domingo, 31 de julho de 2011

Trinta e um de julho

Faça uma pausa. Não espere agosto chegar ainda, por mais que falte tão pouco. Falta pouco para gente enxergar tantas coisas que por tanto tempo pareciam sombrias. O agora e o depois se misturam, e eu já não sei a quem segurar.
Desfaça um nó. Dê uma volta e meia no tempo, tire-o para dançar. Zombe da sua demora, pois sua pressa é tão perceptível que, aos poucos, a gente nem nota. É tão comum eu deixar de notar as coisas que ficam por muito tempo em minha frente.
Regue uma flor. Veja seus atos murcharem ao se depararem com uma consequência. Mova a cabeça para os lados em sinal de não, mesmo que ele soe como um sim aos ouvidos alheios. Tudo quero se já não tenho, mesmo que eu já esteja de barriga cheia.
E são tantos verbos no infinitivo que eu já não sei aquele que conjugo melhor. E não saber também é uma forma de conhecimento, de auto reconhecimento, de humildade. Deixei-me, embora aflita, partir-me sem rumo, buscando no final do dia um local seguro, uma brecha abraçada na lua, com os olhos fixos na Terra, tal como uma estrela. E hoje vejo, tão transparentemente as almas alheias, que me dói ter olhos. E por tantas vezes tentei arrancá-los, tentei esmagar esta vã memória, este inundado coração que não pulsa como antigamente. É como se eu não soubesse o meu próprio caminho, mas o trilhasse com tamanha certeza, com um giz eterno de sutileza, com minhas mãos tão cheias de futuro.
Mas ainda não chegamos em agosto, meu bem. Faça uma pausa no tempo, para que eu possa respirar. E tira esse nó do meu peito, para que eu volte a pulsar como antigamente. Mas não venha regar minhas flores, ainda é julho e nós continuamos distantes. E do alto da lua vejo-te o mesmo de antes, mas teus olhos já não são brilhantes, tua vida anda pulsando solidão.


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