quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Vinte e seis de novembro

Uma tarde laranja e remota
ao avistar o céu de nuvens brandas
vejo o alçar da gaivota
- uma esperança que dança no vento.

Vinte e cinco de novembro

O quanto será que suporto
enquanto estas ondas teimam
em atingir as minhas pedras?
O quanto será que tolero
o frio gelado do inverno
em minhas mãos?

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vinte e quatro de novembro

Ser poeta de uma palavra só...
uma ingratidão dos livros
é provar que sonhar é maior
do que saber estar vivo.

Vinte e três de novembro

Foi bom te ver crescer, espelho meu
reflexo do que sou em sua mais pura essência
tuas mãos, buscam as minhas nas mais duras dores
e no melhor dos amores, avisto-te ao longe,
Teus olhos, guiaram os meus até onde eu estive
e sei que deste-me asas para que eu fosse livre
mas me vê ao sol nascer
e à noite que vive.

Vinte e dois de novembro

Quando uma canção sai das beiradas dos lábios
e a lágrima escorre da beirada dos olhos
sei que começa um novo dia
que vejo acordar mais um novo sonho...
Não vivo na busca de nada
ao lado de mim, uma calçada,
abriga um homem que chora no chão
tamanha sensibilidade que em mim habita
ensinou-me a nunca dizer não.

Vinte e um de novembro

Tenho um sonho que no peito lateja
que avista o horizonte azul e clama por asas
o dia, mistura de cores,
refaz os amores, reergue as casas
Sei que construo o meu ninho
por baixo de riso e de dor
por entre os meus sonhos, trilho o caminho
que me leva, sozinho, ao mais puro amor.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vinte de novembro

Tenho a sincera impressão de estar sendo demais,
de que a minha intensidade tem provocado abalos no chão
provocando meu próprio desequilíbrio ao caminhar,
ando pé com pé com a solidão
deixo meu destino seguir na contramão
até encontrar o meu lugar.

Dezenove de novembro

Não sei em qual olhar o seu se perdeu,
se repousou numa folha seca do chão, como um pingo de chuva
como quem descansa de uma grande queda,

não busco encontrar teu rastro por onde piso,
um dia sonhei-te eterno,
mas amanheci em mim mesma
vi que não me restou, ao menos, a certeza do que sai de minha voz

vou colhendo os frutos apodrecidos no chão,
tuas gotas caídas, meu sonho em vão
um eterno recomeço dentro de nós.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dezoito de novembro

Enquanto dois caminhos se igualam,
parecem ter pés ao lado de pés, seguindo o mesmo ritmo,
num passo incansável de ansiedade,
em ver os dias passarem como os pássaros no céu...
A gente se esconde em nossa casca, nossa casa
fazendo morada nos nossos desejos,
mergulhando em beijos,
saciando a fome e a sede com palavras doces.

Dezessete de novembro

Lágrimas são estrelas despencadas,
voz contida que escapole da garganta
num adeus tão sonoro
quanto à noite.

E quando já não há boa noite,
estrelas se penduram no céu da boca,
e a boca se fecha ao coração.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Dezesseis de novembro

Descubro, ao olhar para mim,
que meus pedaços coloridos enfeitam o céu
como um mosaico de sentimentos floridos
estampados num vasto vestido...
A primavera sorri.

- Ao longe,
por perto,
estou por todas as partes,
no céu encoberto
no vermelho de Marte
na cor do oceano desbotada nas nuvens...

E chove,
e eu me espalho,
o mundo vira colcha de retalhos
que costuro só.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Quinze de novembro

Deixe-me só esta noite,
há estrelas querendo me contar segredos
e eu, com meus olhos fixados no vazio brilhante
dispo-me de meus medos.
Como é bom ter mãe tão bela a olhar-me do céu
serena e fria, alva e constante
um olho sempre vivo à espiar-me.

Quatorze de novembro

Um disfarce bem montado,
olhos que fogem dos olhos,
retinas perdidas em mentiras corriqueiras,
e por pura besteira,
dois corpos partidos.

Treze de novembro

Se já não somos dois iguais nesta soma,
perdidos nas diferenças cruéis dos números que,
inúteis bailarinos no tempo,
dançam esta valsa de rotina sob o calendário
Já não adianta esquentar a comida fria e exposta,
ou sanar as dores que já desatinaram aflitas
só nos resta reescrever esta história,
refazendo a trajetória de nossas vidas.

Doze de novembro

Não te lembras do tempo
de quando andava com os ombros contra ao vento
brincando de correr atrás das borboletas,
que, incessantemente, fugiam dos teus olhos?

Dos olhos doces dos tão pequenos corações de prata,
todos adormecidos nas calçadas
buscando abrigo no sereno leve das manhãs?

Em que porta-retratos deixei-me aos poucos
rasguei o véu da inocência branca,
que me fazia pomba no ar?

