sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Vinte e sete de outubro

Acabou,
- Como já era de se esperar
o teu espetáculo teve fim,
E na hora em que as cortinas resolveram se fechar,
não houve aplausos dentro de mim.

Vinte e seis de outubro

Já não consigo deixar-me ir embora
sem olhar para trás,
sem contar as minuciosas horas
que parecem recordar-me do que já não é mais.

Vinte e cinco de outubro

Teus olhos sorriam para mim,
imenso céu a se abrir
- sol quente, nuvens dispersas
após a chuva de outrora, que teimava em cair -
Aprendera a florir na dor.

Vinte e quatro de outubro

Tente não lamentar com os golpes,
mas rir das quedas,
embrenhar-se no chão
amando toda sua lama,

e embora haja tristeza hoje para o jantar
não te despeça mais cedo
não vá para a cama carregando o medo
de sonhar

e o teu segredo
infinito poço de incertezas
escondeu-te a beleza
de chorar

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Vinte e três de outubro

De fato, o sol não tem brilhado sobre o meu telhado,
Ah, mas que dia de chuva que não quer passar,
e seja em teus olhos, ou em meu corpo molhado
ainda me dói o pecado
de, ainda assim, te amar.

domingo, 23 de outubro de 2011

Vinte e dois de outubro

A saudade mora ao lado das estrelas
e é meu destino tê-las
é lá que dormem meus sonhos.

Vinte e um de outubro


Simples, sublime e doce como o vento,
O primeiro sonho que eu tenho ao acordar.
Leve e livre como o tempo,
Que por nós passa devagar.

De risos, beijos e palavras é feito o meu amor
Das tão curtas madrugadas dantes.
E toda certeza que o azul do céu deixou,
Não se compara à beleza de cada instante.

Porque ao seu lado eu descobri o bom do mundo.
O bom da vida.
O vôo livre.

Porque dentre tantos olhos
Há dois portos seguros,
Onde há a paz
Que eu nunca tive.

E dentro de um homem há um universo de mim.
Que vivo vivendo e lembrando
E trazendo pra si o que te deixa feliz,
E os sonhos que ando sonhando.

Que seja sempre,
 Sempre
E sempre.

E que no fim
Haja apenas uma vela pequena,
Dois pares de olhos
E a beleza que há em tudo.

E que não haja fim,
Nem que esse seja somente o começo
De um novo segundo.

Pois ao seu lado,
O tempo se mostra indiferente.
Porque é por dentro da gente,
Que se esconde o mundo.

Vinte de outubro

Se te perguntares um dia
onde foi parar o universo em constância:
- toda a paz dos minutos
o vento a bater nas janelas,
as crianças sorrindo e cantando um futuro distante
a lua e o sol a cantar nos instantes
adormecendo o dia e acordando as noites -
Entenda que, aos poucos, inverteu-se o mundo
tudo saiu de órbita, foi planar no acaso
e não é por descaso que deixo o vento bater na porta
que observo a flor que se entorta
sem me importar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Dezenove de outubro

Pois bem,
não há mais cor no velho vestido
calor no cobertor
a suavidade dos beijos que havia
deram lugar a agonia
desta singela amarga dor
Não vale a pena, meu bem
apagar as labaredas do fogo que nos restou
se na madrugada, a luz não está mais acesa,
as velas não estão mais na mesa
a velar o nosso amor.
Então, por qual motivo,
ainda guardo o velho vestido?
Por que passo as noites a sonhar
embaixo do cobertor frio?
É o acaso que me conta esta história
de guardar-te na memória
nesta infinitude de vazio.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Dezoito de outubro

Já não sei por quantas estradas deixei
os sorrisos, pedaços de mim, pelo chão
se já não sei de onde parti
para onde irei, e se é que vivi
já não busco respostas vazias para dentro de mim.
É que o tempo tratou de mudar o meu coração
que, sozinho, hoje toca a melodia de uma velha canção
que só eu sei.

Dezessete de outubro

O café está frio,
a mesa, posta,
formigas comem o que sobrou do pão.
Teu carro partiu há meia hora
não sobrou nem uma mera resposta
para acalmar meu coração.

Dezesseis de outubro

Parados, teus olhos no vagão se moviam
diziam adeus aos meus sem dizer uma palavra
o agora, e agora, essa tarde vazia
teu sonho partia
na plataforma calada.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Quinze de outubro

Não me deixe sangrar outra vez com tuas palavras cortantes
de ferro e de fogo,
recitadas em versos de mágoas
embalados pelo rompante frio das verdades
todas emaranhadas pelo seu egoísmo insosso.
Não me faça chorar, nem mais um instante,
as lágrimas foram as testemunhas mais verdadeiras que conheci,
só não me faça esperar por você de novo
pois, ao que me lembro,
eu já parti.

Quatorze de outubro

Distante demais,
os pássaros vão
a voz se distrai no vácuo
a solidão brinda à companhia da lua
E não há mais teu formato na parede
um borrão escuro, de curvas sinuosas,
nem ao menos o teu perfume de rosa
com tuas pétalas espalhadas pelo chão...
Doce menina, por onde caminha,
será que se sente sozinha pela multidão?
E, sentindo-se ausente,
onde é que escreve o presente
que vive a dar cor, dia após dia?
Saiba, nunca estive tão certo,
e mesmo longe, tão perto
de sua companhia.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Treze de outubro

O dia acordou com preguiça
e deixou escapar a flor cinza que brotava do chão
regado pelas lágrimas na avenida
tornando poeira qualquer multidão.
E não tenho gosto para redesenhar o meu choro
que um dia se apagou no mesmo chão,
nesse chão em que risco por cima
um céu sem neblina
aquilo que nasce da velha ruína
da destruição.
Mas não se vá ainda,
há uma flor de cor cinza
murchando em meu coração.

