sábado, 30 de abril de 2011

Trinta de abril

Há muito tempo venho tentando dizer umas palavrinhas engasgadas que ficaram agarradas em minhas cordas vocais, brincando de balançar de um lado para o outro, provocando em mim tal agonia. O tempo é uma piada que a gente conta todos os dias, que desconta em nós e nos nossos corpos a sua revolta em passar tão rápido e despercebido.
Pois bem, eu já não tinha mais aquelas correntes apertadas. Que doce a sensação de ser livre das suas próprias armadilhas, de sair com um rápido impulso dos buracos que a gente mesmo cava com o passar do tempo. Eu disse rápido impulso? Er... Nem sempre.
O homem também é uma piada. Piada do tempo. Quer coisa mais engraçada que a contradição que o tempo nos arremessa no rosto ao passar? Você se pega amadurecendo, ou apenas envelhecendo, e fazendo exatamente as coisas que julgava erradas. Tão constrangedor para nós mesmos, que sabemos dos nossos buracos mais fundos, aqueles que a gente foi cavando com prazer, o prazer da dor, que nos torna tão humanos.
Há quem teime em guardar numa espécie de espaço restrito uma parte de algo que já não é mais, e as coisas ficam ali armazenadas, pegando poeira, até você perceber que os sentimentos viraram cumprimentos breves e decorados e que, as pessoas das quais você tentava abrigar, precisam sair de você.
A memória também é uma piada. Piada do homem. Quer coisa mais ingrata que a condição de ter que polir todos os dias os jarros que já não são seus? Você se pega ouvindo músicas, passando em lugares, vendo cenas... Montando as peças desse mosaico tão único que é nosso passado. E que, às vezes, nunca é montado, há sempre uma parte que deixamos de lado, seja por qual motivo tenhamos. Uma hora a poeira predomina, mesmo que a gente tenha soprado com o riso ou lavado com as lágrimas de nossas recordações.
O esquecimento também é uma piada. Piada da memória. Do homem. Do tempo. Da vida.
Talvez seja ele o grande sentido. Quem sabe eu não tenha descoberto o tesouro no final do arco-íris? Essa grande metáfora de ter que deixar a chuva passar, mas atentar-se ao sol que vem. As amarras do passado dificultam os próximos passos. Não há de se olhar para trás, e sim para os lados, porque no fundo há sempre um novo dia banhado de urgências tão belas, telas e aquarelas, aguardando seus pincéis.

Vinte e nove de abril

Me perdoem as palavras e as rimas,
as coisas que sempre me abrigam quando estou aflito.
É que hoje, encontrei poesia sem folhas e palavras,
encontrei no silêncio a explicação pro que sinto.

Vinte e oito de abril

Deitada, 
canção calando a madrugada
na busca incessante por estrelas
no teto de um apartamento frio.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Vinte e sete de abril

Flores que não nascem secas, dadas por mãos imundas
triste ver os olhos aflitos
os lábios famintos
a certeza que não muda
Refletidos nas poças de água da chuva,
destinos trêmulos, caminhos sem rotas
a vida parece não notar que há filhos perdidos
de uma sociedade que só se incomoda
Não movem moinhos, ventos passados
destinos jogados à mercê das madrugadas.
No papelão, sonhos não acordam para a realidade
daqueles que pelos problemas, são tudo
que, pela piedade, são nada.



Vinte e seis de abril

Então chegaste como um raio de sol
incidente sobre minha pele.
Riscada estou.
Gravado o teu nome em mim infinitamente.
Ao contrário de um dia de sol
meu amor não é poente,
e se a noite parece raiar,
abençoados pela lua nosso amor descansa,
nessa eterna dança 
de recomeçar.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Vinte e cinco de abril

chuva que brota da tarde,
que desce dos olhos
que limpa a janela,
e, sem ela,
não há tarde que finde
olhos que não chorem
nem demora que acabe.

