quinta-feira, 31 de março de 2011

Vinte e nove de março

Como um jardim de flores secas,
você se ergue de toda a falta que te faz
Vivendo perdido 
aonde o cheiro inebria
aonde a nostalgia te traz paz

Ah, mas que maldita a paz que termina
sempre que eu viro a esquina
dos meus pensamentos

E que, ao final,
 só enxergo a neblina
nesta imensa ruína
dos teus sentimentos.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Vinte e oito de março

amores ondas,
pássaros
tão destrutivos
passageiros


               amores músicas
               analgésicos
               tão dançantes
               aliviados.

                                     que enxergam, 
                                     voam
                                     se perdem nas notas
                                     por todos os lados.



terça-feira, 29 de março de 2011

Vinte e sete de março

Quem vai dizer com voz de calma
que já não há alma 
nesse corpo só?
E saberá que o tempo é senhor dos dias
Que fez-se eterna a companhia
De te ter ao fim das horas
Em pensamento,
o meu juízo vai embora
nessa tarde que demora
a pousar-te nos meus sonhos.


domingo, 27 de março de 2011

Vinte e seis de março

Eu te deixei no ponto mais longe para que eu não pudesse tocar quando sentisse frio. Retoquei a minha máscara de ferro com maquiagem azul e fui dançar com o vento na esperança de que ele me levasse para os lugares mais quentes, para onde minha memória repousasse como uma gota de chuva em uma folha. Era inútil imaginar uma vida sem você, sem as coisas que você me trazia, o cheiro de rosa do seu sorriso no fim da tarde, toda a sua ingenuidade ao dizer que não sabia mais o que sentia por nós.
É incrível, mas a gente sempre se pega num momento como esse pensando o que se passa conosco. Quando o beijo deixou de ser carinho e as palavras deixaram de ser música. A linha tênue entre continuar alguma coisa e progredir alguma coisa. Alguma coisa como nós.
Na verdade, com toda a pureza das verdades, eu te amo um pouco mais que ontem, quando te conheci naquele ato improvável e que tanto pesou-me. E é por isso que eu resolvi ir embora.
Acredite, não há como separar estrelas do céu, algas do mar, eu sempre lhe disse isso. Você sempre querendo dividir nossa vida em meses, em dias, horas. Eu só queria ali, agora, sempre, você não sabe como é viver de urgências, de instantes, é uma delícia, meu bem, e você não aprendeu.
E eu te amo um pouco mais que ontem, o suficiente para notar que já não gosto do seu beijo como gostei ontem, e que teu abraço já não é mais quente e confortável, mas eu te amo um pouco mais que ontem, e é por isso que eu resolvi ir embora. Há sempre a linha tênue entre persistir e confiar, e eu não tenho mais vontade de nada disso.
Vou compor canções falando de astros e cometas, mas longe da tua voz. Vou pintar rios e muretas, longe dos teus painéis. E sorrir chorando ao ver as crianças brincando nos parques, sem nosso futuro subindo e descendo nas gangorras. 
Sabe, vou aprender com você a fazer planos, você foi sempre mais feliz com eles que eu com meu 'instantismo'. Você foi fiel a eles até eu dizer que não iria mais brincar de realizar seus sonhos, que não, eu não seria sua fábrica de futuro.
E você precisa entender, é que eu te amo um pouco mais que ontem, o que me faz ser capaz de entender que, talvez, eu já não te ame mais.

Vinte e cinco de março

Com quanta urgência quero tocar-te
antes que se vá em breve
Beijar-te, 
antes que se cale a boca num silêncio oco
Amar-te,
antes que o outono finde 
antes do inverno vir nos abraçar.
E ser-te, como um verso lindo
Antes que já não haja palavras para compormos estas canções caladas
Cantar-te por entre a madrugada
esses sons do nosso amor
que não acaba.

sábado, 26 de março de 2011

Vinte e quatro de março

Em algum momento da vida eu perdi um pouco de mim,
rastejando, se foi como uma cobra no chão
a gente vai embora aos poucos, menino
eu nunca me esqueci
que de mim levaram embora a solidão.
E só quem sabe como é ser só
poderia enxergar o que o futuro me traria,
que hoje o sol me diz bom dia todas as manhãs.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Vinte e três de março

Todo perder é um encontrar lentamente.
E em cada curva, as esquinas escondem
as ruas que já foram viradas. 
Os nossos passos decretam o nosso caminho,
Ainda que sozinho
por essas calçadas.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Vinte e dois de março

As folhas começam a admirar a beleza do chão
Nesta tarde de vento corrente me vejo ao lado desta nostalgia
O sol do verão se fez poente,
E, ao lembrar-me da gente,
Respirei solidão.
Quantas horas baterão no velho relógio antes do verão voltar?
Só sei que, enquanto caem as folhas,
Nascem flores para esse amor brotar.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Vinte e um de março

Dentro de mim mora um anjo
Desses anjos que não têm nome
Que nascem das dores que eu sinto
Do amor que me toma
E com asas de palavras doces
Invade minha vida
Cobrindo as feridas
Retirando as dores.

