quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vinte e nove de agosto

- De qualquer forma, vou deixar por aqui os meus sonhos -
disse a menina branca sentada no chão,
cançada de compôr a mesma canção
foi dançar com o vento e não voltou.
Sofreu por amor, chorou
guardou-o dentro de uma caixa escura com furinhos
que pulsava baixo e roncava
expelindo saudades.
Pegou a primeira carona na estrada das ilusões
foi parar dentro de si mesma
que, embora vazia,
parecia transbordar.
Ela, que fora mulher de sorrisos,
fugiu do seu cruel paraíso
de sonhar.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Vinte e oito de agosto

Fria noite, teus braços tremiam
enrolados pela cortina de frio, velávamos o sereno caindo
como dois anjos com asas partidas
costurando a vida
com este amor, pelo ar, diluído.
De onde parti - neste mundo pequeno -
e se não está aqui, tão breve veneno
Me mato aos poucos
a digerir a distância.

Vinte e sete de agosto

De fato, deixei-o de lado por puro prazer
de vê-lo juntar poeira na estante
como um retrato antigo,
parte inútil da mobília.
Triste o dia em que deixou para trás suas migalhas
as mesmas que não te fariam voltar pelo caminho marcado,
ingrato o pecado este de te amar
e voltar a sonhar contigo ao meu lado.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Vinte e seis de agosto

Dois olhos fitavam dois outros
pequenos esboços de um quadro borrado
o pecado do tempo passado
lentamente esfregado em nossas faces tão nuas
me mostram a sutil diferença
em sentir sua presença
e já não ser mais tua.
Devorou-me em pequenos pedaços
pelas brechas que os braços alheios deixavam
os teus olhos, por entre eles, vazavam
e aos meus encontravam e perdiam a paz.
Já não sei mais de ti, me perdoa
o tempo é quem voa para longe demais
Já não posso agarrá-lo pelos braços
mas poemas refaço
para aquele rapaz.

Vinte e cinco de agosto

Teu nome, rabisquei em meio aos punhos 
fiz de nossa história um rascunho
num papel amassado pelas minhas mãos
Deixei-te cair no vão que abri
no sorriso que conti,
deixaste-me só.
O inferno em que vivo é meu
eu pintei esse breu
com toda minha dedicação
de quem não sabe andar pelo tempo
fazendo sutis movimentos de fim
não se espante se não me rever
mas se acaso se arrepender
volte logo para mim.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Vinte e quatro de agosto

Por que me violentar com palavras,
maltratar meus pobres ouvidos que amam-te com verdade
se tu podes bater na minha porta
e não em meio peito?
Que defeito tão grave que carrego
que te fere o ego
que te faz odiar-me ao me amar singelamente?
E quando os meus olhos se puserem
e teu andar não me seguir fielmente?
Para onde olharás quando fitarem teus olhos a minha solidão?
É o preço que tu pagas por tua própria intolerância
que se arrasta nesta imensa discrepância
de soltar as minhas mãos.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Vinte e três de agosto


Eu deixei de olhar para ele ao ver as estrelas
que, embora ainda brilhassem no céu, já não tinham os olhos seus
inebriada no breu, perdi-me aos poucos
ao procurar um breve consolo no que se perdeu.
Não finquei raízes para cortá-las depois
mas havemos de concordar que o gosto doce amargou
que o prato para dois ficou pequeno
diante de sua imensa fome de sonhos.
Desde então apaguei teu nome
ainda marcado no meu braço direito
grifado com dizeres de inválida eternidade
que, com suas pernas tortas, se perdeu na vida
De ti, deixei que ficassem as feridas
flores mortas, perfume ingrato de adeus
sinto muito por ter memorizado a sua partida
por ter esquecido minha vida nos olhos teus.

Vinte e dois de agosto


Intacto, silenciosamente inerte
Guardando dentro de si o mundo que gira lá fora
Na beira do mar dos segundos, molhando as horas
De lágrimas frias.

Pasmos, dois olhos pairam no escuro,
Esbarram-se no breu que há no espelho,
Não há imagem refletida,
Há um mundo e apenas meu travesseiro!

Mas nada acontece, nada muda.
A flor emudece e no fim está murcha,
Há pétalas por todos os lados.

O reflexo se torna todo o vazio que me torno,
Ouço as vozes do que não digo
E, ao esbarrar comigo, não me reconheço.

