segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Vinte e oito de fevereiro


Eu me encontrava num ponto tão particular. Um epicentro. Havia tantas novas idéias armazenadas, uma realidade nova surgia como o sol pela manhã.
Sol pela manhã. Assim haveria de ser, eu sentia que vieste para descongelar meus verbos, minhas frases. Não há nada mais lindo e humano que aquecer.
Tenho medo de gostar demais do frio. Sabe quando se sabe que no fundo, bem no fundo, há um vácuo de razões, tão vasto, que a gente mal consegue olhar? No fundo de nós há sempre um precipício, e talvez eu esteja lá, deitada, olhando estrelas como sempre faço.
Eu tinha admiração demais, algo que chegava a se exaltar ao ver tão simples coisas, como se eu olhasse poesia em todos os lugares, como se Neruda tivesse escrito nos meus olhos o mundo lá fora... Eu também via sujeira, e era bela! Porque no fim de tudo eu sempre me deparava com os ciclos, e essa foi uma das melhores constatações que pude fazer. Ciclos.
Você nasce, floresce, evapora. Menina, flor, chuva. E você cresce, desabrocha, armazena-se em camadas. Menina, flor, chuva. Enfim, você morre, murcha e chove, menina, você sempre chove. Eu sentia isso, aos poucos, mas sentia. E não havia estágio intermediário, era algo bem mais complexo pensar em ciclos, pois era impossível prever aonde eles terminariam e qual seria a última gota de toda essa chuva. Vai dizer que isso também não o assusta?

Vinte e sete de fevereiro

Será possível que,
Sempre ao esbarrar nos seus olhos,
Minha mente pedirá aquilo que minha boca recusa dizer?
E vai ver isso seja o motivo de tanto silêncio em meu peito.
Desde já, quero não mais recordar das frases que eu disse
Pois o amor, já que existe,
só mal me tem feito.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Vinte e seis de fevereiro

E não há palavras
Pra dizer o que eu sinto
Nessa noite, tudo passa,
Mas eu fico.

E não há segredos estampados
Entre as mentiras que eu digo
Nessa saudade, uma certeza,
Sem você não vivo.

Dentro de todo esse clichê
Explico-te sucintamente
Que não há palavras ou segredos
Pra falar da gente

Qual de nós sabe voltar atrás?

Somos um eterno e delicioso leva e traz,
E ele sempre será a parte que me cabe de mim mesma. 
A mais antiga das histórias,
A mais bonita das memórias:

" - Me beija. "

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vinte e cinco de fevereiro

Caminhar é sempre deixar para trás.
E deixar é sempre perda.
A vida que parece não se importar
Torna-se a mais perigosa passagem
Para aquele que nunca chega.
Porque caminhar é sempre deixar para trás.
E deixar é sempre um conquista.
Há de se convir que, com as mãos vazias,
haverá sempre um novo passo, um novo dia,
Um novo destino em vista.



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Vinte e quatro de fevereiro

Encontrei teus olhos perdidos na noite,
Foste a maior descoberta que pude fazer
Quando, ainda em silêncio,
Ouvi o que sua alma dizia.
Encontrei teus planos perdidos no dia
Fizeste morada em meus sonhos
Quando, ainda acordada,
Pude ver o que me esperava nessa vida.
E quando encontrei motivos para fugir
Quando pude, enfim, me libertar de tudo que me fazia perdida
Abri as portas, fechei o mundo
E encontrei em você a saída.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Vinte e três de fevereiro

De tudo que conheço, levo o breve, o instante que se cala tudo em que se ouve, porque as mais lindas coisas são ditas em plena ausência de som. E mais vale o tempo que dorme, que paira no vento feito borboleta, que aquele que é escrito antecipadamente, com a mais fiel das canetas. Porque, se há na vida uma certeza, é de que nada se apaga.
Se há algo do qual temo, aprendi que, aos poucos, o temor vira marca, e que somos todos um conjunto de marcas, todas intactamente preenchidas, escuras, que nos tornam exatamente o que somos. E mais vale o que se é em segredo, que aquilo que se mostra, sem medo, aos olhos alheios.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Vinte e dois de fevereiro

Por saber dominar aquilo que conhecemos por palavras,
só me cabe invejar cada vão silêncio que me abriga.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Vinte e um de janeiro

O pouco que sobrou é muito.
É tão pesado carregar o teu fardo pra todo lugar...
O mistério do teu olhar voltado pra Saturno, os anéis te dei avulso
                                 Não sei bem como vou poder te dizer essas palavras.
Alivia essa dor,
que no meu peito ficou,
mas agora é você quem me dói mais.
Te espero na alameda às seis
e de que jeito você pode perdoar
essa minha mania de errar quando parece que tudo enfim está bem?
Oh, meu Deus, eu já não sei como rezar,
Para me perder basta caminhar,
Nessa tua vida que eu fiz morada,
há que diga que essa vida é só estrada
Oh, meu Deus, mas que fim irá levar?