Dentro de mim mora um anjo
Desses anjos desengonçados,
Que trepidam no vento, não sabem pousar
Que só sabem tocar minhas canções preferidas.
E com asas de amparo vem me proteger,
Fazendo-me amá-lo
Por toda essa vida.


Dentro de mim mora um anjo
Desses anjos que fazem anjos tão belos
Que vive dentro de uma alma que pulsa tão somente por ele existir
E com asas do tempo vem nos eternizar nesse elo
Pois dessa maneira jamais iremos partir.

Vinte de março

O vento frio cortante passa pelas cortinas cortadas
 O verão se põe tão depressa
                                                          Nessa noite de janela calada. 

domingo, 20 de março de 2011

Dezenove de março

As ondas do tempo trouxeram teus barcos de volta para mim
como se as marés fossem fiéis ao nosso amor.
O mar que banha nossos sonhos, que flutua nossas vidas,
aprendeu a afogar a nossa dor.


Dezoito de março

Toda flor que brota mostra-se nociva,
enraizada levemente pelas feridas da terra,
e já não respiram sós quando ganham vida,
são todas lindas pelo que são.
Toda menina que cresce mostra-se colorida
embelezada discretamente pelas suas próprias feridas.
e já não respiram sós quando se descobrem em outro coração
são todas lindas pelo que já não são.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Dezessete de março

Deslizes têm sabores tão doces,
que antes de chegarem à boca já são percebidos,
embora este tempo, que fora perdido,
nos mostre o quanto é bom não encontrar.
De lá pra cá as flechas são atiradas ao vento
dos nossos sentidos altamente imperdoáveis,
Sei que, mesmo amigos, ainda teremos segredos
tão escondidos
que nos fazem lembrar o que foi de passagem.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Dezesseis de março

Deixar calar o momento em que se lembra
É tão inútil como fingir que já não dói
E, às vezes, falta o ar para respirar a tua ausência,
Quando noto, 
A penitência é continuar.

Tudo quanto foi arquiteto enquanto estive ao seu lado,
Parece, então, não mais viver.
Os sonhos respiram pelas lembranças,
Fazendo do destino esta ingrata dança
De um par sem ritmo.

E quanto as estrelas que juravas me pertencer?
Olho para o céu nesta noite nublada,
Só me resta a certeza de que nada
brilha tão forte em mim quanto lembrar você.



Quinze de março

Quando a sorte brinca de espera
nos levando a olhar sem rumo para além do que se enxerga
estaticamente, perdemos os alicerces de outrora,
e como aceitar essa demora em chegar a primavera?
Flores secas, lançadas ao chão num repente.
Tu foste tudo que eu mim floresceu,
mas, aos poucos, o perfume foi inebriando meus sentidos,
Ah, meu bom amigo,
A sorte, aos poucos, nos perdeu.

terça-feira, 15 de março de 2011

Quatorze de março

Tudo que eu tenho é nada,
é pouco diante de tudo que vejo
quanto ao desejo, procuro estar distante,
pois mais adiante há uma curva perigosa.
Silenciosa, faço barulho por onde passo
e sei que, dos meus traços, rabisco um mar sem jeito
que eu mergulho, que me lanço como posso
que me mostra que, ao meu modo,
tudo pode ser perfeito.





Treze de março

De tarde há sempre uma esperança escondida por trás das folhas das árvores, alaranjadas pelo pôr-do-sol. Os olhos, que cercam a vida, cavam constantemente os caminhos mais profundos que podemos registrar. E você não vê o quão bela pode ser a sua estrada? Há de se olhar com todos os sentidos do corpo e guardar dentro de si aquilo que será seu próprio porto, seja o verde-planta, azul-céu, ou cinza-da-rua-empoeirada. Para quem só deseja chegar, a velocidade em que se anda não é nada.

sábado, 12 de março de 2011

Doze de março

Das sílabas, versos, rimas entrelaçadas,
Palavras cantadas, tocadas em nós
que, pela voz que se ergue da tinta,
risca o branco perturbador do silêncio das linhas.
E surgem então versos amáveis,
amores versados, delicadamente rimados,
escritos nas folhas ao lado
da cama em que deito
e que, pelo jeito, só me faz te lembrar.
E se toda a lágrima que corre tem destino
quem sabe o nosso caminho não seja como chorar?
De toda palavra escrita, hoje há uma marca que fica.
Pois todo amor é verso escrito 
que pelas folhas só está de passagem.
E se for para falar do que sinto,
Falar de você em versos de amor,
É metalinguagem.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Onze de março

O que será que nos prende pelos olhos
quando, de repente, a gente se perde somente em olhar?
E se há fuga, há vôo
Se há você, lá estou
Meus olhos te cercam em todo lugar.
Se eu te perco 
em qualquer esquina te encontro
nos olhos de outro, não tão belos
e que não falam de amor ao me ver
Se eu te encontro
meu mundo se fecha, vivo dentro dessas brechas
que são tão belas e verdes.
Mas se nosso encontro findar,
e se fechares os teus olhos para mim
me condeno a viver dormindo, pois com os olhos fechados
mesmo molhados,
não verei nosso fim.


