segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Trinta e um de janeiro


Voz e consciência

- Você pode me escutar um momento?
- Adiante logo o assunto, o tempo é curto e a vida é longa.
- Disse para que eu fosse embora, mas por qual porta eu devo sair?
- Pois bem, faça o que se sentir melhor.
- É tão ruim pensar no seu melhor quando nada parece bom. Que tal promover uma enquete entre o desastroso e o irreversível? Não dá, é demais para mim. Eu sorria ontem mesmo da tua dor, eu zombei das tuas lágrimas como um menino do outro, fui rude, imperfeito como tal.
- Não há do que se envergonhar. Mostrou tua face, e por vezes, minha vontade era te esbofetear. Agora não mais, não há dor, apenas tédio do que seríamos.
- Assim então todo dia amanhecerá noite, vigiarei você como um farol à praia. Vou cuidar das tuas flores invisíveis, habitarei teus esconderijos e serei teu sonho realizado.
- Sonho? Aquele mesmo que vem a noite e acaba pela manhã? É assim que você sempre será. O nó desatado, a tatuagem falhada e desbotada. Meu motivo de angústia, medo. Aquele que nada me ensinou, mas que me fez ver melhor cada átomo de mim.
 - É um disparate tomar-me como algo que finda. Ora! Já disse, aqui estarei até o apagar das estrelas, e serei teu desta forma, até que se canse. E se isso acontecer, serei teu abrigo, tua casa de repouso, para que o amor mesmo dormindo, viva em nós.
- E teus olhos ainda serão dela? Lembrarás dela ainda? E o perfume dela, já se apagou? Ao revê-la, sentirá aquele frio na barriga e o velho nó na garganta? Diga-me, sonho antigo.
- Chamo-te de amiga, e teu corpo me basta. Estarei preso ao teu lado para viver nos teus átrios. Serei teu para que eu não seja mais dela.
- Esta nossa irmandade atrativa, esse calor que contemos um pelo outro e está alegria momentânea que há em nós, não vinga.
- Como sabes?
- Sei por cada manhã que surge, e nos traz um tempo distinto. Mesmo com chuva forte e muitas nuvens, atrás sempre haverá o sol sorrindo.
- O Sol, por vezes, queima. E esta dor, temo novamente ter.
- Poderá estar na chuva hoje, mergulhar em cada poça d’água que sou eu, cantarolar sob os pingos, mas isso passará. A água secará e o sol, ah... O sol voltará! E toda sua brasa esquentará novamente o velho peito, as palavras não serão mais as mesmas, elas crescerão, amanhã serão frases imensas que nunca exprimirão o que de fato são. São dois perdidos, dois amores contidos, dois verões intercalados. São o curso de um rio, o sopro gelado do inverno, são as saudades do canto dos pássaros que passaram e passarão. Amanhã de tanto não serem, serão. E de tanto tempo desunidos, em um único corpo existirão.
- Pagarei para ver. E pagarei com a minha solidão.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Trinta de janeiro

Eu jamais saberia
que tu entrarias na minha vida como uma represa rompida.
Que ficarias por cima da velha ferida como uma mosca,
atravessando meus sentidos de forma que, ao cair da noite,
seria a única companhia de quando estou só.
E eu jamais saberia que tuas mãos estariam sob meu vestido
e que tuas palavras soprariam em meu ouvido
as coisas que eu jamais saberia ouvir.
E, de fato, arrancarias meus medos,
abrigarias os segredos que eu já não temo contar.
E que sentiria a dor de quando estou perdida,
E que passaria uma vida
pra me encontrar.
E eu jamais imaginaria
que tu me embriagarias com meus próprios venenos.
E que nosso amor, ainda pequeno
cresceria de forma que andaria só.
Transformaste os dias em noites,
O silêncio em canção,
E o passado em pó.

Vinte e nove de janeiro

Ah, como foi bom ver a manhã nascer de novo
Com os sorrisos que eu não canso de olhar,
Mas que saudade que eu tinha dessas flores,
Dos meus amores que eu não canso de regar.

