseis de outubro

Parados, teus olhos no vagão se moviam
diziam adeus aos meus sem dizer uma palavra
o agora, e agora, essa tarde vazia
teu sonho partia
na plataforma calada.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Quinze de outubro

Não me deixe sangrar outra vez com tuas palavras cortantes
de ferro e de fogo,
recitadas em versos de mágoas
embalados pelo rompante frio das verdades
todas emaranhadas pelo seu egoísmo insosso.
Não me faça chorar, nem mais um instante,
as lágrimas foram as testemunhas mais verdadeiras que conheci,
só não me faça esperar por você de novo
pois, ao que me lembro,
eu já parti.

Quatorze de outubro

Distante demais,
os pássaros vão
a voz se distrai no vácuo
a solidão brinda à companhia da lua
E não há mais teu formato na parede
um borrão escuro, de curvas sinuosas,
nem ao menos o teu perfume de rosa
com tuas pétalas espalhadas pelo chão...
Doce menina, por onde caminha,
será que se sente sozinha pela multidão?
E, sentindo-se ausente,
onde é que escreve o presente
que vive a dar cor, dia após dia?
Saiba, nunca estive tão certo,
e mesmo longe, tão perto
de sua companhia.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Treze de outubro

O dia acordou com preguiça
e deixou escapar a flor cinza que brotava do chão
regado pelas lágrimas na avenida
tornando poeira qualquer multidão.
E não tenho gosto para redesenhar o meu choro
que um dia se apagou no mesmo chão,
nesse chão em que risco por cima
um céu sem neblina
aquilo que nasce da velha ruína
da destruição.
Mas não se vá ainda,
há uma flor de cor cinza
murchando em meu coração.

Doze de outubro

Eu só preciso de um espaço,
um maço de cigarros,
conhecer alguém que não sofra,
uma canção de palavras bonitas,
emboladas e embaladas nas rimas
que saem de sua boca.

Onze de outubro

A nuvem vinha pesada, onda gelada no céu
chovia dentro de mim como nunca
na sala cheia de paz, a garrafa vazia
na vitrola, velha melodia,
embalava o meu sonho tão frágil
E a quem recorrer quando não se sabe o caminho de volta
quando o que resta é a velha anedota
de que viver é tão fácil?

Dez de outubro

Ah, coração...
me avise quando quiser descansar
te porei no mar, 
tal como barquinho
e o vento se encarrega de te ver zarpar...
Vê se não esquece de olhar para o céu à noite
apontando as estrelinhas que um dia lhe dei
não se canse ainda, ainda é cedo
já não mantenho em segredo
que amei.

Nove de outubro

São tantas linhas, cordas bambas
e tenho tantos pés para equilibrar-se nelas
sou tão criança com medo do escuro
e o barulho da chuva me distrai,
E ninguém pode ver o quanto mudo,
que escondida em meu casulo,
pinto minhas cores com o tempo
que vem e vai.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Oito de outubro

Troquei um passo em falso por uma pegada ao longe
avistei o futuro que acenava com uma bandeira branca
- e era como uma ave,
uma pomba
uma esperança que dança alegre no horizonte dos sonhos.

Sete de outubro

Tempestade,
teu corpo covarde, calabouço de sentidos
que, embora contidos,
bate nas paredes quentes do teu peito vazio
tentando libertar-se de ti a cada segundo...
Entenda, o vento venta forte no corpo
mas tu não se pode abalar
e embora a tempestade recomece,
se fizer de ti a tua prece,
o teu sol retornará.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Seis de outubro

Distante demais da perfeição daquelas luzes
vi algo sobrevoar a imensidão azul do infinito
como se algo distinto
olhasse para mim,
 reconhecendo-me.
Antes que o brilho daqueles olhos me invadisse,
virei meu rosto para ver o sol dormir.
Recostando no horizonte, fez-se janela ao longe,
beirando a noite que haveria de surgir.
Tive a leve impressão de sentir um toque,
magistralmente, acordei em mim
quando tornei a sonhar, esbarrei nas flores,
nos doces amores que já vi partir.
Voltando o rosto ao seu lugar primeiro,
senti o travesseiro a me cobrir
Se te perco de vista, eu me solto da isca,
Não podes mais me distrair.

Cinco de outubro

Indiscreta, em linha reta
tua pose se desmanchava como o pôr do sol no horizonte
ah, e quantas vezes teria que repetir aquele poema salgado
com cheiro de água do mar?
Veja, meu bem, tenho os defeitos que você me deu
a minha lápide você lustrou até o ponto que pode
e eu morri de estar vivo, fui aclamado rei
para coroar teus labirintos de mentiras
Aos poucos, sobrou de nós mera neblina
canção que se perdia no tempo e no espaço
perdida, já não sei fazer-te rimas
e teu caminho não sou mais eu que traço.

