terça-feira, 21 de junho de 2011

Vinte e um de junho

Eu vivo esperando a curva adiante, o passo seguinte, a respiração que sucede a outra. Esperar é um ato perigoso. É um tanto assustador ver aquilo que ainda não é visível aos meus olhos. Eu sempre gostei de ficar com os olhos fechados.
Faz tempo que eu sigo sentada na beira dessa calçada esperando as folhas do outono caírem, uma a uma, enquanto penso em tudo que me transformei enquanto elas iam se desprendendo dos galhos. O tempo passou tão depressa, arrastou os montes de areia para outros lugares, e eu já não vejo as velhas dunas que minha memória foi se encarregando de formar. Eu aprendi a ventar sem querer. Fui me sedimentando, me separando, deixando ir embora cada vã partícula que em mim havia. As partes de mim já não eram eu? 
A gente nasce uma vez de outra pessoa, mas nascemos todos os dias de nós mesmos. Estamos despindo nossas cascas, polindo nossa superfície pontiaguda. A gente se esculpe aos poucos. Então eu vou esperando ser um pouco menos de mim, para me tornar um pouco mais de mim. Vou me deixando ser, para deixar de ser. E ser de novo e continuar não sendo. E é bom não ser. Heráclito não era. 
Esperar é uma condição imortal. Uma vez adquirida, a gente jamais perde; é como aprender a contar. A gente vai contando os dias, as horas, somando os atos, os feitos, esperando. Esperar um fato é diferente de esperar de si. 
Esperar de si não requer tempo, requer apenas saber não esperar. O tempo de si não tem molde, porque ele não existe. Esperar de si é ver até onde você se torna aquilo que você já não é. Aquilo que você é.
A grande verdade é que nós esperamos por nós mesmos todos os dias, sentados nas calçadas dos nossos pensamentos, vendo nossas folhas caírem, as nossas dunas voarem, os nossos cabelos esbranquecerem, nossa pele avisando que esperar cansa. 
E esperar por si mesmo é viver.



Um comentário:

Camila Brasiliense disse...

Muito lindo, Mari *-*