Solidão, teu nome é este tão belo em que pinto,
Mas já não sei conversar comigo,
Já não sei se me mereço.

Vinte e um de agosto


Penso tanto no que ando deixando
no que me pego sonhando
partindo-me de idéias
Vejo teus barcos em meu mar repousando
teu pranto levando
como uma maré de futuro.
Já não te espero olhando pela brecha do muro
e de manhã o jornal segue arrumado
o gosto do café parece fresco
mero desejo,
no fundo, ando bebendo passado.

Vinte de agosto


Belo poema nascido das minhas mãos trêmulas
após ver tão bela morena passando por mim
e qual o segredo que ela carrega em suas pernas
qual será o gosto deste teu carmim?

Dezenove de agosto

Nas tuas formas, mergulho em curva
encho-me de apuros para ver-te, mar
e amar, por qual caminho seja ou haja
por cada onda que quebra ao longe
cada olhar perdido dentro de mim.
Te despi de segredos e injúrias
deixei-te cair na armadilha que criei
de ti, aos poucos, respiro
o ar puro do seu riso
a doce melodia de sua voz.
E que seja breve, mesmo que lindo
que não te recordes jamais do que sinto
que não te lembre de quem fomos nós.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dezoito de agosto

Do alto,
do auge do alvo
do claro que cega a escuridão
mãe das estrelas que brilham no chão
que zela o choro baixo dos meninos na calçada.
Fria,
na noite vazia fez-te morada
pendurada no vasto infinito de nada
por onde nossos olhos se perdem dentro de nós mesmos
fazendo deste vazio nossa própria companhia.
E o sereno
que escorre de sua boca entreaberta
teu brilho à inspirar uma pobre poeta
que nasce todos os dias.

Dezessete de agosto

Um bando de desculpas tortas num amor sem linha. Era assim a nossa velha e bela história, e com o tempo, ela ainda é assim, mesmo sem ser escrita.
Desde quando o sol se apagou para mim eu vejo o brilho nas coisas que me fazem sorrir, em simples abraços e em doces, mas, não calorosos, beijos. Eu sinto, no fundo mesmo eu sinto tanto uma presença estranha, como um fantasma, um ser escuro, apagado, porém intransigente ao tempo, imóvel e imortal, soprando bem perto os meus ombros.
As transformações sempre me tornam a mesma coisa, eu ando para frente e me esquivo para trás, como se eu houvesse de colher uma flor que foi esquecida, que foi deixada de lado. A flor está morta, murcha, seca. Ela foi arrancada há tempos, ela vive presa dentro de um livro fechado, completamente amassada e marcada pelo tempo e pelo peso de quinhentas páginas. Há seu perfume espalhado por todos os lados por onde ando. Há rancor, tristeza, saudade. Há beleza no passado, intrigando o presente, e desde já, assustando quem pensar no futuro.
Tudo pode acontecer – mas é claro!
Mas nem tudo me é conveniente, provável. Eu moro onde moram as ondas frias quase monótonas de tão curtas e paradas. Moro onde mora a luz azul no fundo do mar, onde mora a chuva que transborda e faz rir, onde mora a calma, a discórdia, onde se sacode a perna violentamente num gesto inquieto, irritantemente intrigante. Moro onde mora a dor, os sorrisos, a perda, onde a falta é anfitriã e a beleza é tudo que cerca. É a casa escondida, onde se prende tudo que se ama, tudo que vira pó.
E tudo vira pó. Extingue-se, perece. As mãos prosseguem sujas, atadas, como se fossem amarradas por um laço invisível de lembrança, onde já não se sabe até quando vai prender-nos.
Há uma flor morta para trás, eu ainda sinto. Não me faz sentido ela já estar morta, eu a toquei tão poucas velhas, mas eu errei em não roubá-la do chão para mim. Hoje talvez ela estivesse presa ao meu livro, ainda não escrito, haveria ainda um perfume doce e nada esquecido por onde eu andasse, em cada passo, torto ou firme, que me lembrasse alguém.

Dezesseis de agosto

De ti, aos poucos, colo os pedaços que ficaram no chão
refaço o caminho pela contramão
vejo exatamente em qual curva despedacei-te.
E sabe, já não dói mais em mim
quero morar neste fim
antes que ele se deite.