Quatro de outubro

Escrevo-te uns versos sem rima
para que não se apague a luz do teu caminho
pois eu estou aqui ainda
mesmo sozinho.
Escrevo-te uns versos pequenos
para que se lembre do que não conseguimos ser
e talvez, um dia seremos,
mas hoje, acabou agora.
E já estava na hora,
O sol sumiu
A lua voltou
grande e alaranjada,
como se já não ocorresse mais nada
um dia peguei-me doando-a para ti,
Mas hoje 
ela é minha companhia.
E que amanheça o dia,
Para eu poder ver o cantar do pássaro
E poder ouvir os raios do sol
E sentir o azul do céu.
Há uma página em branco na nossa frente,
Onde não nos cabe mais amar.
Mas me bate uma saudade de repente
mas na lembrança ela vai morar.

Três de outubro

Não há mais certeza sobre aquilo que teus olhos teimam em ver
- gaivota ao longe, amor pingando no chão, caindo das nuvens
uma voz suavemente gritando que sonhos são gotas de chuva -
basta esticarmos as mãos para tocá-los.
De repente, você se encontra no meio das verdades inventadas
do chão da calçada molhada,
de sonhos e lágrimas caídas
De portas de entrada, de becos sem saída
aonde o riso faz-se dor e vice e versa.
Quando não há mais certezas ou sonhos pingados na mão
já não importando aquilo que não mais te interessa
a vida passa enquanto os olhos bambeiam
enquanto eu faço passeio
por quem não mais regressa.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dois de outubro

Os anjos falam pouco e olham baixo
só sabem dizer os seus nomes
têm os pés sujos e descalços, a boca seca
procuram entre o asfalto a fuga das suas almas presas.
Vivem da poeira, do pó, do vasto do tempo
da fuligem, do que restou de nós
à sós no sereno, um sereno amigo e conselheiro
um papelão de cama e travesseiro
a solidão como lençóis.
E teu pão amassado, pelos pés do diabo,
saltitam feito maná aos seus olhos famintos
os teus corpos, benditas muralhas
intransponíveis cárceres de sonhos...
E os anjos vagam, pedem, morrem no tempo
no cinza da fumaça dos carros
nas sombras dos prédios
no frio do vento.

Primeiro de outubro

Eu estava de frente para mim com as palavras
bem embora eu estivesse correndo delas
que, dispostas e sorridentes,
pareciam cegar-me de certezas.
Esperei o passado derreter como o sorvete na mesa
vendo ruir cada vã beirada, caindo ao chão o que havia
passei tanto tempo vasculhando os momentos, relembrando o tempo
e não notei que lá fora era dia.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Trinta de setembro

Quando a flor resolve murchar antes do tempo
cabe a nós repousá-la na palma das mãos
feito criança com medo,
amor que adoeceu por cuidar.
Já não sei para que deixei as migalhas no chão
se não há mais caminho de volta
há apenas uma tarde remota
que, no horizonte, não quer se pôr.
Tuas palavras soam fracas e distantes
um aceno de adeus que vem aos poucos
como imagens fotografadas por retinas estáticas
sentindo o ar inerente do fim.
Sinto-me um pouco menos viva,
catando sonhos pela vida
perdendo-me em cada migalha de mim.

Vinte e nove de setembro

De tão silencioso, nosso sonho gritou ao infinito
tinha sede de acontecer, como um filho na barriga do mundo
sendo gerado a cada instante pelo tempo.
Com seus erros discretos, aprendi a corrigir os meus
a embalar presentes e desabotoar as roupas
a cantar no vento e esperar que o som volte aos meus ouvidos
como pássaros no céu.
Destino amado, um traço cruel
de não saber onde pousar tuas asas de ferro
de não voltar para aquele que eu espero
de não ver a porta se abrir ao amanhecer
num dia preguiçoso que se encolhe.
Sonhado amor, um brado ecoado
teu gosto, que fora o meu pecado
hoje é veneno que me escorre.

Vinte e oito de setembro

Enquanto a tarde se acomoda no dia
o sol parece espreguiçar-se no horizonte
trazendo a calmaria que antecede as noites claras
banhadas pela luz dos olhos teus
Tão belos, fontes lacrimejantes,
jorrando pelos instantes a dor do que se perdeu
no mormaço amargo, no retrato da estante
a voz amaciada pelo sonho teu
Que é te lembrar, mesmo errante
que pela luz de qualquer estrela brilhante
que é rouquidão de um breve adeus.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vinte e seis de setembro

Já não tão longe, ouço teus passos ao cruzar a sala
a rodear o lustre, a lustrar o chão com seus sapatos escuros
a devolver-me o mundo roubado
a sapatear no meu telhado de vidro.
Você já se sentiu sozinho enquanto procurava abrigo?
E teu corpo, já levitou ao ar para te ver de cima?
Eu, um devaneio atrás do outro, a saudade do velho gosto
ao imaginar que o teu rosto vagava em minha sala vazia.
Eu, um maremoto de sentidos,
um velho porto, um sonho antigo
a minha própria companhia.

Vinte e cinco de setembro

O menino fazia poesias sentado na sacada da janela
beijava a lua, pensava nela
olhava as estrelas e apontava o dedo indicador
- Aprendera a amar com a noite.

Vinte e quatro de setembro

Além dos teus atos,
bem acima de sua consciência cinzenta,
eu guardei um álbum de retratos
na gaveta empoeirada pelo tempo.
- Sem ressentimento, dizia
No apartamento, a luz luzia
pela brecha dos teus olhos, eu via o dia
lamparina gigante e amarela no céu -
O sol, aos poucos teu contorno esculpia
e meus olhos, atentos te cercavam sem pudor
nesta dança de saudade, minha vida emudecia
perdia o passo, não noto mais a melodia
de cantar-te meu amor.