Vinte de fevereiro

Distância:
Ah! Essa saudade que não cabe
nessas gotas que escorrem
entre o vão dos olhos.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Dezenove de fevereiro

 Vejo-me morar na sua leve mentira,
saborear as tuas velhas histórias.
Já que elas não terão um fim que me inclua,
e essa escura rua é nossa única memória.
Por final, seremos apenas isso que vejo,
pequenos enfeites empoeirados na estante
arranjos de flores artificiais.
Ah, mas como a gente tem murchado aos poucos!
 A noite vem calada, cantando pelos lados o tempo que ecoa
que se levanta sem o menor sentido,
já que, meus ouvidos, 
não escutam a mesma pessoa.
Tão fresca, a noite se esconde nos sonhos que parecem envelhecer,
Sinto muito, 
mas já não sei dos teus passos,
É tarde demais para amanhecer.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dezoito de fevereiro


Aquele olhar que cega vi,
no entardecer esteve aqui
como uma brecha de luz,
entre a noite que vinha a sorrir e o dia que enxugava os olhos.

Quando dei por conta você estava em mim,
fazendo sua morada entre meus sonhos,
escrevendo a minha história com sua caneta afiada,
diretamente apontada pro fim.

Agora é o tempo que reconhece,
as estrelas que recordam todo entardecer de outrora,
contando umas para as outras da beleza que aqui havia
do tempo que a gente não vivia indo embora.

Dezessete de fevereiro

Por enquanto é a música que toca,
O rio que corre sem pressa
Os pássaros que andam em bando.
E, aos poucos, finca raízes, ainda que tortas
Vem abrindo todas as portas
Que só me condenam.
Por enquanto eu acordo em cima de um rio
Ouvindo pássaros que tocam a música que me desperta,
E que, no entanto, me faz sonhar por cada momento
Fazendo-me desta pequena metade,
Completa.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dezesseis de feveireiro

Voou tanto que, de tanto vê-la voar,
Tonto fiquei.
De pousar meus olhos no azul da sua leveza,
Que, para minha tristeza,
Era leve demais para mim.
Do bater dessas asas fez-se o vento,
Que consegue mover cada sentimento que ainda existe,
Hoje, vivo essa fantasia, de olhar para o céu 
todo dia
Desde o dia em que sumiste.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quinze de fevereiro

De todos os motivos
Tu foste o mais exato,
O mais coerente,
O mais plausível.
De todos os segredos
Tu foste o maior dos medos
O mais perigoso
E inesquecível.
De todos os erros
Foste o mais amargo,
O mais cruel
E desejado.
De todos os caminhos
Tu foste o mais curto
deserto
e errado.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Quatorze de fevereiro

Ouvi dizer que o tempo corre
E, com os pés amarrados,
tudo que seria nascido, no tempo, morre
tudo que fosse perdido, no tempo, era achado.

Porque as horas são tão belas vírgulas
Partículas infinitas de instantes entrelaçados
Porque o tempo, ora, não deixa saídas
Mas há entradas por todos os lados.

E a espera continua parada lá fora,
Com os olhos voltados para o amanhã que vem
A vida brinca entre o presente que se deita,
Entre o tempo que não respeita ninguém.

Treze de fevereiro


Mentiras escondidas em tão distintas rimas
Que não respiram,
Que não pulsam
Que nem rimam.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Doze de fevereiro

Ah, que doce solidão essa de te ter aos poucos,
como se a vida fosse passar sem me dizer
que, às vezes, nós calamos a vontade, uns dos outros,
pra gritar nosso sufoco que dá medo de querer...
E é por prazer que a gente escolhe
a estrada que nos leva até o amanhã seguinte.
É beirando o horizonte pelas curvas,
que a vida fala, mesmo muda,
e é sempre boa ouvinte.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Onze de fevereiro

Não dá pra ser assim
Quando, de repente,
Se esquece de mim
Mesmo que somente
Revelando este fim
E que, de repente,
Deixou se ser assim.

