quinta-feira, 30 de junho de 2011

Trinta de junho

Regada por poesia e interrogações, vivo.
Por quais caminhos nossos corpos se dirigem?
Busquei a origem para descobrir quem me tornei
e, por ingrata sorte, nada vi.

Flor que nasce do chão
arco-íris pós a chuva
o vento que tudo sopra
o tempo que tudo muda.

Não há porque cavar nosso âmago
se somos rasos em nossas camadas profundas:

Nos tornamos um pouco mais e menos que antes,
somos agora, 
o findo
perdido no infinito
de um instante.

Vinte e nove de junho

Olhando para mim mesma
vi um mar de encantamento
onde naufrago aqui dentro
tudo o que meus olhos resgatam.
Lanço minhas redes ao acaso
vou cobrindo meu buracos com sorrisos e rimas
aqueço-me de ânsias e virtudes
onde escondo-me em plena neblina.
E é de névoa este meu coração
que se esconde e se guarda por trás desta cortina.
Que, ao cair da noite, revela-me um pouco menos mulher
e um pouco mais menina.

Vinte e oito de junho

Pobre do amor que perdeu o rumo
que cortou as asas para não alçar vôos distantes
e que, por um instante,
deixou de ser eterno.
Do abraço terno, um mar que corta o peito
um vazio imperfeito entre dois corpos distintos
e que, um dia unidos,
perderam o trem na estação seguinte.
Pobre do amor que não fora ouvinte
que falava alto e ecoava seu próprio amor
que, ao bater num coração fechado,
fez surgir o outro lado - e era a dor.

Vinte e sete de junho

Pedra que bate na água,
que bate no sal,
que bate no sol
Sonho que bate na alma
que bate no peito
que bate em nós
Nós que cantamos ao vento
corremos no tempo
brincamos de estarmos sós.
Nós que voamos ao longe
batemos no céu
sob nossos lençóis.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Vinte e seis de junho

Se vai chover, teu rio corre para longe
meus pingos descem, lágrimas do céu
nos esquecemos aos poucos que a correnteza
não nos perdoa.
Se a consciência se cala, a voz ecoa
nossas palavras se perdem, 
saem sem rumo
esbarram em nossos peitos, já tão doloridos
é que o som da tua voz, calando o que fomos nós
chega a zombar do meu ouvido.
Ah, tamanho despropósito 
trovejar sem medo,
deixar teu raio em minha vida tocar.
Aonde foi que meus olhos deixaram-te mudar
em que esquina foi que a gente derrapou?
Lamento pela chuva aqui dentro
que já não consigo secar
já não sei se quero encontrar 
o que a água levou.

Vinte e cinco de junho

Parte de nós é canção
e o que nos resta é o silêncio
cantando sozinhos, deitados no chão
queimando feito incêndio.
Você já teve um coração
e hoje tem uma ametista em seu lugar
que eu lapidei aos poucos
na arte de te amar.
E te amando vou largando meus problemas
faço fila nos cinemas
olho estrelas no teu céu da boca.
E te amando eu vou sentindo
que nunca fui tão sã
por estar louca.



Vinte e quatro de junho

Cedo, claro dia
enquanto você não chega
eu ponho a mesa
eu canto a mesma canção dos pássaros.
Ah, minha companhia
já não me faço.
Não sei, 
mas parece que você esqueceu o caminho de casa,
perdido na estrada, ficou
Já era tarde, o sol poente
E a saudade se perdeu
e essa vontade renasceu
dentro da gente.

domingo, 26 de junho de 2011

Vinte e três de junho

Quando você for, feche bem a porta
aqui estou, flor morta
cheiro de naftalina,
dor.

Embora, você sempre retorne
e esse copo cheio eu entorne
já não vejo porque deixar
o vento soprar em nossa direção
se não há mais trem para o vagão
não tem mais estrada para a gente trilhar.

Vinte e dois de junho

Quem foi que retirou daqui
aquela dor que havia
e que, ao nascer do dia,
acordava-me para a ilusão?
Quem foi que colocou aqui
um sorriso largo no lugar da velha antipatia
que transformou a pedra que em mim havia
em coração?
Quem foi que apagou minhas dores
que me pintou com cores
que me retirou o véu?
Quem foi aquele que calou a tristeza
me trouxe a sutil certeza
de viver no céu?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Vinte e um de junho