Vinte e três de setembro

O problema não é sopro da sua boca
nem o peso das suas palavras,
meras bailarinas no ar,
vítima dos teus lábios cruéis.
O problema, de fato, é o que tu és
com essas tuas mãos vazias
o peito inundado de mágoa
a garganta mofada, sorriso costurado
o peso do teu fardo de ser.
E por ser quem és, atravesso do outro lado da rua
rezando para que não notes mais o meu caminhar
Eu, que faz tempo, não sou sua
tu que continuas
a me assombrar.

Vinte e dois de setembro

Eu te espero ir embora, deixo as chaves sobre a mesa fria e torta
tuas lágrimas correndo, feito rio no rosto, dizem-me adeus
E já não me faz falta ver tua alma, quase morta,
já não sei rezar para o teu deus.

Vinte e um de setembro

Manhã quente, de quente sorriso
te pinto ao olhar o infinito de um horizonte pelo vidro gelado
teus olhos, ainda parados, fitavam-me em segredo
e eu tive medo de congelar-me neles.
Peguei carona na sua névoa colorida
entreguei-te minha vida,
amuleto do acaso.
Me fiz em milhões de pedaços e esperei que tu montasse-me
como um mosaico de luz
um anjo de neve num verão cortante.
Teus olhos, ah... Eles apenas falavam
aquilo que minha boca conseguia ver esbarrar na sua
que nossas almas, leves como um canto, voavam
que nossos sonhos amavam nossa vida tão nua.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vinte de setembro

Deixei-te partir, gaivota no vento
relógio no tempo
um tic-tac sem fim
dentro do peito
- Uma bomba,
um sujeito
uma história mal escrita, com palavras borradas
É o preço que pago pela despedida
de te olhar ir embora, mesmo sem saída
ainda que com as portas fechadas.

Dezenove de setembro

Com a porta ainda entreaberta, por conta de um vento passageiro
lembrei-me do velho janeiro, dos anos que cortaram o fio da vida
abrindo cada uma de minhas feridas
cutucando-as com meus próprios sentidos
tornei-me um pouco mais disperço, um pouco menos vivo
chamei-te para esta dança sem, ao menos, saber dançar
e te pego nos braços, te giro e balanço
e de te amar, eu não canso,
não sei desenhar o nosso final.
Os anos, ah... Tão pequenos pedaços de nada
você e eu nesta estrada
Recomençando a mesma caminhada
pelo mesmo ideal.

Dezoito de setembro

De repente, o sol dourado acinzentou-se no céu
que, ainda claro, parecia dizer que sentia sono
querendo ver a lua niná-lo
enquanto contava estrelas
Sinto falta de vê-las, é verdade
ando carregando muito mais que bagagens
são sonhos pesados, feitos de penas
são amuletos roubados
pedrinhas nos telhados
solitário poema.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dezessete de setembro

Te esperei em cada esquina onde estive,
por cada passo incrédulo que dei
na esperança de te esbarrar ao acaso,
num descaso, não sei onde foram parar teus pés
Ao invés de regressar de longe, mandou-me cartas
pequenos pedaços de sonhos famintos,
arrebatados pela saudade que sinto
embalado pelo tempo cruel.
Ao julgar o pouco que sinto
deparei-me com o que há de mais bonito:
teus olhos refletidos no céu.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Dezessete de setembro

Enquanto teu riso se esconde na boca, te quero bem
e quando ele resolve se abrir, como flor,
uma flor brota em minha boca
a menina sã, embora louca
ensinou-me a curar minha dor.

Dezesseis de setembro

Quis escrever um poema pequeno numa tarde enorme
o sol que se punha, preguiçoso, pelas lacunas das persianas
deixava o rastro de vida a espalhar-me no tempo
a abrigar o vento pela noite que dava luz às estrelas
Pus no poema um punhado de dor que estanquei de mim
como uma fruta arrancada do pé
ainda verde, mas sem cor
Pus no meu sonho um pouco menos de fim
deixei escapar o que já não é mais assim
aprendi que se rega o amor.

Quinze de setembro

Tem faltado água no feijão
pinga no balcão
samba no quintal
teu amor agridoce, adoçou
deixando parte do amor
no que antes fora sal
Não vê, morena,
que toda canção tem sua voz
todo seu corpo é um poema
que eu só faço venerar?
Não posso esperar o carnaval,
ainda é setembro, não me leve a mal
a vida pede para eu dançar.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Quatorze de setembro

Tua vida, um rio cortando a minha
manancial de esperança e de luz
envolvendo-me em parte
levando-me ao ápice
de mim.
E chovia - dentro de nós
banhados, estávamos ao ver tamanha alegria,
inundado pelo sonho no qual eu adormecia
no qual eu despertava a cada segundo.
Tua vida, um enorme vale entre minhas mentiras,
onde fui que construi minhas ruínas?
Quem foi que acordou-me pro mundo?