Quinze de agosto

Envolvo-te em minhas tão armadas armações
nas quais, de certo, não sei como entrei
e é por ti, meu bem, que já não sei
por quais portas devo sair.
Perdi-me de ti dentro de mim mesma
que, embriagada por tuas palavras
distrai-me ao ponto de nada ver
E é por ti, meu bem, que me esqueço.
Encontro-me, neste chão caída,
nesta noite perdida
ao lado do avesso
Tu, que foste minha alma escolhida
hoje é mera ferida
do que já não mais conheço.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quatorze de agosto


Meu sonho é fazer você despertar do teu sono profundo
teus olhos fixados num espaço que não vejo
e você, não me inclui nos teus desejos,
faz pouco caso da minha luz no teu caminho.
Tenho andando tão errante
com meu peito entristecido
esse amor não é de instante
nem pequeno, mas contido
e fiz-te meu plano, mas que não saiu do meu papel
por isso fiz barquinho e pus nas poças dessa chuva 
que fiz chover a noite inteira
e que agora estão ao chão
ao lembrar-me da besteira
que foi te amar a vida inteira
mas calar meu coração.

Treze de agosto


Um acordar sem fim dentro de mim
que desperto-me cada vez mais valente para ver o sol nascer
E, embora o sono me preencha de sonhos ingratos
vejo-me ao lado ainda a dormir,
Partida estive, após partir
levar embora as feridas
e a vida que deixei ruir
Longe demais das velhas curvas
encontro-me muda
ao tentar sorrir.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Doze de agosto

Quando eu falo que já é tarde pra lembrar,
Que de nós dois eu só preciso esquecer,
Lamento pelo tombo que a vida quis nos dar
Que dos meus braços me tirou você.
Logo quando eu me distraí com as luzes dos teus olhos
Eu não vi que não havia sorriso nos seus lábios
Secretos, discretos, famintos.
Olhos que não mentiam, mas eu minto.
Eles apenas me revelavam aonde eu quis deitar
No azul do céu, nas nuvens,
No plano que nos pertence... Quiçá.
Senti-me inútil ao ver que nem os anos,
Nem mesmo a vida conseguiu nos prender.
Cada palavra, agora eu tenho medo de ter sido engano,
De nunca ter tido você.
Não sei o que sentiu,
Mas se partiu, nunca irei saber.
Dentre o céu de estrelas mil
Só me faz falta a luz que vem de você.

Foste.
Foi.
Aqui estou.

Dentro do peito um amor afago,
Na mente a lembrança das asas que me cobriram
E na boca, um sorriso dobrado
Na vida, os sonhos que a nós pertenciam.
E agora na vontade,
Só me resta aquele desejo secreto.
Saudades apenas, apenas saudades
E a sensação de te ter sempre perto.

Onze de agosto

Talvez as moscas me soem como pássaros
E eu veja nosso castelo erguido ao fim dos dias
Roubaram-me o silêncio e por descompasso
Esconderam-te de mim, minha alegria.
- E era bela a manhã que vinha! Já anunciava o sol.
E talvez no jantar de mim você nem se lembre
Fui apanhada pelo mais arisco anzol
E entre as iscas nada impede que a saudade aumente.
E eu só quero lembrar-me de ti
Até que o sol se ponha eternamente.
E mesmo na escuridão e no frio dos pagãos
Serei seu milagre, arco-íris depois da chuva.
Cantarei o tempo que nos eterniza
E a eternidade que em nós nada muda.
Mesmo que haja pouca brasa,
E que nossas testemunhas nos condenem
Serei sua como o avião da asa,
Pois é a falta que este amor teme.
E eu perdôo suas faltas cruéis
Sou pequena demais diante do eterno laço que criamos,
Mas se procurar o que sinto, lá estará a pilha de papéis
Palavras são as provas do quanto te amo.

Dez de agosto

Esse amor que me guia com os olhos fechados
que me rega com seus cuidados ausentes
inebria-me de inconstâncias.
Foi-te embora sem desatar os meus laços
com os pés ainda descalços
com a boca fitada de mágoa
Carregaste uma série de pequenas mentiras
escondidas meninas
que meus olhos sentiam.
Meu coração é de vidro fumê.
Tu, que foste meu presente enfeitado
hoje é mero passado
do que não tinha de ser.