Vinte e oito de janeiro

Há uma maneira de encontrar a luz
Que há no escuro das nossas maneiras.
As incertezas andam certas demais
Catando brechas, testemunhas imparciais,
Voltei ao ninho, em desalinho
Hoje caminho, tão sozinho
Lendo palavras sem sentido nos jornais.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Vinte e sete de janeiro

Nada além do que seja, transforme
E nada além do disforme, seja
Porque o dia está quente e não tem cerveja.
Me deixa.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Vinte e seis de janeiro

Ah, que o mundo gira rápido demais!
Não vale a pena se agarrar a eixo...
Gira mundo, que aqui a gente muda do jeito que pode,
E, em relação à sorte, não me queixo.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Vinte e cinco de janeiro

E se o sol tivesse dormido mais tarde e eu acordado mais cedo? E se eu não tivesse tanto medo de te tirar pra essa dança? E se o medo que me prende é o mesmo que me faz criança quando, no entanto, eu queria apenas ter sido uma? E se o verão demorar um pouco mais pra acabar e essa demorar persistir? E se eu tivesse corrido em volta do mundo deixando todo o passado ruir? E se eu tivesse quebrados as correntes que me aprisionam ao céu, e que me fazem refém da liberdade? E se não me faltasse paciência pra ver tudo se enquadrar? E se eu não mais tivesse vontade de pintar esse auto-retrato todo cheio de rasuras? E se eu ainda fosse tua? E se o céu, encoberto de estrelas, viesse ao chão pra deixar tudo mais belo? E se os abraços que eu recebo fossem todos sinceros? E se os segundos resolvessem gravar as mentiras que eu ouço? E se tudo que há de concreto virasse as paredes do meu calabouço? E se nem os anjos souberem de mim? E se eu for apenas uma vírgula pro fim? E se o sol tivesse acordado mais tarde e eu dormido mais cedo?


Vinte e quatro de janeiro

Três da manhã e a música tocou. Retocou. Com o batom borrado de deitar no travesseiro, eu lembrei, como se ainda fosse hoje, agora, como se estivesse perto de mim como borboletas possíveis de serem tocadas. Não foram, nunca seriam.
De certa forma eu estava unicamente feliz, mesmo diante de tudo aquilo. Daquelas fotos, daquelas lembranças. Os dias sobreviveram a tudo, inclusive a mim.
Dói, às vezes, não o suficiente para eu me lembrar sempre, é raro teu pouso aqui.
Estou sendo gentil com aquilo que se faz breve em mim, mas que vai fundo, que se eterniza em simples sorrisos. Há na vida algo mais que o que há lá fora da minha janela. Estou eu aqui dentro, deitada sobre meus dias esperando, quem sabe, me tornar algo que eu possa olhar e sorrir. Você ainda sorri pra si?
Acho intrigante toda essa comida na mesa ainda, estas moscas por cima. Irrita-me tudo que me cerca, que me prende, que me vigia. Mas saiba, Deus, não espero que me nasçam asas porque, de qualquer forma, eu jamais conseguiria voar.
Você sabe... Meus sonhos ainda me pesam.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Vinte e três de janeiro

Encontro no fim da hora um pouco mais de liberdade.
Deixo o pouco que sobra, e o nosso futuro para mais tarde.
É tarde demais.
A lua já beira a rua, como o menino que pede esmola.
A vida é eterna surpresa, nesse mundo que é eterna escola.
É cedo demais.
O sangue que corre e que jorra
E os barcos que saem mais cedo do cais.
Nada vigia ou controla, não param-se as horas pra gente dormir.
O destino que haja na aurora, levanta o sorriso que não há de partir.
É lindo demais.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Vinte e dois de janeiro