Vinte e quatro de abril

Por quais motivos colocaste essas pedras sobre minhas mãos,
tão prontas para segurar seus braços em cada momento de fraqueza?
No fundo, roubei-as como Pessoa ensinou-me
e construi, do teu desamor,
minha fortaleza.

domingo, 24 de abril de 2011

Vinte e três de abril

Distante demais o tempo ecoa,
como as palavras que batem nas parades no quarto
Reflito, reergo meus olhos para a noite que voa
nas estrelas encontro razão para me manter acordado.

Noite que cai - bem como a lágrima
fruto imaturo do dia que desce
que junto com o sol, carrega ao céu,
a doce voz de minha prece.

Horizonte em que avisto - bem como um sonho
que só de olhar mostra-se distante
Veja só, o que foi que o amor fez
A vida que se refez na curva adiante.


Vinte e dois de abril

Das coisas que eu gostaria de ver,
o escuro me serve.
do tempo que eu espero passar,
a espera me embala.
Enquanto os pássaros se deslocam em bando,
meus passos seguem na banda
e formam a melodia desse tempo que dança
no ritmo da minha solidão.
E ser só é ser infinito em si mesmo
é ver o mundo do avesso
ter nome, endereço
e não ser ninguém.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Vinte e um de abril

Tão lindo ver
que, no fundo, eu sou você
em cada gesto.
Se sonhar é, por assim dizer,
algo que ao amanhecer finda
Olho para nós como doce realidade
de uma certeza linda.
Não há caminho que eu cruze longe dos teus passos,
eu viro todas as estradas para esbarrar nas suas curvas
Meu amor é amanhecer e pôr do sol
é noite que surge
e nada muda.



quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vinte de abril

Deus, por que me fizeste poeta
se sabias da minha meta de não chorar?
Por que pôs em minha mente segredos
e, em minhas mãos, as palavras
que eu teimo apagar?
Se viver é, por assim dizer,
um instante que se passa diante de nós
Por qual motivo em nasci brecha
nesse excesso de sentimentalidade?
E por que, Deus,
me fizeste poeta
quando a minha meta era não chorar?
Por que me fizeste justo lágrima
quando eu quis ser gota de chuva
ao luar? 

Dezenove de abril

Esbarro diariamente na loucura de te ter tão completo diante de mim,
Cometa, cauda, tão êfemero e eterno
tão afogado em mistério
Que chega a ser tentadora a arte de te aprisionar
E nos olhos, você sabe,
que você mora nos fins da tarde
dentro de mim,
que sou metade.


terça-feira, 19 de abril de 2011

Dezoito de abril

Eu era tão feliz sem saber
sem notar que havia pousado em mim
o peso das minhas expectativas.
Bater asas é tão simples,
complicado mesmo é voar.

domingo, 17 de abril de 2011

Dezessete de abril

Eu deixei
que chegasse, olhasse, 
contasse.
Que voltasse até mim.
Deixei pôr tuas mãos sobre as minhas
num ato de reconhecimento mútuo
como duas almas unidas pelos dedos.
Deixei que repousasse sobre mim teu amor estranho
e que, por vezes, me apanho
querendo-o apenas para mim.
E deixei que corrigisse seus enganos
que resgatasse nossos planos
que já não nos deixam chegar ao fim.


Dezesseis de abril

Doce o peso de ser jovem,
de carregar o fardo de querer ser livre
de voar sempre determinado,
mas esquecer do rumo.

Quinze de abril

Por onde cortam os rios que nossas vidas deixam correr?
onde desaguam as dores dos olhares que não mais se reconhecem?
A gente não sabe bem o porquê
de sermos, assim por dizer,
correntezas de nada.

Quatorze de abril

Por cada mão vazia,
um peito transborda de falta.
Por cada sonho esgotado
um transporte parado,
limões para o alto.
Você não vê além daquela retina,
a beleza de menina
limpa em trajes tão sujos?
Você não nota que por trás dessa ruína
há um silêncio que esconde
o seu maior barulho?
Que é a força de viver entre faixas de pedestres,
sendo filha do tempo, mesmo sem pai,
que aprendeu a rezar sem fazer prece.