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Treze de setembro

Deslizo, teus olhos me fitam
tua boca se abre, nada diz
pois quando me olha
enquanto eu durmo
sonhando, assumo,
me sinto feliz.

Doze de setembro

Enquanto houver tempo para nós
mesmo que num mero segundo
direi-te sempre as mesmas coisas
as mesmas palavras
darei-te o mundo
O beijo guardado na caixa azul
nosso corpo nu
a lembrança de cor cintilante
Discretos casos no silêncio da noite
calaram nossas vozes de puro pecado
insensatos, apenas amantes
amando nas noites
por todos os lados.

Onze de setembro

Caídas ao chão
lágrimas irreversíveis
de quem não sabe se vive
ou se sente a dor de quem partiu.
Hoje, sentada no mesmo lugar que anos antes,
pego-me pensando no instante
em que a humanidade ruíu.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Dez de setembro

Minha boca anda bem perto do peito ultimamente
com a saliva excassa, os sentimentos vazando
com o coração gritando
o que não não se pode dizer
Uma grande mescla de sentidos
por um momento, estar vivo,
me tem dado um pouco de sono demais.
E o que dizer deste rapaz que me tira o sono
que, feito rei sem trono,
parece em meu peito mandar?
Onde foi que deixei a idéia de que não tenho dono
para amargar o desespero
de ter a quem amar?

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Nove de setembro

Respiro. Como se alguém fosse notar minha caixa torácica indo e voltando. A verdade é que minha respiração, que já foi peristáltica, agora não é mais; ando fazendo força para me manter vivo. Desde então.
Da última vez que a vi, ela tinha tintura vermelha na ponta dos cabelos. Cheia de mentiras na língua. – Eu ainda te amo –. Ah, faça-me um favor... Fecha a porta e a matraca.
Acendi meu último cigarro. O relógio marcava 27ºC. Eu disse relógio? Odeio o tempo.
Meu tênis gasto nos bicos, de tanto chutar pedrinhas, as mesmas que meu pai sempre pedia para eu ignorar – você só tem esse tênis, não chute estas pedras do chão, moleque! – Ah, sinto falta dele, do hálito de cigarro, de me ensinar a ver a calcinha das meninas embaixo da escada, de dar seus remédios para o coração. Também sinto falta da mãe. Do modo carinhoso como ela me batia quando eu me metia em conversa de adulto. Ela nem sabe, mas hoje eu prefiro conversar com crianças.
O calendário marcava o dia nove de setembro. Há quatro dias eu estava sozinho. Talvez, por volta de 30 anos. Mais precisamente, 32.
Da última vez que eu ofereci um cigarro a ela, recebi um olhar reprovador – ela estava evitando. Me evitando. Há 6 dias. Fomos dormir com a janela entreaberta, com a cortina cor de vinho, estática. Não ventava naquela noite. Havia um furacão nas minhas ideias.
Aquela foi a última vez que acordei. Naquele dia, às 18:45, um táxi buzinou na minha porta, e o motorista veio buscá-la e ajudou a carregar as malas. As malas que eu mesmo ajudei a fazer, segundo ela. Eu nunca tive culpa de porra de nada, mas ela cuspia mágoas; eu mergulhava em cada uma delas, me remexia naquela coisa densa, feito lama, feito areia movediça. Ela, nem ao menos, me dava a mão. Pelo contrário, ficava num canto calada, posando por cima de toda a sua superioridade feminina-psicológica-terapêutica-moderna. Sua mente era um grande livro de autoajuda. – Para de fumar. Por que você não liga pros seus pais? Largou mais um trabalho? Isso é só um jogo de futebol... – Ela era odiável às vezes. Eu a amava completamente. Sabe quando eu percebi isso? Há quatro dias.
Desde então, não durmo. Não ouço Engenheiros do Hawaii. Não levanto a tábua da privada e nem lavo as mãos. Não vejo Two and a Half man. Passei a odiar os clipes da MTV. Não leio a parte de economia do jornal. Nem compro mais jornal. Não tomo mais suco no jantar. Não aponto as estrelas no céu, entre o vão da cortina cor de vinho. Não vou ao cinema. Não escrevo poemas enquanto deveria estar projetando casas. Não canto no chuveiro. Não uso aquele perfume que tem cheiro de chuva. Ah, você nem sabe o quanto tem chovido aqui dentro de mim, o quanto eu tento secar a cada segundo. Ao lado, vejo uma grande inundação, um dilúvio, uma grande tempestade de vida nova. E que porra de vida é essa? – Eu to bem – decorei essa frase. Nunca a usei tanto. Nunca soube de tanta gente se importando comigo, feito moscas por cima dos restos de comida na mesa. Melhor dizendo, dos farelos no chão, pisoteados. – Eu to bem – e por dentro uma retórica parecia querer se externar; tomava um soco na cara e voltava a dormir dentro de mim. Maldita sinceridade, quando, na verdade, eu precisava parecer estar bem.
Ensaiei o sorriso no espelho. O discurso de bem resolvido. Fiz a barba.
Desde então, me tornei um homem de um conto qualquer, contado por qualquer escritora jovem, cheia de ideias. Um homem ator, uma vida de mentira. Uma falsa comédia. Trágica.
Ela tinha tinta vermelha na ponta dos cabelos. Era uma ex revolucionária, que encareteou com o tempo. Já não fumava ou bebia. Já não ria das minhas histórias da época de conselho estudantil. As coisas foram perdendo a cor, e eu corria atrás delas com um pincel enorme. Mas a tinta era preta. Eu estava estragando tudo.
Desde então, não gosto das cores. Saio todos os dias vestindo cáqui ou bege e, não sei bem o motivo, isso faz eu me sentir um pouco mais da multidão. Um camaleão no meio da sujeira, da correria, da massa infértil, dos sinais vermelhos e das buzinas; de toda a falta de amor das ruas. Já não acredito em amor. Não acredito em mim, nem nela. Só tenho acreditado nas mentiras que ensaiei no espelho – Eu to bem – ninguém discordava.
Ando escrevendo cartas e fazendo menos projetos de casas. Endereço-te todas elas, só estou esperando você vir buscá-las na minha gaveta de cabeceira. Todas tem nosso amor descrito. Meu ódio descrito. Meu arrependimento gritando. Meus ensaios decorados. Minha voz te clamando pra voltar. A senha do meu cartão de crédito. O número dos teus sapatos. Tua mexa de cabelo vermelho, desbotada. Tuas pulseiras douradas. Tua paciência que eu desperdicei. Ah, como eu queria saber teu endereço, teu número de celular. Queria saber se você está bem, se tem tomado tuas pílulas de açúcar, se ainda tem medo de andar de metrô. Queria saber se sua voz ainda falha de manhã, se você ainda espirra ao olhar para o sol. Daria tudo para saber se você ainda quer ter filhos. Queria te dizer que eles sempre estiveram nos meus planos. Você não sabe, mas acabo de fumar meu último cigarro e perdi as contas de quantas vezes respirei. Andei contando as respirações, tive um pouco de dificuldade no começo, mas não resolvi parar por isso. Resolvi que vou viver, por mais que isso signifique te ver em cada esquina, te procurar nas curvas de outras mulheres. Te ver comentando sobre economia enquanto lê o jornal. Te ver ligando a TV nos clipes da MTV apenas para zombar deles. De te lembrar rindo de Two and a Half man e de me implorar para irmos ao cinema. De fazer o melhor suco no jantar. De te ajudar a escolher as estrelas mais bonitas. De te ouvir xingar ao ver a tábua da privada abaixada. De te ouvir rindo de mim enquanto eu cantava no chuveiro. Lembrar-te da sua reação ao sentir meu perfume, dizendo sempre que ele te lembrava o cheiro da chuva. Vou catar estas migalhas com o tempo. Vou desatar este nó entre passado e presente. Mas, por que diabos eu só consigo lembrar de mim nas coisas que havia você? Por enquanto o peito vai e volta. Se vai a fumaça da minha última tragada, no meu último cigarro.
É – eu to bem.

