terça-feira, 31 de maio de 2011

Trinta e um de maio

Avisto, ao longe, uma esperança adormecida
escondida por entre as cortinas de todo cansaço
O sol, ainda calado pela vasta neblina,
me mostra a rotina que sustento em meus braços.

Sem tua luz meu caminho se perde
nas linhas tortas dessa estrada escura.
Faz frio lá fora, e aqui dentro revigora
o desejo em tornar-me tua.

Como o ar do vento
a hora do tempo
o som da canção

E não há tempo bom sem teu brilho
um trem que parta sem teu trilho
um passo meu sem teu chão.

Trinta de maio

Solidão, palavra que no mundo se acolhe
que na boca se encolhe
que na vida recolhe
que conhece bem as paredes azuis da minha alma.
Que lateja firme num peito que pulsa;
descompasso esse que não melhora
sem que haja a companhia de si mesmo
ou de qualquer desejo
do mundo lá fora.


Vinte e nove de maio

Pus teus olhos a vigiar meu mundo
que rabisquei pensando no desenho teu
pintei as incertezas, cobri o breu
colori cada instante e segundo.
Pus teus olhos a vigiar meu mundo
a repousar no tempo, a avistar os meus
resolvi não mais fazer rascunho
pois não há melhores formas
que as dos olhos teus.



Vinte e oito de maio


Por que deixaste voar teus sonhos tão breve
quando só desejaste embarcar junto deles para longe de ti?
Fugir de si mesmo parece ultraje ou loucura
mas requer a bravura de saber existir.
Por qualquer que seja teu motivo
não esqueça que tua vida é livro
escrito pelas tuas próprias mãos
e não há como deixar páginas vazias
pois ao fim do dia, 
resta-te ainda a solidão.
Por onde pisar esses teus pés imundos
lembre das pegadas que tu possas deixar
desculpe se meu amor causou barulho
é que eu faço tumulto
para te acompanhar.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Vinte e sete de maio

Quando um sonho trepida no vento
a espera de um porto, um descanso seguro
bem quando a vontade se torna um tormento
deixando tornar o silêncio em barulho...
Eis que a paixão torna-se soneto
reta, linha,
dueto
sem pontos finais.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Vinte e seis de maio

Quando uma nuvem toca o céu
que toca o ar
que toca a imensidão,
Bem como uma lágrima que molha os olhos
que corre o rosto
que toca o chão.
Há tempestades em nós.

Vinte e cinco de maio

De repente as palavras ressurgem,
como folhas de outono que caem
sem rumo, à mercê de um vento
que move aquilo que toca.
Quando as palavras parecem estar mortas
um novo verso se abre
como flores de primavera que brotam
e aos poucos espalham seu cheiro.
E o que querem as palavras sopradas
pelas bocas carregadas
de sentimentos alheios?
É o que o poeta tenta esconder
nas entrelinhas 
dos seus anseios.

Vinte e quatro de maio

Doce dia que nasce dela
que traz o sol em seu sorriso
quão bela menina que parece pintura
tão rasbiscada em aquarela.
Teu esboço, perfeito rascunho
que dos teus defeitos, amo cada assimetria.
Permita-me que te pinte com meus olhos
e que faça de mim sua companhia.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Vinte e três de maio

É triste quem desacredita no amor por conta dos golpes da vida,
como se para cada entrada não houvesse uma saída,
como se para cada noite longa não houvesse um dia.
É triste aquele que se abre em flor, mas não permite o toque
como se para cada dedo não houvesse um espinho
como se para cada par de pés não houvesse um caminho.
É triste ver quem tu és
moldada pelo medo de sonhar tua vida,
e apenas vivendo seus sonhos
jura-se arrependida
de um dia ter conhecido a dor.
Mas não percebe que passou-se tanto tempo
caminhando por esses becos sem saídas
entregando a própria vida
ao desamor.

Vinte e dois de maio

Imenso sentimento que brota
de um jardim com uma flor
quase morta
quase fria.

A luz que esse sol nos transporta
reacende a beleza
da velha monotonia.

E quão doces são os beijos de outrora
E quão belo ver surgir pela aurora
a vontade de amar que há tempos não se via.