Treze de abril

É cedo demais pra gente ir além
do pouco que nós somos agora.
Por quanto tempo eu terei de carregar
esse fardo de você sempre ir embora?
Não cabem mais adeus em mim.
Ora partida, rachadura do tempo,
ora loucura de um vento
que passa levando e trazendo,
Nós, que somos folhas de outono,
à mercê da ventania
dos contratempos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Doze de abril

É, bem de vez em quando, lembro-me teu jeito
dos teus trejeitos
perco a razão
num labirinto de borboletas
dentro dessa cabeça que parece apenas querer se desligar.
E elas voam, todas livres
guiadas pelos pensamentos que não param de escapar.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Onze de abril

De onde vem o riso, singelo e doce
daqueles olhos de girassol da primavera?
E me diziam - era ela.
Trazia o mundo nas maçãs do rosto.
Brincava de esconder seus passos dos meus.
Que despropósito esse amor de infante,
regado como flores por nossos sonhos,
gritado por todos os lados por ser gigante.
E me diziam - era ela.
Mas era a mim que eles viam.
De noite, coberta de estrelas cor-de-pérola,
Eles cantavam aos astros que dormiam
as canções que eu fiz para ela.





domingo, 10 de abril de 2011

Dez de abril

Está tudo bem se eu já não vejo o mar
Se as ondas não batem mais nos meus pés
rezei, senti, que de fato não és
mais para mim.
E onde desata o nó das ondas
que surgem todas aglutinadas,
fruto das marés?
Os dias, saiba,
são como um grande oceano de sentidos
mas tão rasos quanto poças de água da chuva.
Demorei até notar que aqui dentro
não importa a velocidade do vento,
Nada muda.


Nove de abril

Como eu poderia prever que, de noite,
teus olhos fechados guiariam meus passos?
E, embora a chuva lá fora caísse,
haveria sempre sol nos seus lábios.
Que sempre se põe ao encontrar os meus.

Oito de abril

Puseste teu melhor traje, mas que ultraje
falou-me tudo aquilo que pretendias esconder
Segredos, meu bem, são guardados
sutilmente embalados por um pequeno prazer.
E ouvi - teu choro imaturo deixou tudo tão limpo
Como um céu coberto de azul dessa sexta-feira
Não há enganos, meu bem, que sejam eternos
Há de existir sempre uma nova maneira.
E tu erraste, fincaste um punhal aonde havia esperança,
Atravessado como uma espinha de peixe na garganta, 
ficaram aquelas infundadas palavras.
Ah, mas que cruel a insegurança
De tirar-me para esta dança
E vir com pernas amarradas.


sábado, 9 de abril de 2011

Sete de abril

É tão simples deixar aquilo que se passou para trás
que as traças devorem as folhas,
que a chuva apague o sol com um golpe sutil de tempestade
as coisas parecem tão efêmeras quando acordo.
O nome dela ficava escrito ao lado do terço da cama,
rezando todos os dias pela vida que eu carregava nos braços
Sabe, acho que nunca pus fé
nenhuma fé em algo que não fosse nós.
Não parece tão simples deixar aquilo que se passou para trás
Os dias devoram as horas.
É o tempo mostrando que sou nuvem no vento
levemente esquecida, drasticamente movida,
por meus pensamentos.  