Oito de setembro

Cada dia que vem reclinado na noite
Desce pelas hastes das estrelas com sua imensidão de luzes.
Deixa amargar no céu da boca ainda úmido
O gosto da saudade de ontem.

Forte como o aço do teu esquecimento involuntário,
Frio como os cálculos matemáticos de um amor analfabeto
Deixaste aqui, no peito, calado
O beijo molhado em pleno deserto.

Mas me deixa enquanto eu posso andar
Porque meus pés já não respondem em qualquer trajeto.
Incerto, meu olhar vaga pelo dia que desce
Ainda que inerte.

Mas me deixa enquanto eu ainda posso chorar
Porque meu trajeto já não cansa os meus pés
Certamente, a minha vida aqui começa
Ainda que seja ao revés.

Sete de setembro

Nas tuas mãos, encontrei os caminhos mais complicados
tua linha de destino a cruzer-se com a minha
Eu, que fui poeta de alma vazada, boca calada, sorriso de lado
encontrei em cada palma um telhado, minha fiel companhia.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Seis de setembro

Teu mundo, embalado de fita dourada,
com o pé direito apontando pra estrada
com a boca no peito dizendo o que sente
Meus passos, abertos e condizentes
cantam-te o tempo, que pinta a vida com seu ardiloso pincel
no instante, no tempo, nos dias
faço sombra, sou sol do dia
sou lágrima que jorra do céu.

Cinco de setembro

Esqueça
se uma lágrima fria te pedir companhia durante a noite
e se ela cair sobre teus cabelos castanhos, pesados nos ombros
como um pedaço de estrela sobre o chão do mundo
Se, por um momento, teu lamento encobrir o dia
e banhar-te da luz de sua melancolia
olhe a tristeza nos olhos, tire-a para esta dança
- essa noite que não cessa
teu amor que não regressa -
Nunca fomos tão crianças.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Quatro de setembro

Triste, teu olho atento vaga no escuro
no vão que deixei das palavras que não disse
e se o nosso pobre sentimento já não existe
ensinei-o a pedir esmola do tempo.
E o que nos resta? Sentar nesta calçada suja de rotina
amargar a matinal e cruel neblina
a esbarrar com nosso sono profundo
Pois nem tudo que morre desaparece do mundo
como magia, pó de sumiço
como se não bastasse a tua ausência em noites frias
tenho que conviver com tua ausente companhia
em cada parte de ar que respiro.
Tua memória enlaçou-se a minha
e mesmo hoje, sentada no chão, sem companhia
pela tua lembrança é que vivo.

