domingo, 27 de março de 2011

Vinte e seis de março

Eu te deixei no ponto mais longe para que eu não pudesse tocar quando sentisse frio. Retoquei a minha máscara de ferro com maquiagem azul e fui dançar com o vento na esperança de que ele me levasse para os lugares mais quentes, para onde minha memória repousasse como uma gota de chuva em uma folha. Era inútil imaginar uma vida sem você, sem as coisas que você me trazia, o cheiro de rosa do seu sorriso no fim da tarde, toda a sua ingenuidade ao dizer que não sabia mais o que sentia por nós.
É incrível, mas a gente sempre se pega num momento como esse pensando o que se passa conosco. Quando o beijo deixou de ser carinho e as palavras deixaram de ser música. A linha tênue entre continuar alguma coisa e progredir alguma coisa. Alguma coisa como nós.
Na verdade, com toda a pureza das verdades, eu te amo um pouco mais que ontem, quando te conheci naquele ato improvável e que tanto pesou-me. E é por isso que eu resolvi ir embora.
Acredite, não há como separar estrelas do céu, algas do mar, eu sempre lhe disse isso. Você sempre querendo dividir nossa vida em meses, em dias, horas. Eu só queria ali, agora, sempre, você não sabe como é viver de urgências, de instantes, é uma delícia, meu bem, e você não aprendeu.
E eu te amo um pouco mais que ontem, o suficiente para notar que já não gosto do seu beijo como gostei ontem, e que teu abraço já não é mais quente e confortável, mas eu te amo um pouco mais que ontem, e é por isso que eu resolvi ir embora. Há sempre a linha tênue entre persistir e confiar, e eu não tenho mais vontade de nada disso.
Vou compor canções falando de astros e cometas, mas longe da tua voz. Vou pintar rios e muretas, longe dos teus painéis. E sorrir chorando ao ver as crianças brincando nos parques, sem nosso futuro subindo e descendo nas gangorras. 
Sabe, vou aprender com você a fazer planos, você foi sempre mais feliz com eles que eu com meu 'instantismo'. Você foi fiel a eles até eu dizer que não iria mais brincar de realizar seus sonhos, que não, eu não seria sua fábrica de futuro.
E você precisa entender, é que eu te amo um pouco mais que ontem, o que me faz ser capaz de entender que, talvez, eu já não te ame mais.

2 comentários:

Anônimo disse...

você descreveu perfeitamente uma das coisas que ocorrem com as pessoas mas a gente não consegue entneder, perfeito demais esse.

Anônimo disse...

você descreveu perfeitamente uma das coisas que ocorrem com as pessoas mas a gente não consegue entneder, perfeito demais esse.