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Seis de abril

Ah, há quanto tempo já não sinto as marés
E tampouco sei quem és
Me avisaram, eu bem sei.
Cego, vi tudo ao revés, e era lindo o que me mostraram,

Do teu doce amor,
Sobrou e triste e contido
Veneno inimigo
Dos que nunca amaram.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cinco de abril

Mas que maldita pressa essa que me atrai, de ver o jogo virar como se fosse um dia nublado, como se fosse simples ver o passado deixado de lado, abençoando o futuro ainda dormindo no berço, ninado pelos olhos atentos do tempo.
Havia um plano infalível que eu arquitetava, sempre me senti pertencendo a estes momentos que eu decorava na mente, que eu observava sucintamente e registrava em palavras. É engraçado, mas a minha memória anda tão fraca.
Dia a dia esforço-me para conseguir ser esse algo que enxergam em mim, um reflexo perfeitamente moldado por olhos alheios que parecem saber mais sobre mim que eu mesma. Você anda tão pensativa, o que há? Por que essas pedras nas mãos? E tudo isso parece planar em mim como pipas no céu, como se eu pudesse a qualquer momento esbarrar com minha própria imagem, com aquilo que se reflete de mim. Auto reconhecimento é uma virtude ou uma dádiva? Na realidade eu sei responder a todas essas questões, e sei exatamente a cor que me pintam, sei dos meus passos, por onde ando esquecendo meus olhos, pelo que peço, sei que tropeço na pressa de ser eu mesma até o último gole. Andei colhendo sonhos verdes por não saber reconhecer que, embora estando na primavera, meu coração ainda era inverno. Aos poucos o sol vai saindo, há uma flor que brota novamente, já a conheço de outras estações. E o dia lá fora está tão lindo, você não vê? Que hoje o meu coração faz abrigo sobre as pipas que planam no céu.

Quatro de abril

Tão facilmente olhamos para o lado e vemos,
que do nosso veneno sobraram apenas essas palavras ingratas
Jogadas de lado, arremessadas ao vento
paradas no tempo por não serem cantadas.

De hora em hora, o relógio me conta
que o segredo que guardei entre nós fica na fila espera
Aguardando um sinal para escapar, ser passado adiante
mas só se estivermos distantes nosso amor impera.

E que ingrato amor este que não morre, mas nos mata.




segunda-feira, 4 de abril de 2011

Três de abril

Eu quero a sorte de poder olhar
e não ver o que não há.
Ter o mistério de quem sabe ser só ,
de quem constrói esse nó que é amar.
Desata em mim, em nós,
a sede que dá ao ver tanto para doar,
ninguém para receber.
Dói, e o peito acostuma a adormecer.
De dia a vida passa, a noite eu quero só você
Só quero a sorte de poder dizer
- Bom dia. 

Dois de abril

Deixa eu repousar meu olhos sobre o seu mar de silêncio
dentro da tua boca gritar sobre a vida,
num sopro te calar, te amar
te ser como um pássaro que voa e volta até mim.
Segredos são guardados,
alguns amores do passado 
não têm fim.

domingo, 3 de abril de 2011

Primeiro de abril


É hora de você apagar minhas rimas,
Já não o quero falando sobre nossa vida que hoje é ruína.
Escrevo-te um verso pequeno de adeus
Para contar que foi tudo mentira.

sábado, 2 de abril de 2011

Trinta e um de março

Se eu resolver ir embora
quem vai te contar essa história
de amores que não morrem no fim?
Se eu levar minhas malas para a porta de casa
esperando o adeus sentada na sala
quem vai abrir para mim?
Pensou no tempo, sentiu a dor
de ser tão pequeno diante do amor
Não sabe mais.

Trinta de março

De repente você nota que o tempo corre 
como as árvores que são deixadas para trás ao olhar de um vagão
Mas não percebe que, contudo, a vida derrapa em qualquer estação
Não há feridas que destruam nosso laço,
Nem motivos para eu fazer tudo que eu faço
E eu faço, repito, machuco teu sorriso num golpe de flor
Que machuca, mas fortalece e revigora
O tempo que passa, de hora em hora
Mostrando-te quem sou.
Só sei que, dentro desse quarto azul,
teus olhos, esse corpo nu
Não cabem nos poemas que eu quero recitar.
E teus olhos, esse mar sem chão nenhum
Só existem nos segundos em que eu posso olhar.