Três de setembro

Perdoe-me esta falta de gentileza
é que o prato está sobre a mesa
e a sopa ficou fria;
já não adianta fechar as janelas
espantar as moscas 
arrumar companhia.
O dia, que desce de novo, resgata o repouso 
que deixei de buscar
o tempero, amargo no gosto
o sabor mais insosso 
de não ter quem amar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Dois de setembro

Todo dia, debruçada no batente da minha janela, ainda embaçada pelo sereno frio que caía daquela imensa escuridão azul-marinho, via subindo lentamente, como se estivesse exibindo-se para mim, que a fotografava com minhas retinas: tão formosa lua. Todo dia.
Depois de estar cansada – não é bem essa a palavra, mas não vejo outra saída – de olhar as estrelas frias e prateadas – não é bem essa a cor exata delas, mas não vejo outra mais precisa – eu pegava meu pequeno bloco de folhas e começava a escrever. Não sem antes reler tudo aquilo quanto eu já houvesse escrito anteriormente, em noites como essa, com suas sutis diferenças climáticas e de humor.
Ácida, sabor limão. Torta de limão. Com uma bela camada de calda doce escorrendo pelas beiradas. Eu, todas essas fatias cortadas imperfeitamente. Devoradas pelo tempo.
Não sei mais onde foi que perdi parte da minha inocência jovial, aquela coisa irritante de andar equilibrando-me no meio fio e de acreditar nas pessoas. Boa parte do meu azedume se deve aos tombos nas calçadas e as rasteiras que tomei de línguas mentirosas.
É bom cair em mentiras. Uma pena eu ter descoberto isso um pouco depois de perder meus olhos no céu em tantas noites como essa, procurando as verdades voando entre as estrelas. Mentiras são como cometas. Deixam rastros, mas passam – depressa.
Aos poucos, fui aprendendo esses detalhes da vida. O modo carinhoso como os dias voam, despenteando nossos cabelos e sacudindo nossos passos. Ah, nossos pés flutuantes, um grande exército de soldados que não sabem para onde marcham. Nem pelo o quê.
Senti. Senti cada gota de todos os sentimentos que transbordam pelo mundo. Uma merda. Uma delícia. Ah, que amor arrebatador que vem banhado de ódio extremo, de querer apertar o coração com as mãos e mandá-lo deixar de ser de outro, afinal, ele está dentro do meu corpo, é meu este coração – retire-se dele.  Ao mesmo tempo é tentador guardar pessoas em si. Nesse sentido, acredito que eu seja um pouco egoísta. Me dá, me dá, me dá. Não vá. Por que as pessoas cismam em ir? Eu teimo em não sentir a falta delas.
Aquelas que ficam, nem sempre ficam. Ou não ficam do jeito que queríamos. Ah, não sei muito bem expressar em palavras isso que sinto. A frase ficou horrível. “Aquelas que ficam”, as pessoas em nossas vidas. “... nem sempre ficam” mudam. Reformulando, então: As pessoas em nossas vidas mudam. Uma merda. Uma delícia. Ah, o amor-ex-amor-amor perdido- amor – amor- ex amor- amor. As coisas giram em ciclos. As pessoas no meio de tudo. Nossas vidas no meio dos ciclos e de tudo e das pessoas. Eu fico tentando me agarrar nos eixos com o que me sobra de ingenuidade. Tratando as pessoas como objetos de decoração da minha mobília, como se eu pudesse pô-las onde eu bem entendesse, tirando a poeira da monotonia, da rotina em que estamos condicionados. Na mesmice de ser. E mais uma pessoa se vai. E isso não se parece com um objeto roubado, um castiçal derrubado no chão. É algo bem mais complexo. E simples.
Restava-me um punhado bem grande de sono e um bloco de folhas riscado. Cheio de palavras, rabiscos da mente. O vento carregava as cortinas brancas para trás de mim, que continuava olhando as estrelas vendo o tempo passar. Era hora de dar vida àquelas letras.
A gente vive dando vida às coisas. As coisas nos fazem vivos. As estrelas estavam vivas nos meus olhos, bem como o breu da noite. Era óbvio, fatídico, eu dava vida à vida. Ah, e tem tanta gente fazendo a vida morrer, fechando os olhos, apertando-os contra os dedos, como crianças com medo do escuro. Let it be, ele já dizia. Então deixa.
Como um dança sem ritmo, as palavras foram saltando dos meus dedos e colorindo as linhas da folha. Meu coração inundado, transbordava em cada palavra o que eu sou. O que já não sou, por conta de tudo que gira. Dentro de mim, havia bem mais que um poema quente em uma noite fria. Eu tinha um mundo vivo, cantando. Estrelas geladas penduradas com um fio translúcido, agarradas pelas mãos de Deus. Olhos negros me fitavam, e era a noite, que me dava vida, bem como eu fazia com as palavras. Uma imensa troca de mães, um grande berço de existência.
 Já não sei exatamente quantas noites se passaram e quanto já escrevi. Minhas mãos continuam tentando se agarrar aos eixos do tempo, inutilmente incansáveis. Mas não me deram escolha, eu fui feita de instantes e eternidade. Como um rio que corre sempre ao mar, um amor que morre sem nunca, ao menos, acabar.  
São dessas coisas que eu não sei. É sobre elas que eu escrevo.