Doze de outubro

Eu só preciso de um espaço,
um maço de cigarros,
conhecer alguém que não sofra,
uma canção de palavras bonitas,
emboladas e embaladas nas rimas
que saem de sua boca.

Onze de outubro

A nuvem vinha pesada, onda gelada no céu
chovia dentro de mim como nunca
na sala cheia de paz, a garrafa vazia
na vitrola, velha melodia,
embalava o meu sonho tão frágil
E a quem recorrer quando não se sabe o caminho de volta
quando o que resta é a velha anedota
de que viver é tão fácil?

Dez de outubro

Ah, coração...
me avise quando quiser descansar
te porei no mar, 
tal como barquinho
e o vento se encarrega de te ver zarpar...
Vê se não esquece de olhar para o céu à noite
apontando as estrelinhas que um dia lhe dei
não se canse ainda, ainda é cedo
já não mantenho em segredo
que amei.

Nove de outubro

São tantas linhas, cordas bambas
e tenho tantos pés para equilibrar-se nelas
sou tão criança com medo do escuro
e o barulho da chuva me distrai,
E ninguém pode ver o quanto mudo,
que escondida em meu casulo,
pinto minhas cores com o tempo
que vem e vai.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Oito de outubro

Troquei um passo em falso por uma pegada ao longe
avistei o futuro que acenava com uma bandeira branca
- e era como uma ave,
uma pomba
uma esperança que dança alegre no horizonte dos sonhos.

Sete de outubro

Tempestade,
teu corpo covarde, calabouço de sentidos
que, embora contidos,
bate nas paredes quentes do teu peito vazio
tentando libertar-se de ti a cada segundo...
Entenda, o vento venta forte no corpo
mas tu não se pode abalar
e embora a tempestade recomece,
se fizer de ti a tua prece,
o teu sol retornará.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Seis de outubro

Distante demais da perfeição daquelas luzes
vi algo sobrevoar a imensidão azul do infinito
como se algo distinto
olhasse para mim,
 reconhecendo-me.
Antes que o brilho daqueles olhos me invadisse,
virei meu rosto para ver o sol dormir.
Recostando no horizonte, fez-se janela ao longe,
beirando a noite que haveria de surgir.
Tive a leve impressão de sentir um toque,
magistralmente, acordei em mim
quando tornei a sonhar, esbarrei nas flores,
nos doces amores que já vi partir.
Voltando o rosto ao seu lugar primeiro,
senti o travesseiro a me cobrir
Se te perco de vista, eu me solto da isca,
Não podes mais me distrair.

Cinco de outubro

Indiscreta, em linha reta
tua pose se desmanchava como o pôr do sol no horizonte
ah, e quantas vezes teria que repetir aquele poema salgado
com cheiro de água do mar?
Veja, meu bem, tenho os defeitos que você me deu
a minha lápide você lustrou até o ponto que pode
e eu morri de estar vivo, fui aclamado rei
para coroar teus labirintos de mentiras
Aos poucos, sobrou de nós mera neblina
canção que se perdia no tempo e no espaço
perdida, já não sei fazer-te rimas
e teu caminho não sou mais eu que traço.

Quatro de outubro

Escrevo-te uns versos sem rima
para que não se apague a luz do teu caminho
pois eu estou aqui ainda
mesmo sozinho.
Escrevo-te uns versos pequenos
para que se lembre do que não conseguimos ser
e talvez, um dia seremos,
mas hoje, acabou agora.
E já estava na hora,
O sol sumiu
A lua voltou
grande e alaranjada,
como se já não ocorresse mais nada
um dia peguei-me doando-a para ti,
Mas hoje 
ela é minha companhia.
E que amanheça o dia,
Para eu poder ver o cantar do pássaro
E poder ouvir os raios do sol
E sentir o azul do céu.
Há uma página em branco na nossa frente,
Onde não nos cabe mais amar.
Mas me bate uma saudade de repente
mas na lembrança ela vai morar.

Três de outubro

Não há mais certeza sobre aquilo que teus olhos teimam em ver
- gaivota ao longe, amor pingando no chão, caindo das nuvens
uma voz suavemente gritando que sonhos são gotas de chuva -
basta esticarmos as mãos para tocá-los.
De repente, você se encontra no meio das verdades inventadas
do chão da calçada molhada,
de sonhos e lágrimas caídas
De portas de entrada, de becos sem saída
aonde o riso faz-se dor e vice e versa.
Quando não há mais certezas ou sonhos pingados na mão
já não importando aquilo que não mais te interessa
a vida passa enquanto os olhos bambeiam
enquanto eu faço passeio
por quem não mais regressa.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dois de outubro

Os anjos falam pouco e olham baixo
só sabem dizer os seus nomes
têm os pés sujos e descalços, a boca seca
procuram entre o asfalto a fuga das suas almas presas.
Vivem da poeira, do pó, do vasto do tempo
da fuligem, do que restou de nós
à sós no sereno, um sereno amigo e conselheiro
um papelão de cama e travesseiro
a solidão como lençóis.
E teu pão amassado, pelos pés do diabo,
saltitam feito maná aos seus olhos famintos
os teus corpos, benditas muralhas
intransponíveis cárceres de sonhos...
E os anjos vagam, pedem, morrem no tempo
no cinza da fumaça dos carros
nas sombras dos prédios
no frio do vento.

Primeiro de outubro

Eu estava de frente para mim com as palavras
bem embora eu estivesse correndo delas
que, dispostas e sorridentes,
pareciam cegar-me de certezas.
Esperei o passado derreter como o sorvete na mesa
vendo ruir cada vã beirada, caindo ao chão o que havia
passei tanto tempo vasculhando os momentos, relembrando o tempo
e não notei que lá fora era dia.