quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dezessete de agosto

Um bando de desculpas tortas num amor sem linha. Era assim a nossa velha e bela história, e com o tempo, ela ainda é assim, mesmo sem ser escrita.
Desde quando o sol se apagou para mim eu vejo o brilho nas coisas que me fazem sorrir, em simples abraços e em doces, mas, não calorosos, beijos. Eu sinto, no fundo mesmo eu sinto tanto uma presença estranha, como um fantasma, um ser escuro, apagado, porém intransigente ao tempo, imóvel e imortal, soprando bem perto os meus ombros.
As transformações sempre me tornam a mesma coisa, eu ando para frente e me esquivo para trás, como se eu houvesse de colher uma flor que foi esquecida, que foi deixada de lado. A flor está morta, murcha, seca. Ela foi arrancada há tempos, ela vive presa dentro de um livro fechado, completamente amassada e marcada pelo tempo e pelo peso de quinhentas páginas. Há seu perfume espalhado por todos os lados por onde ando. Há rancor, tristeza, saudade. Há beleza no passado, intrigando o presente, e desde já, assustando quem pensar no futuro.
Tudo pode acontecer – mas é claro!
Mas nem tudo me é conveniente, provável. Eu moro onde moram as ondas frias quase monótonas de tão curtas e paradas. Moro onde mora a luz azul no fundo do mar, onde mora a chuva que transborda e faz rir, onde mora a calma, a discórdia, onde se sacode a perna violentamente num gesto inquieto, irritantemente intrigante. Moro onde mora a dor, os sorrisos, a perda, onde a falta é anfitriã e a beleza é tudo que cerca. É a casa escondida, onde se prende tudo que se ama, tudo que vira pó.
E tudo vira pó. Extingue-se, perece. As mãos prosseguem sujas, atadas, como se fossem amarradas por um laço invisível de lembrança, onde já não se sabe até quando vai prender-nos.
Há uma flor morta para trás, eu ainda sinto. Não me faz sentido ela já estar morta, eu a toquei tão poucas velhas, mas eu errei em não roubá-la do chão para mim. Hoje talvez ela estivesse presa ao meu livro, ainda não escrito, haveria ainda um perfume doce e nada esquecido por onde eu andasse, em cada passo, torto ou firme, que me lembrasse alguém.

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