domingo, 1 de janeiro de 2012

Trinta e um de dezembro

Vi uma árvore gigante e forte. Sabia que, embora seus galhos estivem secos, a raiz era forte. Não quis podá-la, deixei que suas folhas caíssem diante dos meus olhos, e jamais as olhei com reprovação. É bom morrer quando se deve viver por inteiro. E era o retrato dos meus dogmas - Folhas secas de outono.
Vi brotar do silêncio duas pérolas escondidas. Ostras fortes, meus queridos, quase nasceram rocha. Por dentro, preciosas e delicadas, lágrimas em forma de jóias. Eram sonoras e silenciosas, misteriosas e extravagantes, eram companhias perfeitas para a rotina. Mas são do mar, não se guardam. Aguardam. Parecem viver esperando um sentido para o que vivem. Uma, tão bela menina que parece fazer do mundo um espelho. A outra, prefere vivê-lo num travesseiro. E eram açúcar e afeto - Pitadas de sal e pimenta.
Vi uma distancia agressiva se tornar um pouco mais significante. Não havia mais fotos. Não havia mais risadas escancaradas de boca aberta. Nem ao menos histórias secretas. O amor não ficou entre os muros cinzas, ele se espalhou pela vida, um mar aberto de lembranças. Hoje, nossa saudade não existe pela falta, mas pela presença que não cessa. Não eram as mesmas blusas envelhecidas que nos faziam iguais, eram nossas cortantes diferenças em olhar. Vimos que éramos complementos de comportamentos. E era uma só flor de cinco pétalas azuis - Com cheirinho de naftalina.
Vi uma estrada cinza e um menino de olhos vendados. Parecia ter medo do escuro que ele mesmo provocava, aquilo que ele acreditava ser. Eu via os seus olhos através das vendas, sabia que eram tão verdadeiros a ponto de ainda me enxergar de longe. Dentro de mim, uma série de perguntas saltavam, como se quisessem mostrar para mim mesma que precisavam ser respondidas. E que tipo de sentimento era aquele? Que tipo de correnteza arrastava minha vida sempre para o mesmo litoral? Eu, um mar calmo e, por vezes, perdido, tornei-me ondas que quebram rochas. Uma rocha-menino. Um homem-coração. E era um start dentro de mim, um amuleto perdido que sempre me encontra.
Vi um sorriso raro virar constância em mim. Uma letra torta virar livro, mesmo que ainda pequeno e rasurado. Vi morrer o pecado e nascer a esperança de ser absolvida por mim mesma. Vi algemas quebradas no chão em que piso, e mel escorrendo da ponta dos dedos. Mantive segredos livres como borboletas na primavera, e finquei raízes dentro dos meus próprios pensamentos.
E eram nuvens que enfeitam o céu lá fora, que nunca estiveram tão livres e presas em mim.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Trinta de dezembro

A estrela mais alta do céu escuro,
um vaga-lume de esperança a vigiar-me
tal qual um olho do tempo
que registra cada momento que deixo passar na contramão.
E seguir uma estrada é não trilhar uma rota
é transformar uma chance remota em certeza
deixar o caminho brilhar com as luzes acesas
do coração.

Vinte e nove de dezembro

A estrela mais alta do céu escuro,
um vaga-lume de esperança a vigiar-me
tal qual um olho do tempo
que registra cada momento que deixo passar na contramão.
E seguir uma estrada é não trilhar uma rota
é transformar uma chance remota em certeza
deixar o caminho brilhar com as luzes acesas
do coração.

Vinte e oito de dezembro

De repente, os repentes se escondem
se transformam num agora que corre dentro de mim
e não é de sangue, nem de água
é chuva doce na janela.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vinte e sete de dezembro

A cor do dia estampou o sonho de quem dormia
e, ao acordar,
palavras dançavam no vai e vem do dia
na lua e no sol que surgia
dando um ao outro o seu lugar.
Avisto de perto um horizonte incandescente
que clama para eu ir em frente lhe encontrar
o futuro, que avisto sorridente,
deu-me de presente o prazer de recordar.

Vinte e seis de dezembro

No fim, restou-me apenas uma certeza
que brotava em mim como um botão de rosa:
- Amar rejuvenesce.

Vinte e cinco de dezembro

O meu amor se multiplica no berço da vida
o mundo balança e balança nós dois
e eu, aqui, do meu modo, meio sem jeito
dou o meu jeito de não deixar para depois.
Sinto que o tempo me faz mais jovem
dentro das horas eu vejo o quanto cresci
e o quanto deixei ruir.
Mas não me importa o cheiro que fica
a vida bonita se transfigura
a gente retrata do alto da nossa loucura
um mundo de cor e de luz.
E é assim que eu vejo o tempo
o tempero da vida que está para nascer
deixar para trás é ganhar e perder
e perder é ganhar mais de si.