Eu vivo esperando a curva adiante, o passo seguinte, a respiração que sucede a outra. Esperar é um ato perigoso. É um tanto assustador ver aquilo que ainda não é visível aos meus olhos. Eu sempre gostei de ficar com os olhos fechados.
Faz tempo que eu sigo sentada na beira dessa calçada esperando as folhas do outono caírem, uma a uma, enquanto penso em tudo que me transformei enquanto elas iam se desprendendo dos galhos. O tempo passou tão depressa, arrastou os montes de areia para outros lugares, e eu já não vejo as velhas dunas que minha memória foi se encarregando de formar. Eu aprendi a ventar sem querer. Fui me sedimentando, me separando, deixando ir embora cada vã partícula que em mim havia. As partes de mim já não eram eu? 
A gente nasce uma vez de outra pessoa, mas nascemos todos os dias de nós mesmos. Estamos despindo nossas cascas, polindo nossa superfície pontiaguda. A gente se esculpe aos poucos. Então eu vou esperando ser um pouco menos de mim, para me tornar um pouco mais de mim. Vou me deixando ser, para deixar de ser. E ser de novo e continuar não sendo. E é bom não ser. Heráclito não era. 
Esperar é uma condição imortal. Uma vez adquirida, a gente jamais perde; é como aprender a contar. A gente vai contando os dias, as horas, somando os atos, os feitos, esperando. Esperar um fato é diferente de esperar de si. 
Esperar de si não requer tempo, requer apenas saber não esperar. O tempo de si não tem molde, porque ele não existe. Esperar de si é ver até onde você se torna aquilo que você já não é. Aquilo que você é.
A grande verdade é que nós esperamos por nós mesmos todos os dias, sentados nas calçadas dos nossos pensamentos, vendo nossas folhas caírem, as nossas dunas voarem, os nossos cabelos esbranquecerem, nossa pele avisando que esperar cansa. 
E esperar por si mesmo é viver.



Vinte de junho

Não guarde rancor, meu bem
se nos braços de outro eu fico melhor
se as nuvens são doces aqui
se eu tive que ir, desfazer esse nó.
Você leva muita bagagem 
nesse teu peito ainda tão moço
me esqueça, digere esse prato
que terminou, bem como um almoço.
Já não tenho sabor em te ver,
tua boca já não canta o que eu quero ouvir
entenda que a vida desanda, porém nessa dança
eu quero seguir.

Dezenove de junho

Quando dois olhos se esbarram
se prendem, se enlaçam
se entregam ao acaso do escuro
os anjos respondem no espaço
que amor que renasce
avista o futuro.
Aponta para lá com teus dedos,
e durma os sonhos que eu quero enxergar
guardo na boca um segredo
que amar é não ter medo
de um dia acordar.

Dezoito de junho

Em toda canção tua voz ecoa,
bem como um pássaro que sobrevoa meu telhado
nas noites frias, nas manhãs amenas
nessa vida pequena sem você ao lado.
Há em mim o tamanho vazio do teu bater de asas
que, feito brasa,
incendeia meu peito que sofre, tão quieto
pela falta de não tê-lo por perto.
Você já aprendeu a amar o vento?
Onde segurar se teu sopro me move
mas não me prende?
De onde veio se já não sabe para onde voltar?
O teu caminho e minha rota se esbarram
porque meu céu é teu abrigo e os meus olhos são teu guia.
Embora eu sinta apenas o vento do teu bater de asas
seja pela noite que passa
ou pelo dia.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Dezessete de junho

Por qual motivo deixaste tuas portas abertas
ligadas as tuas setas
se não pretendias me fazer voltar?
Em qual erro perdi nossa vida na estrada
se a cada ponto de partida
só te vi na chegada?
E jogas a culpa no tempo
como se ele fosse o mar, e nossa vida fosse pedra
que iria se desfazendo, hora após hora.
Não viste que aos poucos invadias as minhas certezas
que puseste minha cama e minha mesa
para depois ir embora.

Dezesseis de junho

De repente a poesia calou-se num instante
dentro de cada instante que havia.
Falada, cantada ou muda
já não eras poesia.

Quando perdi meus olhos na calada da noite
e tu a dormir prosseguia,
perdi-me nos teus sonhos ao olhar tua boca
que mesmo parada, me sorria.

Teu leve amor a flutuar no tempo
a se agarrar no vento sem qualquer motivo
levaste minha vida para o teu sono
e eu fiz dos teus sonhos meu abrigo.


sábado, 18 de junho de 2011

Quinze de junho

Um desvio no caminho,
pedra, calçada, pedaço de flor,
que impeça o zarpar do teu navio
não pode se chamar amor.

Quatorze de junho

De hora em hora, o espelho do dia
o Rio lá fora
a companhia quente de uma solidão ausente
dos teus braços macios.
O tempo parado, o sol poente
uma certeza maciça da nossa infinitude
E desse amor, restou a virtude
de saber replantar as pétalas caídas.
Já não sou só - sei bem.
Não há mais eu no corpo de ninguém
somos, por assim saber, a mistura de um prazer
que desmonta e monta
que morre e faz nascer.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Treze de junho

Acorda o mundo,
faça um barulho avisando que o sol nasceu
traga nuvens para gente brindar a despedida do breu
e teu sorriso para esquentar o quarto.
Ser teu pedaço,
fardo que cumpro com pleno cuidado
aproveitando cada brecha que me sobra
entre teus olhos comprometidos.
Sê meu amor, ainda que escondido
ainda que por trás das cortinas de outras retinas
Acorda o mundo,
que dentro do quarto escuro
você é só minha menina.

domingo, 12 de junho de 2011

Doze de junho

Existem girassóis nos seus olhos
amarelo-outono, tão profundos em si.
Da boca, escorrem as palavras, como ruídos de amor
para não deixar-nos partir.
Porque em ti avistei um vale,
uma longa paz de um descanso breve.
Porque em ti deixei-me da forma mais sincera,
Sou teu elo, somos esfera
círculo, sem começo ou fim.
O nosso amor, eterna Era
tão forte como uma pedra
tão real como você em mim.