Nove de agosto

Deixei-me cair aos poucos, parte a parte
vi meu rosto estampado na neblina dos covardes
Lavei-o levamente com a água suja deste chão gelado:
Nada me restou de mim.
Achando estar no fim, libertei meus medos,
porque, se há de ser assim, por qual motivo acordar cedo?
Por que preciso limpar as janelas para ver o dia
se posso desenhar no embaçado do sereno a minha companhia?
Jamais bastei-me, embora só.
No espelho, revelo-me já velho
um homem de barbas no rosto e coração ao meio
Passei pela vida fazendo-te rimas
que, estampadas nas parades da esquina,
apenas eu leio.


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Oito de agosto


Onde foi que achei meus cacos nesse chão tão frio
que por onde passo parece não saber de mim?
E pelo tempo canto, meu amor e meu pranto
a minha vida que já não parece tão morta.
Onde foi que perdi meus sonhos nessa estrada torta?
Joguei-os ao chão para não perder meu caminho
e hoje, aqui neste chão, me encontro sozinho
como se perder fosse um achar sem fim.
Achar o fim.


Sete de agosto


Só somente só
um solitário coração que pulsa lento
e suas batidas já me servem de alento
a tua solidão é berço que me abriga.
Não diga nunca para o tempo que correu
que ela lhe esqueceu
embora até pareça
Não sonhe alto pra não acordar o mundo
pegue carona num segundo
observe um cometa.
E veja - que belo mundo
que vida mansa você tem.
Embora ela tenha ido embora
em boa hora você há de ir também.

Seis de agosto


Ele me despertou, meu bem
e feito rosa me despetalou
pétala por pétala
coloriu minha alma.

Danço a sua dança
embarco em sua história
exalo meu perfume em seus dias
Sou o que o restou de companhia
a memória que o guia quando não estou aqui.

E tanto, e de tanto
enquanto você não volta
tudo em minha volta tem cheiro de flor morta
pela saudade que eu sinto de ti.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Cinco de agosto

Se eu te olhei ainda cedo, procurei sem medo
te encontrar em sonhos
te vestir de estrelas e cantar-te o tempo
que desmorona nossa distância em seus acasos
É que este amor só vê partida,
a linha que cruza nossa saudade não tem cor alguma,
mas a gente pinta, da cor de nossa loucura,
para guiar-nos por esse caminho escuro.
E longe de ti não há passo meu que seja seguro
e meus olhos não vêem um palmo à minha frente.
Distância, essa medida que se mede
pela saudade que se sente
por ti já não estar presente.


Quatro de agosto

Um corpo
divino santuário de estrelas
bem como sonhos, momentos,
espalhados no vento dos dias
Dois corpos
constelação terrena
bem como os grãos de areia, unidos,
movidos pela vida, ventania.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Três de agosto

Diga-me que já não escapa de sua doce voz
a melancolia que te sobra ao cair das noites
com suas mágoas amarradas aos pés, feito cadarços,
e esse teu peito revestido de aço a bater descompassado.
Ah, o teu pecado foi perder-se no vento sem levar suas as asas
e, julgando-se perdida,
reabriu a ferida dos tempos passados.
Perdida no vento, pôde enxergar sua vida
que, embora sofrida,
tinha as cores de uma antiga alegria estampada.
Pobre menina que nas esquinas do tempo fora esquecida
que hoje vive à margem de sua própria ruína
por um dia não ter sido amada.


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Dois de agosto

Não esqueça de tirar as roupas da corda,
os farelos de bolo da mesa,
as saudades do peito.
Por mais que faça frio lá fora
e essa distância não tenha um jeito
e, vendo que essa ferida no peito não cicatrizou,
aprenda a conviver com a ausência dos meus defeitos,
mas não esqueça de afastar as moscas do que nos restou.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Primeiro de agosto

Ai, de um tempo que morre
e na vida se cala
o silêncio doce de um precipício de olhares
E já não nos cabe amar
se nosso amor nos invade
e feito flecha, se lança ao longe, se esconde nas brechas
se entrega aos poucos à loucura das ruas
a embriaguez de um sentimento.
Ai, desse coração que bate pela luz da lua
que espera o dia nascer para resguardar-se no calor do sol
e, pegando carona na névoa fria das noites,
encontra nas auroras teu principal sentido
Amar é esquivar-se da morte indo por seu mesmo caminho
e saber que se morrerá estando vivo.