Primeiro de setembro

Vestiu-se calada com as estrelas da noite,
Saiu sem dizer uma palavra e foi dançar com o vento
Esbarrando de olhar em olhar
Sem poder adentrar
num pensamento.
Rodando de mesa em mesa à procura
De algo que talvez nada simbolizasse
Foi esbarrando de cadeira em cadeira
Sem que ninguém a notasse.
E, de repente, talvez num repente assim
Tornou-se nota da música que tocava ao fundo
Sentou-se num canto qualquer, olhando pra dentro de si
Avistou o mundo.

Trinta e um de agosto

Tu que andavas perdida
com teus cabelos soltos, teus olhos presos no espaço
Eu que te contei segredos insossos,
de carne e osso
me desfaço.
Colhia teus beijos e separava-os do joio
prendi-me no teu corpo e me deixei sumir
Tu que me encontraste perdido aos prantos,
hoje no teu encanto eu vou dormir.
E eu se puder te tocar, deixa-me ver você de longe
já que nesta vida nada irá me faltar,
mesmo que de mãos vazias,
ter você nas noites.
Como um belo raio de luz a cortar
para na vida eu sonhar
e lembrar-me de quem foste.

Trinta de agosto

Dois olhos perdidos no céu me avistavam
da janela mais alta, do prédio mais alto
com voz doce e cor de tranquilidade.
Sua liberdade fazia-me invejá-la a cada segundo
dentro de seu bater de asas, escondia-se o mundo
que, tão ágil quanto sua queda livre, mudava repentinamente.
Pintura crua, vida,
dentro desta paisagem remota
colorindo o céu cinzento de sereno
esta, tão humana, gaivota.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vinte e nove de agosto

- De qualquer forma, vou deixar por aqui os meus sonhos -
disse a menina branca sentada no chão,
cançada de compôr a mesma canção
foi dançar com o vento e não voltou.
Sofreu por amor, chorou
guardou-o dentro de uma caixa escura com furinhos
que pulsava baixo e roncava
expelindo saudades.
Pegou a primeira carona na estrada das ilusões
foi parar dentro de si mesma
que, embora vazia,
parecia transbordar.
Ela, que fora mulher de sorrisos,
fugiu do seu cruel paraíso
de sonhar.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Vinte e oito de agosto

Fria noite, teus braços tremiam
enrolados pela cortina de frio, velávamos o sereno caindo
como dois anjos com asas partidas
costurando a vida
com este amor, pelo ar, diluído.
De onde parti - neste mundo pequeno -
e se não está aqui, tão breve veneno
Me mato aos poucos
a digerir a distância.

Vinte e sete de agosto

De fato, deixei-o de lado por puro prazer
de vê-lo juntar poeira na estante
como um retrato antigo,
parte inútil da mobília.
Triste o dia em que deixou para trás suas migalhas
as mesmas que não te fariam voltar pelo caminho marcado,
ingrato o pecado este de te amar
e voltar a sonhar contigo ao meu lado.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Vinte e seis de agosto

Dois olhos fitavam dois outros
pequenos esboços de um quadro borrado
o pecado do tempo passado
lentamente esfregado em nossas faces tão nuas
me mostram a sutil diferença
em sentir sua presença
e já não ser mais tua.
Devorou-me em pequenos pedaços
pelas brechas que os braços alheios deixavam
os teus olhos, por entre eles, vazavam
e aos meus encontravam e perdiam a paz.
Já não sei mais de ti, me perdoa
o tempo é quem voa para longe demais
Já não posso agarrá-lo pelos braços
mas poemas refaço
para aquele rapaz.

Vinte e cinco de agosto

Teu nome, rabisquei em meio aos punhos 
fiz de nossa história um rascunho
num papel amassado pelas minhas mãos
Deixei-te cair no vão que abri
no sorriso que conti,
deixaste-me só.
O inferno em que vivo é meu
eu pintei esse breu
com toda minha dedicação
de quem não sabe andar pelo tempo
fazendo sutis movimentos de fim
não se espante se não me rever
mas se acaso se arrepender
volte logo para mim.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Vinte e quatro de agosto

Por que me violentar com palavras,
maltratar meus pobres ouvidos que amam-te com verdade
se tu podes bater na minha porta
e não em meio peito?
Que defeito tão grave que carrego
que te fere o ego
que te faz odiar-me ao me amar singelamente?
E quando os meus olhos se puserem
e teu andar não me seguir fielmente?
Para onde olharás quando fitarem teus olhos a minha solidão?
É o preço que tu pagas por tua própria intolerância
que se arrasta nesta imensa discrepância
de soltar as minhas mãos.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Vinte e três de agosto


Eu deixei de olhar para ele ao ver as estrelas
que, embora ainda brilhassem no céu, já não tinham os olhos seus
inebriada no breu, perdi-me aos poucos
ao procurar um breve consolo no que se perdeu.
Não finquei raízes para cortá-las depois
mas havemos de concordar que o gosto doce amargou
que o prato para dois ficou pequeno
diante de sua imensa fome de sonhos.
Desde então apaguei teu nome
ainda marcado no meu braço direito
grifado com dizeres de inválida eternidade
que, com suas pernas tortas, se perdeu na vida
De ti, deixei que ficassem as feridas
flores mortas, perfume ingrato de adeus
sinto muito por ter memorizado a sua partida
por ter esquecido minha vida nos olhos teus.