Onze de junho

Deixa o mar se abrir pro teu sorriso,
De onde vem essa paz que mora em mim?
Deixa que eu te deixo no infinito
Olhando assim, o laço é lindo,
Pena que desata em fim.

Doce o teu dilema de menina,
Cada vez que eu te deixo só.
De mãos dadas na eternidade, no teu sonho, na saudade
Dos teus passos, sei de cor.

Deixa que a beleza se revele,
Já não sou quem tu preferes,
Sei tão bem o meu lugar...

Triste é te ver assim tão longe,
Navegando nesses mares
Que eu não posso ancorar.

Dez de junho

Se já não somos como flores
não deixamos nosso cheiro um no outro
não abrimo-nos em sorriso ao nos vermos
não colorimos nossos olhos em admiração
Nos resta o frio espinho a machucar
a vida que deve continuar
nesse vai e vem de ilusão.

Nove de junho

Dias como esses, dias
Tais como um pássaro livre no céu
Dias como esses, noites
Perpetuam-se nos olhos teus.


Porque me cobres com teu véu,
mas não tira tuas luvas, tuas roupas
tuas mentiras?
Por qual razão vieste a mim trajando ilusões
malditos sonhos em vão?


Tornaste meu coração um velho porto
que vive aguardando tua visita
Hoje, vivo só sem tua âncora,
estás sempre nesta eterna partida.

Oito de junho

Essa saudade que não cabe num gota
de lágrima doce que desce do céu
chuva, me deixa,
me leva pra perto
de quem me deixou ao léu.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sete de junho

Desde que o sol se levantou em minha janela
vi teus raios a esbarrarem na minha vida
como tela e aquarela
como a perfeição de um encaixe.

Teu disfarce vem moldado num sorriso
que carregas pelo rosto apenas como um dispersão
sei de toda a tua dor, sei que ainda não sabes o que fazer
com essa vida que arremessaram-te nas mãos.

Mas caminhos, meu bem, são teus pés
teu impulso é a vontade de seguir
Embora haja abismos e buracos,
aprende-se a andar, ao cair.

Seis de junho

Com asas claras, possuía o poder de ir mais longe
de alçar vôos na direção dos seus olhos
ultrapassar montes
ir além do que se conhece.
De cada palavra explorada
uma significação, tal como uma prece
e elas parecem falar
aquilo que se cala, mas não esquece.
E que o poeta é um fingidor, ora, não me restam dúvidas
que do meu riso e dor, só meu corpo sabe
Pois quando ando por ai com o mundo nas mãos
é quando não sei o que é o mundo de verdade.

Cinco de junho

Poesia é rio escuro
poeta é lágrima densa
que escorre, que não faz barulho
que pinga aos poucos aquilo que se pensa.

domingo, 5 de junho de 2011

Quatro de junho

Em cada partida
vejo-te só, 
minha vida,
que virou avenida
para teus passos cruéis
hoje abriga
uma enorme ferida
por tu já não seres 
quem, de fato, tu és.

Três de junho

No começo avistava
um flor desenraizada
deixada de lado
orvalho pingado nas suas folhas.

Todo tempo, ainda pequeno
outono ameno
te fez em pedaços de flor
jogada ao chão
teu peito clamando perdão
pedindo aos céus para chover
a dor que partiu de você.

Deixa-te ser.

Dois de junho

Quero te amar feito flecha
e como flecha ir embora ao me lançar
nas ininterruptas formas
de se deixar
Partir com os olhos molhados
regados pela dor de não ver os esses olhos
de atingí-lo em cheio em pecado
e tê-lo deixado 
ainda tão cedo.
Perdoa esse jeito, é medo
de prendê-lo em meu corpo,
e dor que se sente 
se vai
como o ar que eu corto aos poucos.
Ele já não sabe de mim
e da minha alma tem pena
que vive vagando e indo embora
deixando a memória
virar um problema.


Primeiro de junho

Desvios incrédulos, alertas,
o doce destino, desatina e carrega
o peso da vida que se deixa cansar.
A voz, entre o silêncio escorrega,
quebrando qualquer regra
que não há de vingar
E se somos, assim por dizer,
um desvio de nada
um rio que corta a beira da estrada
um começo que abraça o velho final
Por que bem hora em que a gente se esbarra
nossos olhos se esbarram no que há de irreal?
Te amar sendo-te completa:
teu jardim, 
flor, 
perfume,
pétala.