Dezessete e vinte e três. Fazia exatamente três minutos que eu havia acabado o meu expediente, e nesses belos minutos de liberdade, eu arrumei a minha bolsa que, aliás, havia me custado uns quarenta por cento do meu salário do mês passado; peguei as chaves da porta de casa, sai do escritório, apertei o térreo no elevador e vi a rua.
A primeira coisa que eu fazia ao descer do prédio era parar na padaria que ficava em frente, pedia dois pães doces e uma Coca-Cola gelada, e vinha pelo caminho andando e comendo, e tropeçando por desatenção.
Como de costume eu passava na loja dos CDs. Vivia vazia. As pessoas não recorriam mais a essas lojas, já que no computador elas poderiam montar qualquer acervo riquíssimo. Sempre gostei dos CDs pela forma, o formato em si. Eu gostava de virá-los e ver aquela parte meio espelhada-brilhante-furtacor, sabe? Então, eu adoro aquilo. Às vezes me sinto como um CD daqueles, de jazz, claro. Meio espelhada-brilhante-furtacor, meio esquecida nos dias de hoje, rotineira, que vive rodando e rodando e sempre entoando as mesmas canções, transmitindo as mesmas melodias.
Saia sempre com um ar mais leve daquela loja, e tomava a rua que me levava até a esquina de minha casa. Eu ia em silêncio até dobrar a esquina, até todos reconhecerem instantaneamente aquela menina que havia crescido no mesmo endereço e que, de fato, não havia crescido tanto assim.
“Boa tarde, Luiza, tudo bom?!” – Eu podia ouvir até os postes me perguntarem. A resposta era sempre a mesma, saia por dentre os dentes:
“Está tudo bem sim, e você?“
Nesse momento em que a resposta era concebida eu ficava me perguntando, porque diabos as pessoas na rua perguntavam-me se eu estava bem, como se alguém, de fato, se importasse muito mais com eu estar bem do que com a educação em si. E eu, também preocupada com a educação em si, devolvia a pergunta, mesmo sem o menor intuito de saber se a pessoa está bem. Não me entenda mal, não é frieza ou amargura, mas eu tinha tanta pressa de chegar em casa e tirar esses sapatos apertados que eu jamais diria que eu não estou bem e contaria tudo aquilo que está me intrigando. Já pensou no tempo que eu iria demorar até explicar que eu não gosto do meu emprego e que eu ando mais sozinha ultimamente que o cachorro doente da vizinha?
Faltavam uns cinco minutos para chegar perto do portão de minha casa, quando eu ouvi a seguinte frase:
“ Moça, a senhora deixou cair.”
Antes de olhar para trás eu deixei aquela voz, tão doce, encostar-se às paredes da minha orelha, quase a acariciando. Era algo tão surreal para uma frase tão insignificante.
Então eu olhei, e era lindo. Um homem que aparentava ser uns vinte anos mais velho que eu, com os olhos mais azuis que o céu da manhã na hora em que eu acordei.
“Moça, essa chave caiu da sua bolsa, está ouvindo?” Então eu acordei da viagem mais longa que eu havia feito em tão poucos segundos, olhei vergonhosamente praquele homem e disse:
“ Ah, sim, é minha. Obrigada por me devolv..”
“De nada.” Disse ele, apressadamente, tomando um ônibus verde bem a minha frente.
O ônibus verde ia levando a maior emoção daquele meu dia.
Cheguei em casa, tirei os sapatos, abri os botões da calça, soltei meus cabelos, me sentei no sofá de frente à TV e assisti ao telejornal.
Na verdade mesmo eu estava repassando aqueles breves segundos na memória e achando-me tão patética a ponto de abrir uma garrafa de vodka e terminar no sofá mesmo o meu dia.
Então o telefone tocou e, como de costume, era engano.
Tranquei a porta e fui me deitar.
E sete dias se passaram, e era segunda-feira novamente. Dezessete e vinte e três e eu estava saindo do trabalho, indo comer pão doce e ver CDs.
Chegando à loja, fui direto à prateleira de rock ver as pessoas que gostavam de rock, sempre achei curioso todos aqueles que eram diferentes de mim.
E, pra minha surpresa, havia dois olhos azuis turquesa olhando um CD dos Stones com um sorriso de canto de boca. Era ele, eu sabia que iria encontrá-lo em algum lugar.
“ Moço, isso é seu?” Não havia nada nas minhas mãos, nem no chão.
Então ele me olhou sem entender e perguntou: “ O que é meu?”
“Você não vê?” – Perguntei sorrindo.
“ Não, não vejo. Vejo apenas a moça na minha frente.”
“E isso não pode ser seu?” – perguntei.
“Você? Eu não estou entendendo.”
“Faz uma semana que você me perdeu na rua ao encontrar minhas chaves, eu só quero me devolver, porque faz uma semana que eu olho para os lugares tentando me achar e te achar e encontrar uma maneira da gente se encontrar, e eu te encontrei.”
Ele parou na minha frente e sorriu com o canto da boca, dizendo:
“Eu nem sei o que te dizer, eu só estava aqui vendo CDs e você entã..”
“E eu então estou devolvendo o que você perdeu, não vai me agradecer?”
E ele continuava rindo com o canto da boca. Então ele ficou sério e me abraçou fortemente.
Saímos da loja de CDs com um álbum dos Stones e um de Amy. Ele tinha o cabelo meio grisalho e cheiro de perfume francês. Eu tinha o cabelo tingido de ruivo e cheiro de naftalina. E ele era tudo que eu sempre quis.
Viramos a alameda, conversamos até o portão de minha casa, quando o convidei pra entrar.
“Hoje eu não posso, mas preciso te ver mais vezes.”
O ônibus verde vinha se aproximando, e eu não questionei a sua decisão, até porque tudo que eu mais ouvia dentro de mim era: “Ainda é cedo pra amar.”
Então ele subiu no ônibus verde, tomou seu rumo, e eu entrei em casa.
Troquei o telejornal pelo CD da Amy.
“Will you still love me tomorroooooow?”
Peguei um CD antigo e fiquei por vários minutos olhando aquele lado espelhado-brilhante-furtacor. E era exatamente como eu.
Mas eu havia descoberto que o que eu refletia era algo mais que a luz das coisas, mas sim todos aqueles acordes. E tudo rodava e rodava, e dessa forma eu vivia.
E as semanas iriam passar e eu já não achava mais tão estranho as pessoas que gostavam de rock. E os anos iriam passar e eu nem achava mais estranho ser tão jovem.
E a vida iria passar e eu estaria condenada ao setor de achados e perdidos. Porque tudo na vida é perda, tudo está propício a sumir. Mas sei que hoje tenho uma certeza, de que há achados para tudo aquilo que, cuidadosamente, se sente perdido no tempo, como eu estive um dia. Como todos nós estivemos e estaremos até o fim, até encontrarmos o fim mais próximo para acharmos um novo começo.
“Will you still love me tomorroooooow?”
Quem sabe?