De se fazer valer cada raio de sol que corta
O cheiro da flor, quase morta,
que se abria.

domingo, 22 de maio de 2011

Vinte e um de maio

O que queres pedir para mim?
Que eu te olhe com os olhos de sempre,
ou ponha no rosto um sorriso ao te ver?
O que esperas de mim?
Que eu venha até seu mundo carregando comigo as minhas asas,
ou que eu retire de mim qualquer asa que possa me levar para longe?
O que pretendes com essas palavras?
Levar minha alma pra dentro de ti?
Se eu, que sou só tua alma perdida,
te encontrei dentro de mim.
E o que nos basta para sermos felizes,
se finquei minhas raízes sem medo do fim?
Se nesse chão íngreme, equilibro-me
com a certeza de que te quero para mim.



Vinte de maio

Não sei bem mais quem é
mas vi passar por mim
um rosto qualquer
um cheiro qualquer de jasmim.
Toda a beleza que um dia eu olhei,
na flor do jarro da mesa, eu deixei
não há mais porquê de te amar desse modo
se sempre que eu volto
o amor se desfaz dentro de mim
que vivo na espera de um novo rapaz, mas beiro o fim
não há mais porquê de esperar que alguém
um rosto qualquer
com cheiro qualquer
venha me fazer
um pouco mais que mulher.


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dezenove de maio

Não daria para imaginar
um dia nascendo sem a luz do teu luar
quebrando as nuvens com o seu sorriso
abrigo meu,
desfaz o breu.
Nada vale o tempo que passou
e com o vento 
construiu castelos de areia sob os nossos olhos atentos
não vê quão bela é nossa casa?
E não desfaz.

Seja como as ondas desse mar de pensamentos
no fundo de nós, bem lá por dentro,
só há certeza de que somos dois gigantes
em pleno mundo, em pleno sol
em pleno instante
com a virtude de saber continuar.

Dentro do peito, a sutileza de um passado errante
que nos ensinou a exorbitante simetria
de saber amar em par.






Dezoito de maio

Esqueça-se das borboletas
das camisas nas gavetas
dos pés que procuravam os teus.
Não lembre dos passos que foram dados
dos doces beijos roubados
guarde contigo o adeus.
Porque não há sabor neste mundo
tão amargo quanto tuas palavras antigas
dizendo tão baixo, soando gritante,
que não haveria saída.

Dezessete de maio

Jogo-me do alto dos meus falhos atos
escavando os pecados
ingratos buracos
necessários abismos.
Encontro-me cercada pelos traços
dos poucos retratos
que não rasguei.
ingratos pedaços
ingratos momentos
ingratas verdades
do quanto falhei.


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Dezesseis de maio

Às vezes eu não quero falar de amor
a dor também é boa, você entende?
Que ela lateja forte
aonde o amor se faz presente.
E dói tanto não amar.

Quinze de maio

Como eu poderia ver que nesse fim dessa estrada
uma curva ainda esperava pelos meus pés
e que, ainda sujos e cansados,
teriam de correr para o lado de quem me deixou?
E este velho carinho, veneno trocado
do beijo roubado, a lama do acostamento
e que, por mais que doa por dentro,
revigora-me por cada vão momento em que me reergui.
E vencer sua própria dor é nascer de um sorriso
e só quem conheceu o chão mais sujo
sabe o que é estar vivo.


Quatorze de maio

Sou do deste leve amor até o ponto em que me peso,
que desse corpo mantenho-me presa
como as nuvens no céu.
Tão bom sorrir num dia limpo,
mesmo que esse seja chuvoso.
Tão bom viver na falta de espaço
ao esbarrar-me no teu abrigo caloroso.
E, pudera eu ver que, já não há saída 
O meu maior engano
foi ter te posto como um plano
quando tu eras minha vida.


domingo, 15 de maio de 2011

Treze de maio

Ah, quão belas as estrelas que pude ver naqueles olhos risonhos
E, por te amar com a certeza,
de que a minha riqueza
não está nos meus sonhos.
Minha realidade é o mais lindo instante que possa existir
E, ao olhar ao meu lado,
revejo meu passado,
ainda a dormir.

Doze de maio


Nem sempre há explicações para dias cinzas
noites frias
palavras amenas
Há sempre uma gota de água nas calhas
um vento que sopra
a vida pequena.
O tempo, gentil senhor do agora,
carrega sem jeito, lá fora,
o que não nos cabe no olhar.
Eterno, só sabe quem vê a beleza
do que se perde na sutileza
de findar.