Vinte e dois de agosto


Intacto, silenciosamente inerte
Guardando dentro de si o mundo que gira lá fora
Na beira do mar dos segundos, molhando as horas
De lágrimas frias.

Pasmos, dois olhos pairam no escuro,
Esbarram-se no breu que há no espelho,
Não há imagem refletida,
Há um mundo e apenas meu travesseiro!

Mas nada acontece, nada muda.
A flor emudece e no fim está murcha,
Há pétalas por todos os lados.

O reflexo se torna todo o vazio que me torno,
Ouço as vozes do que não digo
E, ao esbarrar comigo, não me reconheço.

Solidão, teu nome é este tão belo em que pinto,
Mas já não sei conversar comigo,
Já não sei se me mereço.

Vinte e um de agosto


Penso tanto no que ando deixando
no que me pego sonhando
partindo-me de idéias
Vejo teus barcos em meu mar repousando
teu pranto levando
como uma maré de futuro.
Já não te espero olhando pela brecha do muro
e de manhã o jornal segue arrumado
o gosto do café parece fresco
mero desejo,
no fundo, ando bebendo passado.

Vinte de agosto


Belo poema nascido das minhas mãos trêmulas
após ver tão bela morena passando por mim
e qual o segredo que ela carrega em suas pernas
qual será o gosto deste teu carmim?

Dezenove de agosto

Nas tuas formas, mergulho em curva
encho-me de apuros para ver-te, mar
e amar, por qual caminho seja ou haja
por cada onda que quebra ao longe
cada olhar perdido dentro de mim.
Te despi de segredos e injúrias
deixei-te cair na armadilha que criei
de ti, aos poucos, respiro
o ar puro do seu riso
a doce melodia de sua voz.
E que seja breve, mesmo que lindo
que não te recordes jamais do que sinto
que não te lembre de quem fomos nós.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dezoito de agosto

Do alto,
do auge do alvo
do claro que cega a escuridão
mãe das estrelas que brilham no chão
que zela o choro baixo dos meninos na calçada.
Fria,
na noite vazia fez-te morada
pendurada no vasto infinito de nada
por onde nossos olhos se perdem dentro de nós mesmos
fazendo deste vazio nossa própria companhia.
E o sereno
que escorre de sua boca entreaberta
teu brilho à inspirar uma pobre poeta
que nasce todos os dias.

Dezessete de agosto

Um bando de desculpas tortas num amor sem linha. Era assim a nossa velha e bela história, e com o tempo, ela ainda é assim, mesmo sem ser escrita.
Desde quando o sol se apagou para mim eu vejo o brilho nas coisas que me fazem sorrir, em simples abraços e em doces, mas, não calorosos, beijos. Eu sinto, no fundo mesmo eu sinto tanto uma presença estranha, como um fantasma, um ser escuro, apagado, porém intransigente ao tempo, imóvel e imortal, soprando bem perto os meus ombros.
As transformações sempre me tornam a mesma coisa, eu ando para frente e me esquivo para trás, como se eu houvesse de colher uma flor que foi esquecida, que foi deixada de lado. A flor está morta, murcha, seca. Ela foi arrancada há tempos, ela vive presa dentro de um livro fechado, completamente amassada e marcada pelo tempo e pelo peso de quinhentas páginas. Há seu perfume espalhado por todos os lados por onde ando. Há rancor, tristeza, saudade. Há beleza no passado, intrigando o presente, e desde já, assustando quem pensar no futuro.
Tudo pode acontecer – mas é claro!
Mas nem tudo me é conveniente, provável. Eu moro onde moram as ondas frias quase monótonas de tão curtas e paradas. Moro onde mora a luz azul no fundo do mar, onde mora a chuva que transborda e faz rir, onde mora a calma, a discórdia, onde se sacode a perna violentamente num gesto inquieto, irritantemente intrigante. Moro onde mora a dor, os sorrisos, a perda, onde a falta é anfitriã e a beleza é tudo que cerca. É a casa escondida, onde se prende tudo que se ama, tudo que vira pó.
E tudo vira pó. Extingue-se, perece. As mãos prosseguem sujas, atadas, como se fossem amarradas por um laço invisível de lembrança, onde já não se sabe até quando vai prender-nos.
Há uma flor morta para trás, eu ainda sinto. Não me faz sentido ela já estar morta, eu a toquei tão poucas velhas, mas eu errei em não roubá-la do chão para mim. Hoje talvez ela estivesse presa ao meu livro, ainda não escrito, haveria ainda um perfume doce e nada esquecido por onde eu andasse, em cada passo, torto ou firme, que me lembrasse alguém.