Vinte e um de janeiro

O dia hoje cheira à rosa,
Tão linda e especial como tu és.
Sinto-me agraciada pela honra de viver
De saber que sou uma parte de você.
E que o tempo só nos une,
E os teus medos e palavras, sei de cor.
Agradeço ao tempo por ter escolhido você
Pois nos teus braços não me sinto só.

Dedicado à minha mãe.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Vinte de janeiro

Ando em desalinho,
revirando o velho,
arrancando os espinhos.
Sei lá, há uma peça perdida.

Por um céu azul quase marinho,
um tempo quente, um vento ameno
um sol presente a desmoronar.
Sei lá, o tempo se tornou pequeno.

Ando beirando as entrelinhas,
sendo um pouco menos minha
Para ver se desse jeito deixo de faltar.

Há uma sobra, um rastro
Uma saída escondida,
Sei lá.

Dezenove de janeiro

Gotas breves,
frias.
Lágrimas tortas,
ventanias.
Fazia tempo que aqui dentro não chovia.

Dezoito de janeiro

Ele surge
Eu me distraio,

Ele se prepara,
Eu acostumo.

Ele pousa,
Eu perco o rumo.

Ele invade,
Eu me esquivo.

Ele acaba,
Eu sobrevivo.

Prazer, amor.



segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Dezessete de janeiro


Ah, o dia nasce belo como antes,
a vida passa num instante,
vejo a beleza inquietante no olhar,

Seja como for, seja como flor.

Perdeu a hora, o trem passou,
deitou-se mais cedo pra rezar
Doeu ao ver o seu penar,
mas vale a pena recomeçar,
E eu sei...

Seja como for, seja como flor.

Seja sempre assim porque o amo.
Não te afaste de mim, 
pois num breve fim
o que era eterno
vira engano. 

Dezesseis de janeiro


Sorri,
você já não está aqui.
E não dói,
não faz mal algum.
Fez-se doce o velho azedume,
dei de cara com o futuro tão belo,
aprendi a trilhar um novo caminho.
Agradeço ao vento que passou e levou,
e os rumos que a vida tomou,
me afastaram do teu falso carinho.

(Ao som de "Olhos nos olhos", Chico Buarque)

sábado, 15 de janeiro de 2011

Quinze de janeiro

Se hoje fecho os meus olhos
se sinto o que vejo
se o tempo e desejo nos deram um nó,

Se a tormenta da noite, se o pó dos momentos
se o canto dos pássaros já não nos soa,
eu vejo de longe o meu desejo
retratado em outra pessoa.