Não sei se lá no fundo
Há um rio nesses olhos
Que eu me afogo e perco o rumo
Sou seu e sei que todas as partes
Desse encaixe
São perfeitos para que a gente viva bem.

Olha só, os teus defeitos,
Eu não ligo, 
dou meu jeito,
Que é pra gente aprender
a ir além.

Dez de fevereiro

Ai deste desafeto,
Que não quer me ver por perto
Não se enquadra mais em mim.
Foste amor, mas num tempo mais secreto
Que deixou de ser eterno
Tão cedo assim.
Se queres que eu aguarde o tempo passar,
Pra voltar a me olhar
Com olhos de carinho...
Saiba, meu bem,
Que aprendi a caminhar,
E hoje consigo mergulhar
Nesse mar de ser sozinho.

(Ao som de "Dois barcos", Los Hermanos)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Nove de fevereiro

Ao esquecer os desejos, retoma-se o perfume das coisas pequenas, aquele cheiro de Alfazema da velha camisa. Ao pertencer a um sorriso, retoma-se a meta de perder as saídas. E há quem diga que o amor não dói...
Ao levantar vôo com os olhos pregados em outros, naquele breve momento em que nos tornamos uns loucos, todos sãos de tanta idolatria. E tudo parece se desenquadrar, a noite e o dia tornam-se um par. E há quem diga que o amor não pira...
Ao nos depararmos com as  histórias antigas, registradas em fotografias, marginalizadas pela distância que cada uma delas nos trazia, era possível viver novamente aquele ontem tão distinto, tão deixado de lado pelas bordas desse novo infinito. E há quem diga que o amor não cheira a naftalina...
Ao despontar da faixa de largada, o que antes fora nada, torna-se o eixo de tudo. E o grande círculo desse mundo parece não mais girar, enquanto ouvimos valsas, violões, melodias tão belas. E os barcos estacionam no mar, e os pássaros deixam de voar, e tudo aquilo que nos aprisiona é um olhar. E há quem diga que o amor é cego...
Ao reviver nestes braços, sentir de novo o mesmo cheiro, ao retocar o tempero que nos enche de sabor novamente... Ao contar para toda essa gente que o tempo se fez inútil e que a distância se fez nula, entendemos que está dentro da gente aquilo que a gente procura. E há quem diga que o amor nem existe.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Oito de fevereiro

Dos solos daquela guitarra partiam
palavras escondidas em notas, tão soltas
tão remotas diante dos dedos daquele que lhes davam vida.

E, diante de todas as palavras, eu encontrava
uma forma distante de entender o que você dizia
e era tão parecido, mas tão diferente,
Tal qual a noite e o dia.

Mas sabe, haverá sempre melodia no que dizes,
Veneno nos deslizes,
Sempre você nos meus dias felizes.

Sete de fevereiro

Quem não conhece que se espante,
A linda tarde vem flutuando num romance que a embale
Ah, está tudo bem.

Não tem ninguém me esperando
Nesse fim de estrada torta
Onde há uma curva, quase morta
Onde a vida tenta alcançar.

E na chegada,
Só resta o pó
E quem viver, a de ver  
o quão só
Eu sei chegar.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Seis de fevereiro


Como se soubesses mentir sobre o tempo
Calaste os momentos num golpe veloz,
Como se o tempo não fosse os momentos
Gravados do que sai de tua voz,
E eu saio à noite a procura,
De te deixar por onde passo
Desculpe, mas o samba hoje está triste
Se for pra chorar eu mesma faço.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cinco de fevereiro

Qual razão tu tinhas,
De escrever nas entrelinhas
Coisas que, mesmo minhas,
Te fariam voltar?

E qual motivo guardavas
Do tempo que me amava
E que hoje volta a perturbar?

De qual gole de mim pretendes tomar?
E qual parte de mim quer te pertencer?
Sinto muito, mas já não sei aonde quero chegar
E se posso embarcar nesse breve prazer.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Quatro de fevereiro

Sei que a gente finge que esquece,
E numa breve prece, a gente lembra
Como a se a tormenta fosse pouca, deixando louca
Essa nossa saudade que aumenta.
No fim da tarde, olhos se põem
Deixando de lado esse curto verão.
Esqueça o que ficou,
pois nosso trem desgovernou
na contramão.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Três de fevereiro

Embora te fira, nem sempre há dor
E embora estragado, nem sempre mal cheira
E o tempo, que cego destrói
Também reconstrói as antigas barreiras.