Ah, hoje moro numa casa de madeira chamada lembrança,
pois a única coisa que me restou de criança
é saber sonhar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Onze de novembro

Você está comigo,
sinto na pele, no cheiro do rosto
no toque suave na borda das orelhas,
suaves borboletas a acariciar-me enquanto durmo,
E não há vida longe do teu mundo
longe dos teus sorrisos,
onde costumo repousar meus olhos
enquanto te vejo livre, preso à mim.
Viro uma curva adiante,
dou passos a um futuro distante
caminho no contrário do fim.

Dez de novembro

Permita-me uma última palavra,
um último som de um violão desafinado...
Meu doce pesadelo de hoje,
fora meu maior amor do passado.

Nove de novembro

Em algum momento
deparei-me com aquela imagem no espelho
imóvel, mas como se quisesse me dizer
as palavras que escondi por toda a vida,
Cresci junto aos dias,
minha pele entristecida, parecia saber o que se passava no tempo
a chuva que caía, o frio vento
a voz que emudecia por não mais saber viver.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Oito de novembro

Não digas mais que já não vem
se o sol se põe enquanto você conversa com as nuvens
você faz o dia mover-se, e espero ter-te
de novo.

Sete de novembro

Se já não há sorriso nos lábios,
eu desenho um guarda-chuva ao céu
esperando que caia os pingos de esperança,
E se eu ainda fosse criança
tomaria banho na chuva gelada,
deitaria-me no vento, sem pressa de nada,
a vigiar o tempo que dança.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Seis de novembro

Deixei-te descansar,
andorinha no vento,
página fria de calendário no tempo,
esperança morna, que não finda.

Cinco de novembro

O perfeito perde a cor,
desbota na parede,
descasca.
Ah, pequenos reparos,
incertezas já tão certas
de consequências.

Quatro de novembro

Vi dois barcos a perderem-se no horizonte
a curvar-se em minhas vistas, banhando-se no infinito
vi o que há de mais bonito, a namorar o sol,
que se punha aos poucos
como se espreguiçasse.
No mar dos teus olhos, vi-me chegar depressa
carregando comigo a alma leve que abriga
este meu corpo pesado do cansaço da vida
da oscilação das marés.
E por ser quem tu és, deste jeito,
mergulho em cada palavra
faço de tuas profundezas, a minha morada
encontro-me naufragada no teu peito.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Três de novembro

Enquanto o dia amanhece,
vejo-te pleno:
vagalume na escuridão dos meus olhos.

Dois de novembro

Não há motivo maior que o que sinto
de não poder te deixar ir embora com o vento forte
tu, que foste minha sorte, ou a falta dela
eu que, ainda valente, chorava de medo...
Amei-te em voz alta, gritei sem segredo
escancarei para o mundo as borboletas ingênuas que alimentei
e dentro de mim, floresceu um jardim
as margaridas mais belas não sabem que as arranquei.
E quando o perfume cessa, ora por acaso da vida
ora por dor que o atinge,
me vejo no ponto em que estive
só, com as estrelas.
E pela beleza que um dia tive,
teus olhos a despencarem dos meus
já não existe o dia, o sol que nos ardia
restou-me a companhia deste breu.

Primeiro de novembro

Ela tinha o sorriso fácil
um rosto branco, alegremente triste
uma voz feroz e baixa,
que, calada, me contava os segredos do mundo.
Em seu vestido, flores de cor púrpura
contraste perfeito com tua cor dos olhos
que, fechados, guiavam-me nos caminhos do tempo
Mas perdia em algum vento,
me sobrara esta vã memória
 - criança que chora em lamento.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Trinta e um de outubro

Quão bela tu és,
com teu vasto sorriso,
teus peitos, vestidos,
tua nudez de alma leve e escorregadia

tu que fazes nascer meu dia
escancaras tua alegria sobre minha sombra cinza
e não há escuridão onde habita tua face,
onde repousam teus olhos, não há neblina.

Era somente menina,
e eu, velho poeta,
desaprendi a escrever.

Trinta de outubro

Se há uma voz que nos cala,
ouça bem o que ela nos diz
e se já não o faço feliz
tampe bem os ouvidos,

meu riso escurecido pelo tempo
não te quer mais chorando
porque o amor que fora belo
hoje é tão pouco amor que tive

e se há de ser sozinho
leve a sensação de ser teu próprio caminho
e não esqueça-te de ser livre.

Vinte e nove de outubro

Já não há mais volta à minha volta
- pipas no céu, meninos de pés no chão
vento encobrindo as nuvens
gente dispersando a solidão...

Mas que belo dia de ausência.

Vinte e oito de outubro

Não olhe com teus olhos aflitos
observando as palavras frias as quais recito
meu poema pobre por tanto te amar,

não me obrigue a tirar a roupa
a esconder o sol para te ver voar

já não era hora de deixar morrer
um amor, que jaz ao chão, terminantemente inacabado

com o gosto de comida azeda,
com a boca seca...
envenenado.