Porque foste o segredo que eu sempre guardei
O silêncio da chuva que eu não me molhei
Se hoje fecho os meus olhos
Se sinto o que vejo
Ignoro o silêncio do nosso desejo.

Porque foste sagrado,
Por que tinhas que ir?
Nessa chuva em silêncio,

Hoje quero dormir.

Quatorze de Janeiro

Esqueça, bem
Esqueça-te de mim.
Perdi o sono,
Troquei meu trono
Pra reinar teu fim.

Enfim...
Somos dois perdidos
Calados pela voz de tudo que dissemos,
Resta ainda, resta um,
Mas o jogo, nós dois perdemos.

Já não lembro, é verdade
Te busquei no vale da felicidade,
Descobri um precipício,
Era doce no início
Mas até o doce tem sua validade.

Já não me lembra, e digo amém
Que nos teus braços vive outro alguém
Mas há um laço, que desfaço
Cada vez eu te vejo,
Bem.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Treze de janeiro

Só te enxerguei quando cobri meus olhos,
era tão cedo ainda, mas havia uma lua sobre ti.
De certa forma continuamos distantes,
mas dentro da sutileza de cada instante, te tenho aqui.

(ao som de "Hoje a noite não tem luar", Legião Urbana)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Doze de janeiro


Ah, que deste céu vem o castigo
e quantos pra este céu agora estão indo?

Quantos destes pingos são lágrimas órfas de quem chora lá fora?
Há um povo que chove tão fortemente
que não há quem não sinta o que de fato eles sentem.

E será? Será que na correnteza dos dias,
há um fio que segura o solo das suas mentes?
Quem é capaz de suportar o vento quando já não existem raízes fincadas?

E a chuva, tão bela, castiga.
E carrega as pequenas saídas
dos que já não tinham nada.

Onze de janeiro


Existem palavras que se calam
olhos que se perdem,
bocas que se unem.

Existem rios que já não correm
mares que transbordam
segredos que nos punem.

Brisas que não ventam,
amores e lamentos.
Silêncio.

Gotas que não caem,
olhares que se distrem
Voz.

Existe sempre um "eu" perdido
um par oposto, um amigo
pra chamar de "nós".

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dez de janeiro

O céu azul a colorir
Brotar da flor do teu florir
E eu sei,
E eu sei
Vamos passando pelos dias sem dormir.

Madrugando,
 indo além
O vi sorrindo, sem ninguém
E era lindo e me chamava discretamente.

E era forte demais para eu repousar,
Levaste minha alma consigo
Tive medo do seu perigo
Mas eu sei,
e eu sei.
Estás comigo.


E sua inconstância tão constante
Levando e trazendo a todo instante
Faz-me pensar em tudo que vivemos.

Das suas histórias, desconheço.
Pelos teus movimentos, tenho apreço
És um bom acolhedor.

É pra este mar que eu retorno
Escrevo este poema de qualquer modo
Pra eternizar meu breve amor.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Nove de janeiro


Se hoje te tenho por perto,
amanhã já não sei mais.
Entrar numa guerra contra os meus sentidos
é a única maneira de encontrar a paz.

Se hoje te vejo ao meu lado,
amanhã só meu resta o vidro fumê.
Nessa guerra contra os meus sentidos
tenho como aliado e inimigo,
você.

Se hoje não te tenho e te enxergo
Saberei que fizeste por merecer
E com a vitória, deixarei esta guerra,
que ganhei ao me render.

( ao som de "Will you still love me tomorrow" Amy Winehouse)

sábado, 8 de janeiro de 2011

Oito de janeiro

Saudade saudosa sedenta
do beijo do tempo da vida
do sorriso do cheiro de margarida
de tudo.

Hora dia minuto
Ah, ainda me falta paciência pra esperar
o tempo se apressa, minha lembrança regressa
pra onde eu não posso chegar.

Deixo que a canção me embale de lembranças
Preparo-me pra caça, aqui jás a lança
vejo-me como presa a fugir.

Tu estavas aqui tão certo
mas já não peço pra te ter por perto
Hoje é a minha vez de partir.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sete de janeiro

Há um ano que trouxeste minha alegria,
no teu sorriso eu encontro a paz.
Tu que nasceste no mais belo dos dias,
Hoje vem a mim como um rapaz.
Juro-te amar como o campo às flores,
acarinhando teu rosto como sempre faço;
Nessa longa vida que se ergue, vou te proteger das dores,
te darei o maior dos amores ao guiar teus passos.