Onze de maio

Perdoe as palavras que deixei secar,
como flores, no jarro esquecido ao lado
bem quando há pressa de chegar
como a chuva, no cheiro do chão molhado.
Você não pode ver
que há pessoas como você
que não procuram achar, e somem?
Você não pode ver
que o medo de perder
te fez ser menos homem?
Teus olhos, por inútil prazer,
deixaram-me cegar a minha fome
e, por amar você, já não busco saber
sequer teu nome.



Dez de maio

Dizem, do pouco que enxergo,
que já não noto que me entrego
sem margem ao acaso.
Vejam bem, que meu amor é plantado em solo pobre
que rego da lágrima que escorre
desse imensa miragem.
Cada um sabe aonde dói a própria fantasia
onde se enxerga a luz do dia
dentro de seu próprio breu.
Cada um sabe o veneno que escorre
desses olhos que não dormem
ao dizer adeus.


Nove de maio

Distraída,
me vejo perdida por entre seu relevo oscilante,
que, embora distante
meus olhos percebem que ela me acolhe.
Tão fria,
tua alma vazia não vê que lamento
pelo findo momento
de uma noite que morre.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Oito de maio

Triste ver como as incertezas
carregam sonhos
como ondas movendo as conchas na areia.
Triste ver o sol se pôr com a sua calma.
Tão bela alma,
por que te atormenta com esses fantasmas coloridos?
Todos pintados com teu riso escondido
todos marcados com a sua inútil dor.
Meus olhos miram sempre em teu sorriso,
nunca houve desvio que me tirasse do doce abismo
do teu amor.
E embora veja mais que o alcance dos teus olhos
e diga palavras amargas sem qualquer fundamento
Estarei perdido ao tentar te mostrar
que não há algemas em um sentimento.



terça-feira, 10 de maio de 2011

Sete de maio

Passo que corta o outro
dançando no dia que passa e que vem.
Ruas que abrem caminhos
para os nossos destinos nos levarem além.

Além de nós mesmos existe uma ponte,
um atalho escondido, tal como a sorte.
Se caminhas sempre no mesmo sentido
Não haverás vivido ao esbarrar na morte.

Por quais estradas guias teus pés
quando tu já não sabes o que é alegria?
Porque o tempo, com suas testemunhas fiés,
não nos ensina sozinho a travessia.

domingo, 8 de maio de 2011

Seis de maio

Nenhuma voz me lembra
Nenhum casal me prende a atenção
E a lua vista dessa nossa tenda,
me faz lembrar que já não há perdão.

Desculpe o tempo se correu rápido demais
E se eu passo as manhãs lendo os jornais
escolhendo as notícias que não me trazem você
nas palavras que eu tento apagar.

Se já é tarde, não volte atrás
que do teus olhos já não lembro mais
O pouco que tu me destes
me ensinou a querer um amor capaz.







Cinco de maio

Tantos olhos virando as esquinas,
e tantas pernas cruzando olhares,
ao andarem, o desconhecimento mútuo
se envaidece de descobertas.
Mas o que acontece quando há reconhecimento?
Num desconhecido a gente se apanha repousando os olhos
e como uma parte de nós no tempo esquecida
como um pedaço caído de sonho,
o desconhecido torna-se tão próximo, mesmo distante
e quebra-se o silêncio tão gritante
em um 
"Muito prazer."  


Quatro de maio

Sob as sombras do desprezo
cavaste teu buraco mais secreto.
com tuas lágrimas do amor que antes tivera
aprendeu a destruir o seu afeto.
Amor que morre vira espeto,
espinho afiado de flor nenhuma.
Amor que morre vira moinho
que se move para uma nova procura.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Três de maio

Indecisão,
Ah, um pobre coração
partido em pedaços tão distintos
um clamando as lágrimas de olhos doces
e o outro um largo e amargo sorriso.
A quem ouvir quando a voz que surge
é aquela que confunde
cada passo que eu dou?
E onde está a linha que desune,
a ingrata dor que pune
a paixão não ser amor?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Dois de maio

Todo cuidado é pouco
quando se resta pouco
do muito que fomos.
Toda esperança é marcada
por danos de espera
tão severos tombos.
E nossos melhores vôos partem
de tombos ao céu.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Primeiro de maio

Entre os instantes,
folhas ao vento
deixo-me aos poucos como se desmontada estivesse
como as águas de uma cascata
que jamais seca.
Pelas veredas,
becos sem saídas
observo a vida brincar de despedida
como as folhas ao vento que partem sem rumo
Como eu que, ora me vejo em todas as partes,
Ora sumo.