Dez de março

Raiou o teu sorriso no meu dia,
fez-se bela a companhia
de saber que somos bem maiores que as tão pequenas dores
E de tudo que aprendi, guardei comigo
pequeno porto, tão amigo
fiz abrigo em sua vida, em suas flores.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Nove de março

Olhos que se perdem das rotas,
Dos barcos, das mãos a balançar
Num adeus remoto e tranqüilo
Regado pelo vazio que há.

Do que um dia se uniu, fez-se brecha
Partitura de canção nenhuma,
Partido alto nessa roda de loucura
Que eu sambo só.

 Do nó no peito fez-se corda
Dessa viola que já não toca
Escandalizada ela continua muda
Ao ver tamanho desencontro.

O mestre-sala, pobre, fez-se tonto
A bandeira cobria o rosto dela sem parar
O mundo gira com a sua saia,
Mas ela já não tem quem a girar.

Entrelaçaram-se no tempo,
Viram as brechas dos sonhos virando as páginas no calendário
Ano após ano.

Eram dois esquecidos,
Lembrados nos versos dos sambas antigos
Afogados no mesmo oceano.

Oito de janeiro

 Se não me fizesse chorar
Aonde estaria a beleza das lágrimas que enxugo
Quando eu noto nas noites que,
Aquele seu barulho,
 Hoje me faz falta?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sete de março

Basta olharmos adiante para vermos o que fomos,
pois os caminhos descobrimos avistando,
mas eles só se abrem se andarmos.


Seis de março

O que será de nós dois
quando me ver bem assim, 
sorrindo calada
sem voz pra dizer que já não vou atrás do que restou.
Amanhã talvez a gente faça festa,
é esse carnaval nos resta, 
deixa eu te olhar de perto
pela brecha que me dá
deixa eu te amar enquanto há tempo
nem que seja um momento
antes mesmo de findar
eu sei,
quem mais vai saber
aonde você
esconde teu sorriso depois?
Não há porquê desvendar seu mistério
Nesse caso tão sério
Só restamos nós dois.


domingo, 6 de março de 2011

Cinco de março

Se já não sei te escrever, aceito o silêncio
que por dentro me prova o quão apagada ficaste,
E, por mais duro que seja,
não dói.

Distante, aceito a aproximação
como se eu tomasse um copo cheio de nada,
transbordado de falta,
um eco sem fim.

Parado, aceito a velocidade em que o tempo corre
E já não te espero pelas horas como antes fazia,
Sabe, pequena, 
dentro de toda a tristeza que me causaste
havia um punhado maior de alegria.


Quatro de março

Raiando vem o sol de um novo dia.
Ouço o cantar do tempo que tem ritmo afinado,
a melodia, 
a doce voz da bateria
A paz que esta folia
traz para todos os lados.


quinta-feira, 3 de março de 2011

Três de março

De qual jeito eu vou lembrar te tudo que me disses
se o tão breve amor que tives, foi pra longe, eu já não sei?
E de todas as marcas e pegadas,
me dei por conta nessa estrada
que caminhar é sempre ir além do que fomos.
Riso, rio e ventania
dia e noite, todo dia
lembrarei como um segredo
Triste, belo e melodia
já não quero a companhia
Daquele que de amor tem medo.

Dois de março

Por quais caminhos queres andar
quando nossos pés já não têm para onde ir?
Do nosso caminho fiz apenas uma parte,
da longa estrada que devemos seguir. 

terça-feira, 1 de março de 2011

Primeiro de março

Dizer que tudo ainda pode existir e jurar
Como se o tempo fosse fiel testemunha
De que, aquelas palavras tão minhas,
Fossem esbarrar-se sempre que encontrasse as suas.
E de que nos vale as promessas
Quando a sorte no tempo se arremessa
Se entrega a ponto de não mais voltar?
E se o tempo já não interessa,
Quem sabe o futuro nos peça para não mais sonhar?
Pois nessa fronha eu encosto o meu rosto,
E vivo buscando o teu gosto sem sequer entender,
Que os sonhos acordam exatamente porque a gente dorme,
E para que acordar quando não há porquê?


(ao som de Your song - Elton John)