Dedicado ao Vitor.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Seis de janeiro

Venho remando
sei,
há um mar aberto aqui dentro,
ondas de puro encantamento,
que quebram diante dos meus olhos.

Trago boas notícias em breve - Soprou o vento lá fora
Há barcos à vela que se movem à noite,
vidas que dormem na aurora.

Há histórias que não tem fim,
Veja bem.
Quem sabe o barco retorna
com o vento que venta na aurora...
Quem sabe não volta ninguém.

(ao som de "Cannonball", James Blunt)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Cinco de janeiro

Será tão difícil enxergar
Já que eu estou sempre a sua frente
abrindo o caminho pros teus passos?
Quando eu menos espero, tropeço
e você vem atrás me dizer que há sempre um caminho pra mim.
Será tão difícil enxergar que a distração acabou,
e que de tudo restou apenas o fim?

Caminhos, às vezes, são nossos próprios abismos,
nossos mesmos deslizes,
nossos próprios pecados.

Há quem reclame do dia passar de pressa,
da vida não parecer uma festa,
Do tempo ser um grande buraco.


(ao som de "Yesterday", Beatles)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Quatro de janeiro

Molhava-me aos poucos,
restava apenas o que me restou
das brechas, arestas,
do tempo que passou e eu jamais vi.

De ti, aos poucos, me perco.
Falta o que me falta de aconchego.
Perdida, encontro-me tão sã agora,
com os feridas tão vazias quanto às horas.

A chuva fina regava as flores da janela,
de onde eu vejo tudo aquilo que não me enxerga.
Um breve sol, tão tímido, passou deixando em mim um sorriso
E aos poucos, sinto falta do céu limpo.

Há tantas coisas das quais sinto falta,
e tudo a minha volta parece gris.
desculpe se me falta ânimo pra levantar dessa cama,
é que o cinza do dia não me faz feliz.

(ao som de "Evaporar", Los Hermanos)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Três de janeiro

Calada, a canção voltou a tocar.
Era madrugada, o ar estava fresco,
os cavalos-marinhos soavam na melodia,
me carregavam pra perto de ti.
Não havia mais o velho acorde,
nem o bom dia.
Ao acordar, seria um novo e velho dia.
Sempre desta forma, e nada mudou.
A poesia nasceu da vontade de que fosse verdade
do tempo que, estagnado, me manteve parada.
Hoje se eu lembro, te esqueço na beira do mar das saudades
Ando fazendo do tempo a minha estrada,
e as palavras dessa madrugada, minha viagem.

(Ao som de "Vento no Litoral", Legião Urbana)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Dois de janeiro


O Lula lá já não está.
Ele acordou em outro ar, num concreto realismo,
longe das luzes do Planalto, onde fora o seu lugar.

O Lula lá já não está.
Vestindo saias, o poder hoje acorda cedo
Dando início a um novo enredo
onde o povo só espera não sambar.

O Lula lá já não está.
Há companheiros órfãos por todo lugar.
Calçando salto alto, hoje o poder aprende
a se equilibrar.

O Lulá lá já não está.
E há quem diga que lá sempre o vê.

Por trás das cortinas,
à frente da orquestra
nos bastidores dessa tv.

Hoje começa um novo início.
e o que foi marcado ficará.
Há mãos de mulher sobre o estandarte,
Mas o Lula lá ainda está.


( ao som de "Roda Viva", Chico Buarque)

sábado, 1 de janeiro de 2011

Primeiro de janeiro

De longe a tarde cinza desce,
da mesma forma em que se vão as preces,
beijando as águas carregando olhares.

Do céu se ergue um coral de pingos,
cantando o início de um manancial de vida
Eis que aquele que se fez passado
abriu entrada para uma nova saída.

Deixar estar, let it be!
Brilham as luzes do alto, não tão vibrantes como a esperança que se acende:
Dos dias que surgem, das madrugadas que clamam,
dos anjos que olham pela gente.

Deixa estar, let it be!
Hoje ao acordar havia um dia cinza numa tarde alegre.
E eu, que parada estive a esperar a correnteza,
hoje só espero que o vento me carregue.



(ao som de "Let it be", Beatles)