Dois de fevereiro

Por mais que haja silêncio em toda parte,
E que não se explique esta falta de coragem.
Nós nunca estamos sós
quando temos diversos nós
dentro de nós mesmos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Primeiro de fevereiro

A cabeça estava voltada pro píer e eu sabia exatamente o horizonte que eu queria enxergar. Sabe quando você sabe o que quer enxergar e o que realmente enxerga? Eu era completamente inventiva, diria até uma artista plástica, cênica, dramática; tudo era montado, formado, adaptado. Talvez eu fosse apenas louca.
Por mais que eu cavasse e perfurasse todas as barreiras que me cobriam, eu sabia exatamente no que esbarrar, sabia exatamente aonde me doía, e era sempre no mesmo lugar, bem antes da base, antes mesmo da parte mais profunda que eu tivesse. Era aquela camada superficial, sempre cruelmente perfurada por desavisados que não sabiam o quão sensível eu podia ser por trás de toda essa loucura inventiva. E eu criava camadas cada vez mais grossas, com grades, alarmes que tocavam ardorosamente quando um desavisado resolvia se aproximar. Ah, meus amigos, vocês não sabem como é estar soterrado por várias camadas e continuar vivo. E é por isso que eu não me canso de cavar, escavar e fazer buracos.
O mais engraçado disso tudo é que a minha proteção me doía, porque eu aprendi com o tempo que as coisas passavam rápido demais e resolvi não me deixar passar rápido demais. Algo completamente impossível, de forma que, a gente nunca muda, mesmo não permanecendo igual, e isso é uma arte única. Era complicado saber que eu me protegia de mim mesma, da mesma que eu tanto quis fugir, não vingar, correr... Eu sabia exatamente o meu ponto fraco e isso era um perigo.
Posso dizer que viver presa nessa película invisível me tornou forte. Que a sorte me tornou distraída a ponto de não me importar com ela. Que o vento me mostrou que a leveza das coisas encontra-se na parte pesada que se deixa libertar. Que os dias me mostraram que as dores são remédios cheios de contra-indicações. Que há sempre cura para o coração que bate por uma causa. Que não há tempo que explique como os sentimentos se libertam todos loucos procurando seus respectivos donos até descobrirem que nunca existirão donos. Que os sentidos, às vezes, falam mais bonito que as palavras dos tão valorizados sentimentos. Que o mundo é realmente um moinho e que toda esta lama um dia te suja de alguma forma, não adiantando tentar vestir branco o tempo inteiro. Que aqueles que não te dizem muito, podem te ensinar muito sobre você em silêncio.
E eu fico aqui sentada com todos esses pensamentos e o mundo trapaceando lá fora antes que eu possa levantar a minha voz e contar pra todos esses mesmos pensamentos, que passam aqui dentro e que não se calam.
E o que dizer a vocês enquanto essas questões não se resolvem? Que eu vou levando do jeito que posso, do jeito que sei. Que as estações me trouxeram um pouco de verão, mas que me ensinaram a ser inverno. Que eu brinco o tempo todo porque dessa forma eu memorizo, eu só guardo os sorrisos que arranquei. Que as flores e as estrelas são as coisas mais lindas que eu vejo e que eu me identifico com os pingos da chuva. Que eu me apaixono e trapaceio, que eu erro e peço arrego, que eu sei pedir licença, mas não lido bem com pontos finais. Sabe, meus caros, o mais duro foi ter nascido coração demais. É foda ter que bater na própria porta todos os dias pedindo pra sair um pouco. Mas eu sou assim. As camadas também, cascas, casa, como preferirem chamar.
E por mais que doa, eu estou sempre sentada no píer, com a cabeça voltada pro horizonte, observando e ouvindo o som do mar. E eu sei que as ostras também são camada, casca, casa, como preferirem, mas elas abrigam as tão preciosas pérolas, e esse é meu maior consolo.
E não há nada que me cale, a não ser a minha própria voz dita quando não se explicam as próprias palavras, elas são infundadas demais para todos os sentidos que busco. Vivo na eterna busca de me perder lentamente, o meu desejo é deixar de ser aos poucos. Afinal, sou tão leve que não me permito parar... Vento todos os dias.

(Ao som de " The blower's daughter", Damien Rice)